.Por Luiz Carlos de Oliveira.

Fiquei bastante ansioso para ouvir o discurso de posse de Bolsonaro. O que eu esperava dessa primeira fala aos brasileiros? Que ele dissesse que o Brasil precisava esquecer a campanha eleitoral com todas as suas rusgas e fake news. Que a partir de agora tínhamos que olhar para o futuro, almejar um Brasil grande, de oportunidades para todos.

(foto marcelo camagro ag brasil e titanic)

Que a oposição tivesse firmeza em sua atividade institucional para o aprimoramento da democracia, mas que visse o governo como uma instituição que desejava acertar; que fosse dado um voto de confiança ao novo governo. Que a base aliada se comportasse adequadamente, apoiando as medidas do executivo, sem esquecer, contudo, que o legislativo deve fiscalizar, propor leis, melhorar as matérias enviadas ao Congresso Nacional.

Queria ouvir do presidente eleito que ódios não teriam lugar no Brasil. O novo tempo era de pacificação e diálogo permanente com a sociedade e as instituições democráticas. Que haveria equilíbrio nas indicações dos ministros e ministras, escolhidos pela capacidade de levar adiante todo o ideal de um Brasil mais justo, democrático e desenvolvido.

Que um novo tempo estaria sendo inaugurado. Um tempo em que os interesses dos brasileiros seriam priorizados em detrimento de países estrangeiros ou de grupos políticos e econômicos de dentro e fora do Brasil.

Que a relação com o Congresso Nacional seria levado a um outro nível; o do diálogo, da transparência e do fim do toma-lá-dá-cá.

Fiquei esperando, atento, o aceno de um líder republicano, que não veio. Mas ainda restava uma esperança. Que o que faltou no discurso viesse na prática.

E vieram as nomeações: Damares Alves, pastora de ideias retrógradas e vacilantes, quase sempre pendurada nas goiabeiras teológicas. Ernesto Araújo, um desconhecido capacho dos Estados Unidos que se limitou a ser o ministro reserva, assumindo em seu lugar o deputado Eduardo Bolsonaro. Generais e oficiais das forças armadas, se juntaram ao vice-presidente também general num governo com uma quantidade de milicos nunca vista nem na época da ditadura.

Filhos de Bolsonaro e Olavo de Carvalho se esmeraram nas indicações e veio o colombiano Vélez Rodrigues para o MEC (Ministério da Educação) e junto com ele as trapalhadas e eternos recuos do governo, demissões, mudanças contrariadas. De proposta concreta só a da pastora Iolene Lima, Secretária Executiva do MEC, que indicada, nem assumiu o cargo depois de declarações desastradas sobre Educação baseada na bíblia.

O Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio (PSL/MG), logo se viu enrolado em meio a denúncias de desvio de dinheiro da campanha eleitoral, o chamado laranjal do PSL. Pelo mesmo motivo, caiu o coordenador da campanha do presidente, Gustavo Bebianno e ninguém sabe quem afinal foi o responsável pelos desvios de recursos do PSL de Pernambuco, se Bebianno ou se o deputado Luciano Bivar.

Como se não bastasse as denúncias contra o PSL, vieram à tona denúncias que recaem sobre o filho-senador Flávio Bolsonaro e seu ex-chefe de gabinete, Fabrício Queiroz, pego em operação financeira suspeita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Tudo leva a crer que havia uma “rachadinha”, nome que se dá à devolução de dinheiro proveniente de salários de assessores parlamentares. Até uma assessora do então deputado Jair Bolsonaro caiu na ciranda da rachadinha.

No Congresso a base aliada parece estar à deriva, como se fosse o gigante Titanic minutos antes do choque que o levou ao fundo do mar. O Ministro Onyx Lorenzoni, também alvo de denúncias de caixa dois, não consegue desempenhar um papel decisivo de articulação no Congresso. Foi decisivo apenas na eleição da presidência do Senado. Rodrigo Maia estressou com Moro, depois ficou ainda mais bravo com a prisão do sogro, Moreira Franco; ensaiou um rompimento com o governo, mas manteve o equilíbrio.

Enquanto isso, o general Hamilton Mourão corre por fora; Olavo de Carvalho xinga pelo Twitter e Carlos Bolsonaro manda recados em nome do pai nas redes sociais.

Jair Bolsonaro continua o mesmo deputado que durante 28 anos escondeu-se nos porões da Câmara dos Deputados, saindo das sombras somente para achincalhar mulheres, negros, índios e glorificar ditadores e assassinos.

Sinceramente, eu esperava mais do atual presidente.

Luiz Carlos de Oliveira é jornalista de Sumaré (SP)