limbo é o resultado de um processo de resgate das obras de José Rufino que estavam guardadas, perdidas, esquecidas, desprezadas, inconclusas ou apenas à espera de uma chance para aflorar pelas brechas das obras tidas como maiores, ou mais dignas de existência.
Estão expostos objetos que José Rufino chama de pré-obras ou proto-obras, além de esboços, maquetes, desenhos da infância e juventude, bem como resquícios de seu interesse, nos anos de 1980, pelas poesias concreta e visual e pela arte-postal. Essa espécie de rescaldo do limbo das camadas da criação cobre o intervalo de 1970 a 2018 e inclui também obras mais recentes, simplesmente pelo fato de terem voltado ao ateliê, depositadas em algum tipo de esquecimento.
Algumas obras produzidas nos anos de 1990 na Paraíba (Espaço Colonizado, 1992; Respiratio, 1995; Fructus, 1996), estão presentes como foto-documentos. Diante da enorme quantidade de obras, e mesmo de materiais à espera de uso nas mapotecas, caixas, arquivos ou espalhados pelos espaços de trabalho, José Rufino selecionou apenas algumas vertentes para a exposição, como obras sobre papel, pequenos objetos, caixas, livros-objeto e monotipias à maneira de Rorschach, pensando na revelação de alguns dos aspectos mais recorrentes de seu repertório.
limbo não é uma grande instalação, como Plasmatio (2002, Bienal de São Paulo; 2005, Museu de Arte Contemporânea de Niterói), Faustus (2010, Palácio da Aclamação, Salvador), Silentio (2010, Galeria de Arte Contemporânea Casarão, Viana, Espírito Santo), Divortium aquarum (2011, Usina Cultural Energisa, João Pessoa; 2012, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro) ou Ulysses (2012, Casa França Brasil, Rio de Janeiro), mas é, certamente, a manifestação do processo mais íntimo e complexo que José Rufino já enfrentou para a concepção de uma mostra.
Escavação e transmutação são ingredientes fundamentais de sua produção e se fundem a interesses por temas como corpo, passado, memória, saudade, morte, relação público-privado e oprimido-opressor. No entanto, para a construção dessa mostra José Rufino se lançou num grande desafio: passar uma peneira fina por todos os cantos do ateliê e catar as coisas que mais pediam – ou podiam – ser tratadas, restauradas, terminadas, datadas e levadas à existência de coisas de arte. Cada obra resgatada (cerca de 250), assume aqui a tarefa de complementar outra para compor um corpo só, um arquivo quimérico ou uma corda do tempo feita de fios de várias idades e diferentes matérias.
José Rufino – João Pessoa, Paraíba, 1965 – Artista e escritor, é também professor de Arte nas Universidades Federais da Paraíba e Pernambuco. É autor do livro “Afagos”, editado pela Cosacnaify, do romance ainda inédito, “Desviver”, que recebeu a Bolsa Funarte de Criação Literária, em 2009.
Participou de cerca de duzentas exposições, entre coletivas e individuais no Brasil e exterior. Entre elas: Dogma, na Central Galeria de Arte, em São Paulo, Violatio, no Museu da Escultura Brasileira, no CCBB/Rio de Janeiro, Aenigma na Galeria Milan em São Paulo; Blots & Figments, no Museu Andy Warhol, em Pittsburgh, EUA, e Faustus, no Palácio da Aclamação, em Salvador, quando ganhou o prêmio Bravo-Prime de melhor exposição do ano no Brasil. Participou da 25ª Bienal Internacional de São Paulo e das Bienais do Mercosul, Venezuela, Havana e Bienal do Fim do Mundo, em Ushuaia, Argentina.
Em 2016 ganhou o prêmio Mário Pedrosa, da ABCA, Associação Brasileira de Críticos de Arte, como melhor artista brasileiro contemporâneo. Atualmente é artista e também curador da Usina de Arte, projeto que transformou em polo cultural uma usina desativada, na zona da mata, no sul de Pernambuco. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Período da exposição: 01/09 a 18/11
Visitação: das 08h às 19h
Locais: Hall, Sala oval e Sala do 3º andar da Biblioteca Mário de Andrade – Rua da Consolação, 94