Para o jornal, a condenação de Lula a 12 anos e um mês de prisão, por corrupção e lavagem de dinheiro, é um novo capítulo da caótica história política do país desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
A entrega do passaporte de Lula aos agentes da polícia federal, nesta sexta-feira, é “mais uma humilhação para o ex-sindicalista, símbolo da luta operária na ditadura militar, um dos maiores dirigentes do país e estrela de cúpulas internacionais no auge de sua carreira”, lembra o jornal. Por isso, o destino de Lula, o “pai dos pobres” gera todo tido de reação extrema dentro e fora do país.
Segundo o Le Monde, seus aliados defendem sua inocência e o consideram um “deus”, enquanto, para seus inimigos, ele é um bandido. “Independentemente de algumas manobras judiciais estranhas, não é absurdo pensar que o ex-metalúrgico sucumbiu à tradição clientelista do sistema político brasileiro”, escreve o jornal, lembrando que o escândalo do Mensalão, em 2005, quase custou sua reeleição.
“Sociedade de castas”
Ao mesmo tempo, ressalta o jornal, o mal-estar no país cresce desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A saída da presidente, diz o Le Monde, não serviu “à causa ética prometida pela operação anti-corrupção Lava Jato”, muito pelo contrário. Para o jornal, “a desgraça de Lula mostra um espetáculo lamentável de um velho mundo político em decadência”.
O Le Monde lembra que, no mesmo momento em que os juízes pronunciavam a sentença contra Lula, o presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva, obstrução à Justiça, e participação em organização criminosa, participava da Cúpula de Davos, tentando dar um ar de normalidade à sua gestão.
“Até agora, o chefe de estado conseguiu suspender os processos na Justiça que o visam negociando favores com parlamentares que também são alvo do Judiciário”, diz o texto, lembrando que pelo menos 45 dos 81 senadores foram indiciados por crimes variados. “Lava-Jato só traz à tona práticas bem anteriores a Lula”, ressalta o Le Monde.
O jornal lembra que os escândalos de corrupção no país são dignos de um filme de segunda categoria, e que a imunidade parlamentar é instrumentalizada com um “grande cinismo”. Há alguns meses das eleições, resume o jornal, o Brasil mostra a imagem de uma sociedade de castas, onde os dirigentes não obedecem às mesmas leis que os miseráveis, o que é indigno e perigoso para a maior democracia da América Latina. (Do 247)