.Por Iolanda Toshie Ide.
No Fórum Social das Américas, na Guatemala, várias vezes ouvimos a afirmação: NOS TIENEM MIEDO POR QUE NO TENEMOS MIEDO! Ao mesmo tempo, na Tenda das Mulheres, vimos figuras de borboletas coloridas, também estampadas nas canecas que recebemos, símbolo da resistência à violência contra mulheres. Conhecidas como Las Mariposas, as irmãs, Minerva, Pátria e Maria Teresa Mirabal, lutaram bravamente contra o machismo e o autoritarismo de Leónidas Trujillo, ditador de El Salvador, responsável pelo assassinato de mais de 30 mil salvadorenhos, inclusive delas.
Campinas (SP) amanheceu chocada na passagem de ano (2016-2017) pelo múltiplo feminicídio de Isamara e mais oito mulheres. Seu ex-marido, abusador do próprio filho, não aceitando a decisão do juizado no sentido de ter monitorado seus encontros paternos, munido de poderosa arma de fogo, muita munição e explosivos, atirou para matar 9 mulheres, uma criança, dois homens e ferindo também outras pessoas.
Mensagens, inclusive para colegas de trabalho, revelam seu exacerbado machismo e a intenção dos assassinatos. Nas mulheres, ele atirou para matar, nos homens atirou para imobilizá-los. Matou-as pelo fato de serem mulheres. Após assassinar Isamara, atirou no próprio filho. “Os homens têm medo que mulheres riam deles. As mulheres têm medo que os homens as matem”, escrevera Margaret Atwood.
Na semana seguinte, mulheres saíram às ruas de Campinas em emocionante manifestação contra os feminicídios. A exemplo da marcha que ocorreu na Argentina, todas gritavam ‘Ni una a menos!’ Ao contrário da interpretação da imprensa e da polícia, cartazes revelavam a revolta e o entendimento do ocorrido: NÃO FOI CRIME PASSIONAL: FOI MÚLTIPLO FEMINICÍDIO.
A despeito das várias gestões da Marcha Mundial das Mulheres, do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, autoridades seguiram não reconhecendo oficialmente como feminicídios. Pela Lei nº 13.104, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff em março de 2015, o assassinato pelo fato de ser mulher, é um homicídio qualificado, crime hediondo cuja pena passa de 6 a 20 anos de reclusão para 12 a 30 anos.
No dia 08 de dezembro, pouco antes de completar uma ano desse múltiplo feminicídio, mulheres da “Minha Campinas” e da Marcha Mundial das Mulheres, portando cartazes, ocuparam a principal avenida de Campinas. Algumas seguraram uma faixa para impedir o trânsito, e 9 se deitaram no asfalto durante 9 minutos em solidariedade às nove mulheres assassinadas, exigindo que os assassinatos fossem reconhecidos como feminicídios. Sete dias após, foram reconhecidos oficialmente como feminicídios. Importante vitória, mas se trata apenas do início de novas conquistas contra o patriarcado. (Foto: Maria de Lourdes Andrade Simões)