.Por Carlão do PT.

Desde criança ouvia dizer que o Brasil é um país tolerante, onde as diferenças convivem em harmonia. Nada é mais falso do que essa máxima. Uma tentativa vender ao mundo um país que não existe. O Brasil só é tolerante com a violência. E essa violência tem endereço: pobres, jovens, negros, mulheres e LGBTs.

Estimativa da Organização das Nações Unidas de 2014 coloca o Brasil em 16° lugar no ranking mundial da violência. Já o Atlas da Violência 2017, que analisou a evolução dos homicídios no Brasil entre 2005 e 2015 a partir de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostra ainda que aconteceram 59.080 homicídios no país, em 2015. Quase uma década atrás, em 2007, a taxa foi cerca de 48 mil.

De acordo com dados fornecidos pelas secretarias estaduais de segurança pública, no 1º semestre o País chegou a 28,2 mil homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios (roubos seguidos de morte).

São 155 assassinatos por dia, cerca de seis por hora nos Estados brasileiros. O número é 6,79% maior do que no mesmo período do ano passado e indica que o País pode retornar a casa dos 60 mil casos anuais, como em 2015.

Racismo – O Atlas da Violência 2017 revela ainda que homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.

Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

Outro dado revela a persistência da relação entre o recorte racial e a violência no Brasil. Enquanto a mortalidade de não-negras (brancas, amarelas e indígenas) caiu 7,4% entre 2005 e 2015, entre as mulheres negras o índice subiu 22%.

Jovens – O Atlas mostra também que o assassinato de jovens do sexo masculino entre 15 e 29 anos corresponde a 47,85% do total de óbitos registrados no período estudado. A partir disso, constatou-se que os jovens negros entre 12 e 29 anos estavam mais vulneráveis ao homicídio do que brancos na mesma faixa etária. Em 2012, a vulnerabilidade alcançava mais que o dobro.

Mulheres – Em 2015, cerca de 385 mulheres foram assassinadas por dia. A porcentagem de homicídio de mulheres cresceu 7,5% entre 2005 e 2015, em todo o País.

Uma mulher sofre violência a cada dois segundos no Brasil. O número é baseado em um levantamento realizado do Instituto Datafolha em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

LGBTs – Em 2016, segundo a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais, 340 LGBTs foram mortos no Brasil. É quase uma vítima por dia, sendo até então, o maior número já registrado na história.

O Brasil vive uma guerra disfarçada. Para efeito de comparação, a guerra na Síria, iniciada há seis anos, já matou 330 mil pessoas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Uma média de 55 mil mortes por ano.

Todos somos tolerantes com os índices de violência. Racismo, intolerância religiosa, machismo, abismo entre pobres e ricos e o descaso do governo e da sociedade são fatores que contribuem para o aumento da violência no país.

A falta de coragem de encarar de frente o problema, que não é simples de resolver, encarcera parte da sociedade em prédios, condomínios, cercas elétricas, veículos blindados e outras pseudo-soluções.

Só para dar um exemplo, em 2017, o Brasil ultrapassou Estados Unidos e México e tem mais de 160 mil carros blindados em sua frota. Passou a líder mundial, segundo a Associação Brasileira de Blindagem.
Outro dado que revela a tolerância do país em relação à violência é que apenas 8% dos homicídios são solucionados.

Para reverter esse trágico quadro, o País precisa de uma profunda revisão de valores que estão arraigados em grande parte da população. É uma mudança cultural e econômica que passa pelo sistema de ensino, pela justiça, pela distribuição de renda, pelo fim da exploração de seres humanos, geralmente jovens pobres, negros, mulheres e LGBTs.

Carlão do PT é vereador em Campinas