Pesquisadores da Fiocruz desenvolveram um aplicativo para celular, que pode ser baixado gratuitamente, para monitorar com rapidez doenças da fauna silvestre ou simplesmente contribuir com informações sobre animais.

O aplicativo pode, por exemplo, ajudar a detectar com mais rapidez, um surto de febre amarela.

A bióloga Márcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e do Programa Institucional Biodiversidade & Saúde, diz que o  aplicativo SISS-Geo visa estimular a participação da sociedade no monitoramento de epizootias (termo usado para definir eventos de doenças em animais não humanos, análogo ao conceito de epidemia em pessoas). O aplicativo trabalha com a perspectiva de “ciência cidadã”, que entende que qualquer pessoa pode contribuir com a ciência.

O sistema conta com pouco mais de mil colaboradores, com 1.404 registros válidos. A título de comparação, uma iniciativa semelhante para monitoramento de pássaros nos Estados Unidos conta com 80 mil participantes. Márcia confia que o aplicativo da Fiocruz pode chegar lá: “Podemos e queremos também ter 80 mil colaboradores”, afirmou.

A proposta do aplicativo é bastante simples: cada vez que alguém se deparar com um animal silvestre, pode reportá-lo no aplicativo, informando o tipo de animal observado, suas características, localização, características do ambiente e fotos. O aplicativo é muito leve – tem menos de 3 MB – e simples de usar, possibilitando vasta implementação. “Apostamos que qualquer pessoa é capaz de gerar informação sobre a saúde dos animais, estando onde estiverem, mesmo com nível de alfabetização muito baixa. Com o celular, qualquer um pode prevenir doenças e ajudar a monitorar a situação de saúde dos animais”, disse Márcia.

Após o registro, os dados são disponibilizados em um banco de dados, e então cruzados com 2.600 parâmetros, distribuídos em 39 camadas temáticas. Eles podem ser relacionados com outras bases de dados, permitindo que se estude, por exemplo, como doenças em animais se relacionam a eventos climáticos, ou então que se monitore a dinâmica de animais reintroduzidos em ambiente silvestre, ou ainda que se emitam alertas de moléstias que atingem determinadas espécies.

A pesquisadora explicou que a iniciativa objetiva responder o desafio de “um país de dimensões continentais, com vasta diversidade de parasitas, vetores e hospedeiros”. Somam-se a este cenário difícil a alta complexidade da ecologia das doenças, a capacidade limitada de ir a campo e a deficiência de infraestrutura em Big Data. Para se contrapor a isso, o sistema procura gerar, em tempo real, “informações digitalizadas que permitam explorar esses dados com grande potência”.

Como exemplo, o sistema permitiu saber que, nos últimos 70 dias, houve o registro de 24 indivíduos mortos de tartarugas marinhas, com intervalo médio espacial de 19km entre cada indivíduo, e de 4,33 dias entre o registro de cada óbito. Para que o sucesso do SISS-Geo seja pleno, entretanto, é crucial a expansão da participação social. (Carta Campinas com informações de divulgação)