Por Julicristie Oliveira
Cheguei em Curitiba na sexta, dia 16. Segui as instruções do meu anfitrião. Usei transporte público e cheguei com tranquilidade à sua casa que fica perto do famoso Jardim Botânico da cidade. Aproveitando a sexta à noite, fui conhecer a lanchonte Mamba Vegan, que fica na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1345. O local é descolado, tem decoração peculiar, o atendimento é muito bom e as opções de sanduíches são interessantes. Eu experimentei o delicioso hambúrguer de grão de bico. Na volta, percebi que havia outro restaurante vegano, o Veganetes, naquela mesma rua, na altura 492, e voltei no sábado, na hora do almoço, para conhecer.
O Veganetes tem um estilo que gosto muito. O restaurante é simples, o atendimento é carinhoso, a comida é “caseira”, bem feita, gostosa e tem preço justo. Por 10 reais, come-se um bom prato feito. No sábado, era dia de feijoada, um dos meus pratos prediletos e estava uma delícia. Conversei bastante com a Amanda, que gerencia o lugar. Falamos de veganismo, é claro, discutimos as pautas meio marginalizadas por alguns ativistas como os alimentos transgênicos, mas que tem relação direta com a exploração animal. Em primeiro lugar, o desenvolvimento de uma variedade transgênica engloba testes em animais. Em segundo, a produção de alimentos transgênicos, como a soja e o milho, dependem de substâncias que também são testadas em animais, e que alteram e dizimam espécies, como os agrotóxicos. Em terceiro, a soja e o milho transgênicos são, atualmente, a base das rações utilizadas na produção de carnes. Um grande nó.
Assim, evitar a soja e o milho transgênicos, dar preferência a alimentos agroecológicos e orgânicos são agendas totalmente relacionadas à construção dos direitos animais. Faz sentido o movimento avançar e reconhecer a sua interseccionalidade com as demais pautas.
A Amanda, muito atenciosa, me deu várias dicas sobre a rota vegana da cidade. Me falou da feira “Natal Vegan” que acontecia naquele mesmo dia, na Av. Rep. Argentina, 235. Então, aproveitei para dar uma passeada pelo centro antes, visitei o Museu de Arte Contemporânea, o Solar do Rosário e outros lugares lindos e segui de ônibus para a feira. Lá tinha de tudo: livros, roupas, produtos de higiene caseiros e muita comida, é claro.
Experimentei uma torta viva, com massa de frutas secas e castanhas, recheada de creme de amora, coberta com cubos de manga, sem açúcar de adição e servida em folha de bananeira seca. Tudo naturalmente doce e ecológico. Ela também comentou do último churrasco do ano que aconteceria no domingo, no Armazém VegAninha, que fica na Rua Eugênio Flor, 468.
No domingo pela manhã aproveitei para conhecer o Jardim Botânico e depois segui para o armazém, onde eu encerrei as minhas aventuras do final de semana. O lugar é uma graça, no canteiro da frente há um encantador “milharal”, formado por uns quatro pés, que me fez lembrar da crônica “Um pé de milho”, de Rubem Braga.
O Armazém VegAninha é aconchegante e serve “churrasco vegano”, em espetinho, em estilo prato feito, com preço justo, acompanhado de arroz, farofa, vinagrete e salada maionese de batata. Eu particularmente nunca gostei de muito de churrasco, mas confesso que comi de joelhos. Estava tudo ótimo e muito bem feito.
É, Curitiba tem gosto de prato feito vegano, de prato feito com preço justo.
Julicristie M. Oliveira tem doutorado em Nutrição em Saúde Pública, é professora do Curso de Nutrição da FCA/Unicamp e atua na área de Educação e Segurança Alimentar e Nutricional.