4514711401_21138dc1cb_zO número e a gravidade dos casos confirmados de influenza, provocada pelo vírus H1N1, tem gerado grande preocupação no Brasil nas últimas semanas. Conhecida comumente como gripe, a influenza superou em um trimestre o número total de casos registrados em 2015. O vice-diretor de Serviços Clínicos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), José Cerbino Neto, cuja tese de doutorado teve como tema Pandemia de Influenza no Brasil: Epidemiologia, Tratamento e Prevenção da Influenza A H1N1, esclarece dúvidas sobre a doença e sua prevenção.

Quais os principais sintomas da gripe H1N1?

José Cerbino Neto: Os principais sintomas são febre, dores no corpo e sintomas respiratórios, principalmente tosse e dor de garganta, que classificam o caso como suspeito.

Como diferenciá-la da gripe comum?

Cerbino: A gripe H1N1, clinicamente, não tem como ser diferenciada das outras influenzas. Existem vários subtipos circulando anualmente e todos eles causam síndrome gripal e síndrome respiratória aguda grave, só que em frequências diferentes. O que acontece é que em certos anos temos predominância do H3N2 e em outros é o H1N1. Devemos considerar, além disso, que existem diferenças no comportamento entre esses vírus a cada ano, motivo pelo qual temos algumas temporadas com casos mais graves e outras com casos menos graves. É importante também diferenciar a gripe (influenza) do resfriado comum. O resfriado, normalmente, não tem febre e apresenta sintomas menos severos.

Como os sintomas de H1N1 podem ser diferenciados de dengue, já que as doenças apresentam sintomas bastante semelhantes em alguns casos?

Cerbino: As duas são doenças febris agudas e podem provocar sintomas parecidos, mas a principal diferença são os sintomas respiratórios apresentados por pacientes infectados com H1N1.

Quem corre o risco de contrair H1N1?

Cerbino: Todos correm o risco de contrair H1N1, mas as pessoas vacinadas vão ter esse risco reduzido. Para alguns indivíduos o que existe é uma chance maior de ter complicações. Por esse motivo é recomendada a vacinação, não pelo risco maior de ter influenza.

Quais os principais cuidados para evitar a doença?

Cerbino: O principal método de prevenção é a vacina. Considerando que uma das principais formas de transmissão é o contato de secreções com as mucosas (olhos, nariz e boca), o que acontece geralmente através das mãos, as principais recomendações são: cobrir a boca ao espirrar ou tossir e lavar sempre as mãos, utilizando álcool gel, especialmente em locais públicos. Também é recomendável evitar locais fechados que não tenham circulação de ar, assim como o contato com pessoas que estejam doentes. Reforço a orientação para que as pessoas não trabalhem quando estão gripadas.

Quais são as complicações trazidas pela gripe H1N1?

Cerbino: A principal complicação direta da influenza é a pneumonia. Os óbitos, em geral, estão associados a esse acometimento pulmonar. A influenza também pode precipitar a descompensação de outros quadros clínicos e favorecer a superinfecção bacteriana, ou seja, depois da influenza o paciente pode sofrer nova infecção causada por uma bactéria (ou vírus) oportunista.

Por que existe a preocupação de que a doença aumente o número de casos de pneumonia?

Cerbino: Porque uma das manifestações de gravidade da influenza é a pneumonia. As cepas que no ano se comportam com maior potencial de gravidade vão causar mais pneumonias.

Qual a diferença entre H1N1 e H3N2 e entre a influenza A e a influenza B?

Cerbino: Na verdade temos três tipos de influenza: A, B e C. Os tipos A e B podem causar influenza em humanos de forma endêmica e epidêmica. A Influenza A pode ser dividida em subtipos de acordo com a Hemaglutinina (H) e a Neuraminidase (N), proteínas presentes na superfície do vírus. São 14 tipos de hemaglutinina e nove de neuraminidase, por esse motivo existem várias combinações possíveis na influenza A e a imunidade não é completa entre eles, ou seja, ter tido Influenza A H3N2 não oferece proteção contra o H1N1. Por isso temos mais de um tipo de Influenza A circulando e temos mais de um tipo na vacina, já que é necessário ter imunidade específica para cada um dos subtipos.

Por que quem tomou em vacina de 2015 também precisa tomar a que será disponibilizada em 2016?

Cerbino: A vacina é modificada anualmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Existe um sistema de vigilância global onde são identificadas anualmente que cepas estão circulando em quais regiões do mundo e com que frequência. Com base nesses dados a OMS faz a recomendação de quais sorotipos devem estar presentes na vacina do ano seguinte para conferir o maior grau de proteção possível. É por esse motivo que a vacina de 2016 é diferente da vacina que foi utilizada no Brasil em 2015. A vacinação anual é necessária.

Quais são os principais públicos que devem tomar a vacina?

Cerbino: Os critérios do Ministério da saúde priorizam as faixas etárias de seis meses a cinco anos, adultos maiores de 60 anos, gestantes, portadores de doenças crônicas e de comorbidades (enfermidades renais, cardíacas, pulmonares, hepatopatias, entre outras), pois podem ter uma evolução pior com a influenza.

Em menos de três meses o número de infectados no Brasil já superou o total de 2015 e o aumento do número de óbitos tem sido visto com preocupação. É possível conter esse aumento?

Cerbino: A vacina contra a influenza é uma ferramenta importante e costuma ser efetiva. Uma campanha de vacinação bem-sucedida, com altos níveis de cobertura, pode diminuir a incidência da doença e o número de óbitos associados a ela. (Da Agência Fiocruz)