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‘Sobretudo, cata-ventos’: memórias e movimento na arte de Olivia Niemeyer

“Trabalho com sobreposições, fragmentos de frases, carimbos, frottage e monotipia. Rasuro, acrescento, apago e modifico. Cito e traduzo”. Com estas palavras, a artista visual Olivia Niemeyer apresenta um pouco do universo amplo e diverso do seu trabalho que integra esta edição do projeto “Cartas Visuais”.

Natural do Rio de Janeiro, atualmente Olivia mora em Campinas. Formada em Língua e Civilização Francesa, mestra e doutora em Lingüística Aplicada na área de Tradução (UNICAMP), na área de artes visuais recebeu orientação de Nair Kremer, Vera Ferro, Carlos Fajardo, Silvia Matos e Albano Afonso. Em 2012, cursou a Especialização em Artes Visuais da Unicamp. Participa de salões, exposições coletivas e individuais desde 1997. Juntou-se ao grupo Antropoantro , do qual faz parte até hoje, em 2002. Como tradutora, publicou ensaios em revistas e livros para Unicamp e Unesp. Participou do projeto “Traduzir Derrida: políticas e desconstruções”, organizado pelo professor Paulo Ottoni, no Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp.

Logo lembrada por suas telas grandes, os lagartos, os velhos livros que herdou do pai, as caçambas de lixo, mesmo a água sanitária, quase tudo vira motivo de arte no trabalho de Olivia que, da tradicional tela, se expande para muitos outros territórios de criação como a fotografia, onde a artista diz estar sua atual paixão.

Nem um pouco avessa às novas tecnologias, Olivia vê nelas mais um fascinante suporte para as criações artísticas, a partir do qual se podem criar objetos incríveis, improváveis, intensos.

Tão expressiva e viva quanto ela própria, a arte de Olivia pulsa e se reinventa a todo instante, desdobrando-se em uma variedade de séries artísticas, dialogando consigo mesma e com a própria tradição artística.

Assim como seu ateliê confunde-se com a sua casa e os objetos de sua história íntima, no seu trabalho artístico percebe-se essa “sobrevivente presença das origens”. Uma de suas séries, chamada “Ex-Libris”, traz fotografias de livros velhos, quase desfeitos pelo tempo e que, como ela mesma diz, sofrem o paradoxo de, estando mais velhos, renderem as mais belas fotografias. Estas últimas passam por um processo de manipulação artística, outras imagens são sobrepostas à imagem original, percebe-se rasuras, recortes, colagens, tudo convivendo, modificando-se, dialogando-se.

Em outra série de trabalho, “O universo (que outros chamam de biblioteca)”, surgem outra vez os livros velhos, agora explorados principalmente na sua primeira página, na costura quase totalmente descosturada, ainda resistindo.
Os livros pertenceram ao pai da artista. Olívia, com sensibilidade e inteligência, os transportou para outro universo, tanto o universo da arte, quanto aquele que é um universo porque compreende quase tudo de que somos feitos: memórias e histórias.

Há toda uma infinidade de trabalhos, alguns sobre futebol, as grandes telas da série “Hileia”, sobre a Floresta Amazônica, outros sobre os cata-ventos, “mudando constantemente, apontando para várias direções ao mesmo tempo”, e talvez não haja melhor imagem para essa arte feita a partir de tantas imagens, que muda e se reiventa constantemente, oferecendo-se ao mesmo tempo em que se furta ao olhar do espectador. Há ali todo um Mundo, tão inventivo, crítico e contemporâneo, quanto generoso e aberto.

O projeto “Cartas Visuais” foi contemplado no Edital ProAC nº 41/2015 “Concurso de Apoio a projetos de publicação de conteúdo cultural no Estado de São Paulo”, com a proposta de valorizar e promover a difusão do trabalho artístico contemporâneo em Campinas e região. Como parte do projeto, serão produzidos e divulgados no site Carta Campinas textos, fotografias e vídeos mostrando um pouco do trabalho de diversos artistas previamente selecionados para o projeto. (Maura Voltarelli)

https://www.youtube.com/watch?v=eWbaTOaGAMc

“O artista plástico projeta conteúdos para sua obra, imagina poder materializar e transmitir determinados significados. Mas, na verdade, o que um artista pode esperar é que seu trabalho suscite ressonâncias diversas, recortes desconhecidos, significados insólitos”. – Olivia Niemeyer 

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