Ao longo deste ano de 2016, o Carta Campinas realizará o projeto Cartas Visuais que tem como objetivo tornar mais conhecida e próxima do público da Região Metropolitana de Campinas (RMC) a produção dos artistas que vivem, trabalham e organizam suas ações nessa região, mas que são pouco conhecidos do grande público e quase não têm espaço na mídia tradicional.
O projeto Cartas Visuais começa hoje com o artista Alvaro Azzan (veja vídeo abaixo). Azzan nasceu em Campinas e começou a desenhar com 4 anos de idade. Nos anos de 1984 a 1989 aperfeiçoou técnicas em grafite, aquarela, nanquim, guache e giz-pastel, com destaque para essa última por meio do qual o artista, em diferentes trabalhos, alcança cores e traços expressivos e particulares. A partir dos anos 90, começou a pintar telas.
Com formação em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Azzan também desenvolve um trabalho de supervisão e implantação de projetos culturais, além de organizar diversas exposições em seu Atelier, o Atelier Vivaz, localizado em Campinas, no bairro do Cambuí.
O Atelier Vivaz expõe artistas de cidades da região de Campinas e artistas de cidades de todo o país como por exemplo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e de outros países como Uruguai, Argentina, Bélgica e EUA. Desde a 1º exposição em 2011, um dos objetivos das exposições do Atelier é reunir e divulgar artistas de Campinas e outras cidades do Brasil e de outros países, pois há um foco na importância desses intercâmbios culturais que resultam na divulgação de artistas de outros locais, troca de ideias e conhecimento, novas amizades, oportunidades que acabam surgindo entre os próprios artistas.
O Atelier Vivaz é também o local onde o artista produz suas obras, entre elas desenhos, telas, esculturas e peças feitas a partir de objetos dos mais variados, desde chips de computadores velhos até plástico, tecido, metal, ou mesmo madeira. Todos esses objetos artísticos preenchem quase por completo as paredes do Atelier dando-lhe uma atmosfera tomada pela riqueza de cores, na qual quem entra se perde na multiplicidade dos detalhes, na improvável reunião de formas aparentemente tão distintas, e onde se permite até mesmo a recordação de outros lugares a partir dos tantos objetos e imagens que ali convivem.
Tanta multiplicidade reverbera, de alguma forma, no trabalho de Alvaro e em sua liberdade criativa. Para ele, a arte só vale a pena enquanto nela estiver garantido o direito de transformação permanente, de hoje pintar uma paisagem abstrata e amanhã, se houver vontade, esboçar os traços de um passarinho. Sem definições ou enquadramentos, apenas criação e movimento.
A autonomia da obra no processo de criação também é algo valorizado por Azzan. Dessa forma, ainda que o artista pense os detalhes do seu trabalho, preveja e planeje efeitos e impressões, a obra sempre guarda o potencial de ser vista de forma totalmente diferente pelo outro, além de conter em si mesma elementos do acaso.
O domínio da técnica, o pensamento e exercício do que será feito, no entanto, é visto como algo importante para Azzan, na medida em que é o domínio da técnica que permite ao artista transportar para a tela, para a folha de papel, ou mesmo para a pedra, no caso da escultura, aquilo que ele inicialmente apenas imaginou. A técnica seria, para ele, o que permite a representação.
A escuta do objeto artístico é outro ponto importante. Caberia ao artista saber, para cada contexto, em cada situação, quando a obra de arte solicita novos procedimentos e pede para ser criada de outra maneira, com técnicas, materiais e estilos diferentes. Tal sensibilidade parece compor juntamente com a liberdade criativa e a autonomia da obra um quadro bastante característico do delicado e diverso trabalho artístico de Alvaro Azzan.
O projeto foi contemplado no Edital ProAC nº 41/2015 “Concurso de Apoio a projetos de publicação de conteúdo cultural no Estado de São Paulo”, com a proposta de valorizar e promover a difusão do trabalho artístico contemporâneo em Campinas e região. Como parte do projeto, serão produzidos e divulgados no site Carta Campinas textos, fotografias e vídeos mostrando um pouco do trabalho de diversos artistas previamente selecionados para o projeto.
Assim como Azzan, outros artistas farão parte do Cartas Visuais, um projeto que procura dar acesso em texto, imagem e vídeo à arte contemporânea que se faz hoje na RMC, em diálogo com essa região, suas questões sociais, políticas e históricas, de forma a permitir não só um conhecimento e proximidade maior com as artes visuais, estilos e vocabulário, como também uma ampliação da compreensão, por parte do público, de questões da sua própria época e região, inevitavelmente incorporadas pelo artista plástico no processo de realização do seu trabalho. (Maura Voltarelli)
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