
O Senhor Deus, Rei dos Céus e Pai de todas as criaturas, anunciou na manhã deste sábado em coletiva de imprensa que pretende se candidatar ao governo de São Paulo em 2018. Segundo Ele, a decisão foi tomada de acordo com acontecimentos registrados nos últimos anos no Estado.
“Entre 2013 e 2015, parou de chover e tudo secou. A culpa foi minha”, declarou o Senhor, demonstrando serenidade. “Agora, está chovendo muito e tudo está alagado. No dia de Natal, eu pensei que estava mandando um presente ao fazer chover bastante. O Cantareira até saiu do volume morto! Mas as avenidas se encheram d´água, e a culpa também foi minha. Tendo em vista que São Paulo está exclusivamente à mercê da vontade de Deus, no caso eu, decidi anunciar a minha candidatura ao governo do Estado, para poder levar a culpa de maneira mais justa”, disse Ele, levantando-se da mesa afim de tratar de outros assuntos, como observar de perto as últimas declarações do pré-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump. “Preocupante”, classificou Deus.
O porta-voz dos Céus, Serafim Gabriel dos Anjos, externou ao Carta Campinas algumas das dificuldades já conhecidas pelo Senhor, e que serão certamente enfrentadas durante a campanha. “Deus sabe que as chances de vitória são ínfimas diante de um candidato do PSDB, seja quem for”, revelou ele à reportagem. “Mas diante da alta possibilidade de o partido indicar o senador José Serra, as chances de vitória serão ainda mais reduzidas. Nesse caso, a candidatura de Deus seria mais um ato simbólico, apenas para mostrar aos paulistas que Ele não tem culpa sobre a crise hídrica e as enchentes, a violência urbana, a poluição do Tietê ou a vitória da Dilma em Monte Mor, mas que gostaria muito de administrar o Estado e resolver os problemas cuja culpa lhe é atribuída”.
Na Avenida Paulista, as opiniões se dividiram. “Esses comunistas precisam parar com isso!”, pregava o advogado Olavinho de Menezes, que acompanhava a transmissão do anúncio num telão montado ali e pediu que lhe fosse atribuído o título de “doutor” antes do nome. “Não respeitam Deus!”, prosseguiu, mas ao ser informado de que era o próprio Deus o candidato, virou as costas e entrou num táxi. Já a empresária Adriana de Magalhães tinha opinião semelhante. “Eu já fui me informar, e tudo isso é parte do plano maléfico do PT”, denunciou. “Foram o Lula e o Haddad que convenceram Deus a se candidatar. Eles querem é fazer ciclovias no Estado inteiro! Isso aqui vai virar Cuba! Onde vamos parar?”, bradou ela, aplaudida por vários transeuntes que encaravam, carrancudos, o anúncio de Deus.
Consultada, a assessoria de imprensa do governador Geraldo Alckmin manifestou surpresa diante do anúncio do Senhor Deus, mas assegurou que a população paulista conhece bem o trabalho dos governantes tucanos, e não acredita na possibilidade de uma vitória do novo pré-candidato. O senador José Serra, por sua vez, limitou-se a dizer em nota que a divulgação feita hoje não passaria de “trololó petista”, que as eleições de 2018 ainda estão “muito longe” e também que embora ele considere pesquisas eleitorais um “retrato do momento”, a próxima sondagem do Ibope lhe dará “ampla vantagem”. Já o diretório paulista do PSDB afirmou que irá denunciar o Senhor ao Tribunal Superior Eleitoral por propaganda antecipada, o que poderá impugnar a futura candidatura divina.