Por Regis Mesquita
O que esperar de pessoas pobres e desesperadas que enfrentam a morte para entrar na Europa, a fim de reconstruir a própria vida?
A história mostra que muitas destas pessoas são capazes de contribuir de maneira surpreendente para as ciências, literatura, economia e a sociedade em geral.
Grande parte dos moradores dos países que recebem os refugiados estão acomodados; estão pouco dispostos ao sacrifício e à perseverança para construir um bom futuro pessoal ou social. Refugiados chegam à estes países com força de vontade para vencer e disposição para aprender e superar desafios. O resultado é que este “sangue novo” torna-se vital para dinamizar a sociedade e a economia.
O Brasil teve nos imigrantes a mola propulsora do seu desenvolvimento industrial. Enquanto a elite agrária se acomodou no campo, nas cidades surgiu uma nova elite industrial composta em sua maioria por imigrantes.
O caso mais estudado é o de Israel, que é considerado um dos países mais inovadores do mundo. Israel possui mais empresas de tecnologia listadas na Nasdaq (bolsa de tecnologia) que o Brasil, Inglaterra, Itália, Espanha e a Coréia do Sul somados. Uma das razões deste fenômeno são as sucessivas ondas de imigrantes/refugiados que chegaram ao país desde sua fundação. Vieram imigrantes de todo o mundo: judeus sobreviventes dos campos de concentração, fugitivos de perseguições político-religiosas, da Rússia, do Oriente Médio, da África, etc.
Refugiados podem contribuir para melhorar um país. Alguns ganharam projeção internacional pelas suas capacidades.
Abaixo listo alguns:
Albert Einstein: Nasceu em 1879, filho de uma família judaica, no Império Alemão. Se refugiou nos EUA em 1933, quando Hitler entrou no poder. Foi professor universitário e pesquisador na área da física. Prêmio Nobel de Física em 1921.
Eric Kandel: Nasceu em 1929, em Viena, Áustria. Em 1938, após a invasão da Áustria, sua família passou a ser perseguida. Fato este que o levou a imigrar para os EUA em 1939. Suas pesquisas em Neurociência o levaram a receber o Prêmio Nobel de medicina, em 2000.
Dalai Lama: Tenzin Gyatso, é o 14º Dalai Lama – o líder espiritual da religião budista tibetana. Nasceu em 1935 no nordeste do Tibet. Tornou-se Chefe de Estado com apenas 15 anos. Em consequência da invasão chinesa do Tibet, ele imigrou para a Índia, de onde comanda um governo de resistência. Recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1989, por sua luta pacífica contra a China.
Waris Dirie: Nasceu em 1965 na Somália, África. Aos cinco anos de idade teve seu órgão sexual mutilado. Aos treze anos fugiu para não ser obrigada a casar com um homem de 60 anos. Enfrentou uma longa jornada pelo deserto até morar em Londres. Tornou-se uma modelo famosa. Usa sua fama para liderar campanhas contra a mutilação de meninas. Também escreveu sua autobiografia revelando as atrocidades a que crianças são submetidas na África. Hoje é Embaixadora das Nações Unidas e percorre países africanos em campanha por uma nova mentalidade que preserve a vida e o corpo das crianças.
Elie Wiesel: Nasceu em 1928, Romênia. Filho de Judeus, teve sua família morta durante o Nazismo, sendo o único sobrevivente do campo de concentração. Escreveu dezenas de livros; o mais famoso, chamado “Noite” conta sua vida durante o Holocausto. Por causa de sua vida dedicada à preservar a memória do Holocausto e a defesa de vários outros grupos vítimas de perseguição, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1986.
Luol Deng: Nasceu em 1985 na tribo Dinka, no Sudão, que são muito conhecidos pela grande estatura. Durante a guerra civil do Sudão sua família refugiou primeiro no Egito, depois Inglaterra e, por fim, EUA. Nos EUA tornou-se um dos grandes nomes da NBA (liga norte-americana de basquete).
Loung Ung: Nasceu em 1970, Camboja. Seus pais morreram assassinados na revolução comunista do Camboja, em 1975. Fugiu do Camboja para a Tailândia, onde viveu em campos de refugiados. Imigrou para os Estados Unidos. Tornou-se escritora e ativista em defesa dos direitos humanos. Foi uma das principais vozes da “Campanha internacional para banir minas terrestres”.
Edward Snowden: Nascido em 1983, é ex-funcionário da CIA e ex-contratado da NSA nos Estados Unidos. Revelou o sistema de espionagem secreta americana em todo o mundo; inclusive espionagem do governo brasileiro. Após prestar este serviço para a humanidade, E. Snowden passou a ser perseguido pelos EUA. Atualmente está exilado na Rússia. Através de sua contribuição cidadãos americanos estão questionando o poder de espionagem da agência americana NSA e o próprio presidente Obama já prometeu mudanças.
Alemanha: um país dependente de imigrantes para manter sua economia forte.
O que acontece com um país quando a taxa de natalidade cai a níveis muito baixos? A primeira consequência é que fecham-se escolas, vende-se menos produtos infantis. Ou seja, uma parte da economia fica menor.
O que acontece quando esta baixa taxa de natalidade se mantém por décadas? A quantidade de idosos na população chega a um volume tão grande que ela passa a ter grandes dificuldades de manter o bem estar social desta população. As projeções indicam que haverá em 2060 menos de dois alemães em idade produtiva para trabalhar e pagar impostos que sustentarão um alemão com mais de 65 anos.
Esta alta taxa de idosos tornaria inviável a economia, no sentido de manter o bem estar da população. A Alemanha precisa urgentemente de jovens. De onde eles virão? Dos países que cujas economias não vão bem; seja por guerra ou flagelos ecológicos/sociais.
Sem esta nova mão de obra e novos consumidores, a economia alemã entraria em grave crise. Por isto, Alemanha prevê receber 500 mil imigrantes por ano.
A Alemanha é apenas um dos países europeus cuja presença de imigrantes é importante para manter ou melhorar a economia.
Da próxima vez que ver fotos dos refugiados lembre-se que eles não são apenas problemas. Eles também podem ser parte da solução.
Dica de leitura:
Regis Mesquita é o autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas