Na tarde desta sexta-feira (11), enquanto aguardava atendimento no 23º Distrito Policial de Perdizes, na capital paulista, Walquiria relatou ao GGN o drama que vive com frequência há mais de um ano, por causa de um morador do apartamento um andar abaixo ao seu, no bairro nobre de São Paulo – região onde ocorrem os famosos panelaços contra o governo.
Segundo a socióloga, o vizinho nunca escondeu sua aversão à gestão petista. Mas há algumas semanas, ele “deixou de se contentar em apenas bater panela” e partiu para a provocação. Nas últimas passagens de Dilma na televisão, “ele pegava um pedaço de pau e batia no teto, colocava a cabeça para fora da janela e gritava palavrões.”
No protesto agendado por grupos contrários à permanência de Dilma no poder, que ocorreu em 16 de agosto, o morador destemperado agrediu verbalmente o marido de Walquíria. “Ele (o vizinho) e sua mulher estavam aguardando o elevador, e quando meu marido saiu, passou a ser ofendido. Ele gritava que meu marido era corrupto, ladrão, e ‘Fora PT’. Tudo isso foi gravado pelas câmeras internas, mas o porteiro me informou que preciso de um técnico para recuperar as imagens, que não foram arquivadas.”
Segundo Walquiria, seu marido saiu do elevador e, na medida em que o vizinho continuava gritando, apenas respondeu: “O senhor me respeite, que eu não falo com o senhor.” E ouviu em retorno: “Eu não respeito petista, ladrão, corrupto.”
Após o episódio, a síndica do condomínio foi procurada. Walquiria ficou em dúvida sobre fazer um Boletim de Ocorrência, mas rapidamente foi dissuadida, “porque não ia pegar bem para o prédio envolver a polícia em briga de vizinhos.” Ela, então, tentou conversar com a esposa do agressor, “na expectativa dela dizer que ele tem problemas mentais que justificam aquela postura.” Mas a esposa não quis conversa.
Nesta sexta-feira (11), a filha de Walquiria, uma historiadora na casa dos 40, mãe de um menino, estacionava o carro próximo à portaria do prédio da mãe – conhecida pelo trabalho como pesquisadora da Unicamp e pelo livro do Bolsa Família – quando o vizinho anti-petista surgiu.
“Minha filha ficou olhando, pois já sabia como ele é e tinha medo dele. Ele não gostou e ficou perguntado ‘Tá olhando o quê? Tá olhando o quê, filha da puta?’, e fez gestos obscenos com o dedo da mão. Minha filha decidiu pegar o celular e disse para ele repetir o gesto, que ela iria gravar. Foi quando ele entrou no carro e deu ré, jogando o carro na direção dela. Ela chegou em casa me relatando isso aos prantos”, disse Walquíria.
As imagens, mais uma vez, foram registradas pelas câmaras de segurança do condomínio. O relato do responsável pela portaria à socióloga dá conta de que “o vizinho acelerou tanto que se houvesse crianças no trajeto que ele fez para deixar o prédio, elas seriam atropeladas”. “Ele (o porteiro) já presenciou tantas cenas desse vizinho que tenho certeza que deve estar com medo de dizer algo contra ele, agora”, comentou.
Walquiria, que ironicamente já deu muitas entrevistas abordando o preconceito e ataques sem fundamento a programas criados pelo PT para ajudar a parcela mais pobre da população, disse que depois da série de insultos à família e à investida perigosa do vizinho contra a filha, decidiu fazer um B.O.
“Mas a gente vem para a delegacia com aquela cara que você pode imaginar, de petista que vai ouvir de delegado ou outro agente que foi bem feito, que a gente tem que sofrer mesmo. É o que acontece hoje. A mídia criou um ambiente de ódio semelhante ao que fizeram no nazismo. As pessoas estão fora de controle e acham que podem agredir ou até matar um petista sem que ninguém faça nada. E se ninguém do nosso lado fizer nada, é isso o que vai acontecer”, avaliou.
Ela ainda contou que o vizinho foi avisado sobre a iniciativa de Walquiria e se dirigiu à delegacia para justificar sua postura. “Ele disse que tem problemas com os barulhos que meus netos fazem no apartamento, o que é uma mentira, porque eu só tenho um, e ele sequer mora comigo.”(Cíntia Alves, do GGN)