Por Valter Palmieri Jr e Jaqueline Furacão
A Cia Vacas Profanas e o Grupo Livre de Teatro fizeram ontem (11) uma intervenção cênicia na frente da refinaria da Petrobras de Paulínia (Replan), para retratar a greve de 1995 dos petroleiros que durou 32 dias. Eles mostraram de forma crítica e lúdica o acontecimento, que este ano completa 20 anos.
A encenação contou com a presença de aproximadamente 500 trabalhadores, que foram surpreendidos na entrada ao trabalho. A primeira parte da intervenção de rua resgatou a memória do primeiro momento da greve, quando a classe trabalhadora ainda estava bastante fragmentada. Os 15 atores se dividiram em dois coros. Um deles representou a classe dos petroleiros e o outro a grande mídia.
O “Jornal Patronal”, composto por um casal de jornalistas sobre pernas de pau e por repórteres volantes que interagiam com o público presente, faz uma clara crítica ao papel da grande mídia, que tentou jogar a população contra os grevistas, responsabilizando-os, por exemplo, pela “crise” no abastecimento de combustível e gás de cozinha.
O coro composto por trabalhadores entoaram canções e paródias que simbolizavam a importância da união da classe para enfrentar os impropérios e dificuldades de resistência da greve. Gritos de ordem e faixas com os dizeres “Somos todos petroleiros” também fez parte do ato.
A greve iniciou-se devido ao não cumprimento do acordo de reposição salarial estabelecido pelo governo de Itamar Franco e que não fora cumprido pelo então presidente recém eleito em 1995, Fernando Henrique Cardoso. Outro motivo para o movimento se deveu a tentativas de privatização da Petrobras pelo governo neoliberal de FHC . Além da música “Aroeira”, de Geraldo Vandré, a paródia de “A banda”, de Chico Buarque, compôs o repertório da intervenção:
Estava no meu direito FHC reprimiu
Mandou a greve parar com bala, tanque e fuzil
Trabalhador quis respeito FHC insistiu
Mandou a Greve a parar com bala, tanque e fuzil.
Ministro fraco se esqueceu do contrato e afirmou
Que a previdência já ta indo pro saco e mandou
Trabalhador ficar de boca calada
Ninguém faz pergunta ninguém sabe de nada.
O presidente social-democrata pediu
Pros militares acabarem com a greve, insistiu
Que a Petrobras deve ser privatizada
Vou lá pra Miami, já volto moçada!
O operário que não tava com medo, parou
O petroleiro com salário cortado, parou
Trabalhadora que era terceirizada
Parou para ver, ouvir e dar coragem.
O movimento reprimido ainda assim resistiu
E quem não era petroleiro também aderiu
E a moçada toda ajudou
Pra ver o povo lutar
Sem nunca se intimidar
A música faz referência ao momento mais emblemático e significativo de toda a greve: quando o Exército invade, simultaneamente, algumas refinarias durante a madrugada. Na refinaria de Paulínia, por exemplo, até um tanque de guerra chegou a compor a paisagem do local. O grupo também retratou esse momento marcante com a construção de um tanque de guerra confeccionado a partir de caixotes de madeira. Os atores representaram a brutalidade dos soldados e a fúria de seus cães em querer atacar os participantes do movimento.
A apresentação finaliza com mais uma melodia conhecida, “Eu quero é botar meu Bloco na Rua”, de Sérgio Sampaio. O coro começou tímido, mas foi ganhando aos poucos mais vozes até se criar uma grande roda composta não só pelos próprios atores, mas também pelos trabalhadores que assistiam a encenação.
Em meio ao clima catártico, a mensagem que se ouve do megafone é: “A luta continua, continua por conta das nossas perspectivas. Não existe nada terminado na nossa jornada e a cada conquista surge mais um passo que podemos caminhar. O caminho não é apenas para nossa geração, como também não foi para as gerações anteriores. Precisamos sedimentar a estrada para nossos filhos, sempre!”.
E o desfecho segue ao gosto de Rosa Luxemburgo: “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”
Ficha Técnica
A intervenção contou com o apoio do Sindicado dos Petroleiros de Campinas, Sindipetro. Próximas apresentações do grupo estão previstas para as próximas semanas.
Elenco:
Allan Ortega;
Ariana Zilioti;
Cristiane Taguchi;
Denis Forigo;
Fabio Luiz Pimentel;
Felipe Venâncio;
Frederico Zilioti;
Graziele Garbuio;
Jaqueline Furacão;
Kelly Cheretti;
Matheus Fantini;
Presto Kowask;
Renan Villela;
Rodrigo Lima;
Valter Palmieri Jr.
Realização:
Sindipetro – Campinas