Por Rodrigo Arruda

taniarego Ag BrasilArtesanato ou crack? Artesanato ou crack, artesanato ou crack?

A dúvida me consumia a medida que ele manipulava aquela latinha.

Camisa vermelha, do São Paulo. Número 25, do Dagoberto que nunca foi craque. Patrocínio da LG.
Será que lhe pagam direito de imagem? Sem visibilidade, que jeito.
Artesanato ou crack?

A Coca-cola também se apresentava. Reconhecida internacionalmente por produzir as melhores latinhas, mais resistentes, tecnologia de ponta. Já imagino o comercial quando o artesanato, ou mesmo o crack, forem liberados, ou descriminalizados, como preferirem. Belas modelos sentadas num canto imundo, sensualizando com o cachimbo improvisado, a fumaça subindo em câmera lenta, o close final.

Artesanato ou crack?
O estereótipo estava mais para mendigo. Barba longa, mal cuidado e maltrapilho para o padrão excludente dos shoppings campineiros, os maiores da América Latina, segundo nossas almas egocêntricas. Marcas não faltavam, marcas por todos os lados. Na camisa, LG, Coca na mão, boné BMW, na bermuda, Mormaii. Um outdoor ambulante, como qualquer um de nós.

Artesanato ou crack?
Passou rapidamente por mim, ali, na Barão de Jaguara, rua das mais movimentadas do centro de Campinas. Logo percebi a lata em sua mão. Cumprimentou feliz seu amigo catador. Sentou no portão de um estacionamento fechado e ali, sentado, calmamente manipulava sua lata.

Aflito eu observava. Artesanato ou crack? A medida que ele prosseguia, a dúvida crescia. Artesanato ou crack? O sentimento de impotência. Artesanato ou crack? O reconhecimento de uma triste realidade, de exclusão, vício, falta, violência. Artesanato ou crack? A dúvida se desfez em fumaça, agora, certeza: agonia e euforia.
Crack.