UnicampO Brasil apresenta entre 100 e 10.000 vezes mais de compostos tóxicos (contaminantes) em seus mananciais e na água tratada do que os países da Europa. Esses contaminantes são conhecidos como contaminantes emergentes por ainda não serem legislados, mas que são potencialmente nocivos à saúde humana.
De acordo com o professor Wilson de Figueiredo Jardim, do Instituto de Química da Unicamp, a situação do Brasil é muito ruim.

“Nós dispomos de dados e normas que nos permitem garantir a qualidade da água em relação aos contaminantes clássicos. Entretanto, com a mudança nos hábitos de consumo das pessoas e com o adensamento populacional, entre outros fatores, esse número de substâncias potencialmente tóxicas presentes na água cresceu exponencialmente. Hoje, nossos ‘inimigos’ são outros e, portanto, não podemos combatê-los com armas antigas”, disse ao Jornal da Unicamp. Para mudar essa situação seria necessário que o Brasil ampliasse o conhecimento sobre três fatores: a fonte, a rota e o receptor final dos contaminantes emergentes.

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Wilson Jardim também relatou que participou, no ano passado, de uma reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), no México. Na oportunidade, representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiram os presentes para a necessidade de o problema dos contaminantes emergentes ser atacado em plano global. “A razão para o alerta está plenamente comprovada pela ciência. Nós já dispomos de evidências incontestáveis de que a esses compostos emergentes têm causado sérios danos à fauna aquática. Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar a feminização de peixes, alteração no desenvolvimento de moluscos e anfíbios e decréscimo de fertilidade de aves”, elenca o professor da Unicamp.

Wilson Jardim lembra que os cientistas ainda não sabem, no entanto, que tipo de problema a exposição crônica a esses contaminantes pode causar aos seres humanos. “Manda o bom senso que não esperemos 20 ou 30 anos para obtermos essa resposta. O melhor a fazer é alterar a legislação e passar a exigir a remoção desses compostos o quanto antes”, pondera. Alcançar esse objetivo, reconhece o docente do IQ, não é uma tarefa fácil. Segundo ele, alguns setores, especialmente as empresas responsáveis pelo serviço de saneamento básico, são muito resistentes a mudanças. Uma das razões desse comportamento é de ordem financeira.(Carta Campinas com informações de divulgação da Unicamp)