1 poema de Hans Magnus Enzensberger

dXBsb2Fkcy9hcnRpY2xlX2ltYWdlcy9iZTYwY2RmOGIzNGM3YmMzMGI4ZjE3Mzk1MWRjNDY4YTkyNjk2ZDA1LmpwZw==.620.500.1.1.90AS ROUPAS

Eis suas roupas, calmas,
como gatas ao sol, de tarde,
suas roupas amarrotadas
sem sonhos, como por acaso.
Elas têm seu cheiro, fraco,
quase se parecem com você.
Transmitem a sua sujeira,
seus maus hábitos,
os vestígios de seus cotovelos.
Parecem feitas de tempo, não respiram,
sobram, moles, cheias de botões,
de características e manchas.
Nas mãos de um policial,
de uma costureira, de um arqueólogo,
revelariam costuras,
segredos fúteis.
Mas, onde você está, se está sofrendo,
o que sempre quis me dizer
e nunca disse,
se vai voltar, se aquilo
que aconteceu, aconteceu por amor
ou necessidade ou esquecimento,
e por que tudo isto
ocorreu,
como ocorreu,
quando a vida estava em jogo,
se você morreu ou se
está só lavando os cabelos:
isto não dizem.

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