Diversidade
Pequena Coletânea das Diferenças

1)A Ave é Mais Linda Quando Voa:

Eu aprendi que o planeta era plano,

Que fui criado à perfeição divina

E no perfeito, não cabia engano,

E não pensar assim era a ruína.

 

Mas conheci também outras pessoas,

Elas o joio, eu o puro trigo,

Que sem as minhas influências boas,

Não poderiam conviver comigo.

 

Pensei então, que viviam no erro,

E coibir tal erro, caberia a mim.

Obcecado, até o meu enterro,

Vivi contrário a quem vivia assim.

 

Mas o podre era eu, pelo outro lado!

Não aceitavam meu modo de pensar.

Um cisco aos olhos fez ver tudo errado

E não nos tolerávamos em nosso lar…

 

Aprimorei, em vão, meus argumentos,

E não ouvi o argumento alheio,

Passava o tempo, sem convencimento,

E eu fui fazendo um mundo bem mais feio.

 

Angariei milhares de aliados,

Ouviam e falavam minha voz.

Dos oponentes, listei mil pecados,

E eles listaram outros mil de nós!

 

E de tanto não sermos compatíveis,

De nunca cogitar olhar pra trás,

As clarezas ficaram invisíveis

E pela guerra, abrimos mão da paz.

 

Incompetente pra mudar as crenças,

Orgulhoso, não via outra saída,

Ative-me ao ódio e a criar ofensas,

E em ver a minha vida ser perdida…

 

As vezes que morri passavam de um milhão,

E corpos como o meu forravam o terreno,

Até que ruminei uma questão:

O que difere se eu tomar veneno?

 

Não é também, findar a existência?

Errar sem fim na mesma teimosia,

Abrindo mão da rica experiência,

De deixar cada ser, ser o seu guia?

 

Dando valor a cada vida humana,

O bem do outro é benefício meu,

O destino é de toda a caravana,

É do louco, é do crente, é do ateu…

 

Se gasto meus esforços pra mudar a outrem,

E pra fazer o mundo do meu jeito,

Só faço do amanhã um novo ontem,

Frustrado, na ilusão de ser perfeito.

 

Ninguém precisa ter a minha crença,

Aceitação não é ignorância,

Tolerância não é indiferença,

E o preconceito é a maior distância!

 

Deixei de perseguir a perfeição,

Babel e nossa torre criativa,

Acreditei que há luz na escuridão,

E que a escuridão é relativa.

 

Aí senti no rosto, a brisa da verdade,

E em cada diferença uma beleza.

Vivia em mim, a ave liberdade.

Que eu lutei séculos por manter presa!

 

 

2) Fodam-se, Benditas Diferenças!

 

Então ele era destro, ela canhota,

Ele era churrasqueiro, ela vegana,

Ela era do chá e ele da cana,

Ela era sapatilha e ele bota.

 

Mas quando ela passou no seu caminho,

O riso dele achou que era pequeno,

A tempestade, então, se fez sereno,

E era só pra ela o seu carinho.

 

Tudo mais entre os dois era o oposto.

Ela do capital, ele esquerdista,

Ele era proletário, ela era artista,

Nada pra eles tinha o mesmo gosto.

 

Porém aquele brilho de seu rosto,

Mostrou pra ela, como relevar,

E o que ele revelava em seu olhar…

Por ela, pagaria até imposto.

 

Eram gentes de mundos diferentes,

Cada qual foi criado do seu jeito,

Mas por não cultivarem preconceito,

Eram bem juntos, muito mais contentes.

 

E foram se acordando com a vida,

Souberam contornar as diferenças,

E desfizeram-se de antigas crenças,

Pra encontrar uma joia escondida.

 

Somos todos reflexos da sociedade,

Mas cada um com sua própria voz,

Que o vento da mudança sopre em nós,

E depois do tufão, a liberdade!

 

O caso intriga os grandes expertos,

E muitas teorias foram pelos ares,

Se antes ímpares, viraram pares,

De escravos do sistema, hoje libertos.

 

 

3) Aprendendo Encantos:

 

Por que enxergas tantos empecilhos?

Por que te distancias das pessoas?

Se, alvejas com teu ódio irmãos e filhos,

Que só não cantam o hino que entoas.

 

Por que tanto te esforças em negar

A dar um passo além do preconceito?

Tanto ódio curtindo, devagar,

É o lar da angústia dentro do teu peito.

 

Amargas tua língua peçonhenta,

Difamas todo amor que não for teu

E a tua alma triste experimenta,

Ser mãe de um filho que nunca nasceu.

 

Se alguma cor aflige a tua paz,

Se a origem deles te sufoca o ar,

Não culpe o índio, o negro ou o lilás.

Porque não ousas só te libertar?

 

Mobilizas em vão tua energia,

Na causa insana de mudar o alheio.

Nadas contra a corrente noite e dia.

Não foi pra isso que a corrente veio.

 

Não aprendeste nada em tantos anos?

A tua guerra não muda ninguém,

Se não há tolerância nos teus planos,

Não há mérito algum de onde eles vêm.

 

O “aceitar nossa diversidade”

É dar ao mundo um caloroso amplexo,

Sem ter que se ligar a uma irmandade,

Sem ter que precisar mudar de sexo.

 

Não temos todos que seguir teus passos,

Quem mais reprime é sempre quem mais erra,

Negando seus equívocos tão crassos,

Nunca se limpa e quer limpar a Terra.

 

Se, preferes o doce ao gosto acre,

Fará sentido aniquilar o azedo?

Fará sentido todo esse massacre?

Já imaginaste um mundo sem ter medo?

 

Banindo quem não gosta do teu gosto,

Da ignorância cresce o teu rancor,

E o riso amarelado do teu rosto,

Jamais verá que amar tem mais sabor.

 

Aprende a respeitar faces opostas

Ou viverás eternamente cego,

Levando um peso inútil sobre as costas,

E te matas, iludido por teu ego.

 

Respeita o amor de onde quer que ele venha,

Evita o ímpeto de odiar,

A ira é fogo que míngua sem lenha,

Ama o amor pra onde quer que ele vá!

 

Nós somos únicos, bilhões de ilhas.

As diferenças cobrem, com seus mantos,

Nossos defeitos, nossas maravilhas.

Vida é a arte de encontrar em cantos… recantos… encantos…