cabra7Começa nesta segunda-feira, 17 de março, às 19h, no Espaço Cultural CPFL, a Mostra Coutinho Essencial, que homenageia um dos mais importantes cineastas brasileiros. Eduardo Coutinho tornou-se um importante documentarista, o maior nacional e um dos maiores do mundo. Não começou no cinema como documentarista, estreou com a ficção, mas a partir de sua proximidade com o jornalismo nos anos 1970 passou a realizar documentários sobre importantes temas nacionais, como o Golpe Militar de 1964, por exemplo, e modernizou o gênero no Brasil.

No final dos anos 1990, mais uma vez renovou o modo de fazer documentário, introduzindo seu “cinema de conversa”, um tom informal, capaz de criar proximidades entre a história contada pelos seus próprios personagens e o expectador. Coutinho também explorou em alguns documentários, como “Jogo de Cena”, a própria linguagem do documentário, os limites entre realidade e ficção, exercitando uma curiosa metalinguagem no gênero.

Como forma de lembrar a trajetória do documentarista por meio de sua obra, compreendendo também o impacto desta última, a Mostra Coutinho Especial, com curadoria de Amir Labaki, fundador e diretor do “É tudo Verdade” (festival internacional de documentários), exibirá sete documentários do cineasta.

Nesta segunda, 17 de março, será exibido “Cabra marcado para morrer”, às 19h. O documentário de 1984 traz a história de um líder camponês, João Pedro Teixeira, que é assassinado por ordem dos latifundiários do nordeste. As filmagens de sua vida, interpretada pelos própios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Dezessete anos depois, o diretor retoma o projeto e procura a viúva Elizabeth Teixeira e seus dez filhos, espalhados pela onda de repressão que se seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar.

Na terça-feira, 18 de março, às 19h, será exibido “Theodorico, o imperador do sertão”, de 1978. Originalmente mostrado pelo programa Globo Repórter, o documentário conta a história de Theodorico Bezerra, latifundiário no Rio Grande do Norte que era tratado com o título de imperador do sertão. O documentário retrata o poder dos coronéis do semiárido brasileiro na vida das comunidades sob seu controle. A exibição do filme no período da ditadura militar também significou um protesto subliminar ao regime de exceção, retratado de modo imaginário na figura do imperador do sertão.

Ainda na terça-feira, às 20h, será exibido “Boca do Lixo”, de 1992. O cenário do documentário, à primeira vista, pode chocar: um ponto de escoamento de lixo em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro. Seringas usadas, comida em estado de decomposição, um estado de miséria absoluta. Pessoas selecionam objetos e comida que possam ser reaproveitados; o que foi rejeitado por uma pessoa serve como fator de sobrevivência para outra. O cenário desalentador não exprime o estado de espírito dos catadores. Há um conjunto de integridade e valores que superam todo aquele estado, e a câmera de coutinho é a responsável por essa aproximação. Alguns negam que comem coisas do lixo (mesmo que a câmera os desminta), outros afirmam com orgulho; uns estão ali por falta de oportunidade, outros por opção: “(…) é melhor do que ter patrão (…)”. O filme se desvincula da pretensão de registrar um contexto adverso aos padrões de uma sociedade respeitadora dos direitos dos seus cidadãos e arranca dela contradições e ambigüidades, que por sua vez, são capazes de redimensioná-la e reinventá-la.

Na quarta-feira, dia 19 de março, às 19h, a mostra exibe “Edifício Master”, também de 1992. Durante sete dias, uma equipe de cinema filmou o cotidiano dos moradores do Edifício Master, situado em Copacabana, a um quarteirão da praia. O prédio tem 12 andares e 23 apartamentos por andar. Ao todo são 276 apartamentos conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas. Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e conseguiram extrair histórias íntimas e reveladoras de suas vidas.

Na quinta-feira, 20 de março, às 19h e às 20h, é exibido “O fim e o princípio”. Lançado em 1992, sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, Eduardo Coutinho e sua equipe de cinema chegam ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias para contar. No município de São João do Rio do Peixe, a equipe descobre o sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria ligada por laços de parentesco. Graças à mediação de uma jovem de araçás, os moradores – na maioria idosos – contam sua vida, marcada pelo catolicismo popular, pela hierarquia, pelo senso de família e de honra.

Na sexta-feira, dia 21 de março, a mostra exibe “Jogo de cena”, de 2007. Atendendo a um anúncio de jornal, oitenta e três mulheres contaram suas histórias de vida num estúdio. Em junho de 2006, vinte e três delas foram selecionadas e filmadas no Teatro Glauce Rocha. Em setembro do mesmo ano, atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas pelas personagens escolhidas. O que está em discussão é o caráter da representação. Neste filme, o jogo a ser jogado inclui pelo menos três camadas de representação: primeiro, personagens reais falam de sua própria vida; segundo, estas personagens se tornam modelos a desafiar atrizes; e, por fim, algumas atrizes jogam o jogo de falar de sua vida real.

No sábado, 22 de março, às 18h, o público poderá assistir ao documentário “As canções”, de 2011, um documentário que se interessa profundamente em ouvir seus personagens. Nele, os entrevistados cantam músicas que marcaram sua trajetória de alguma forma e explicam por que aquelas se transformaram nas canções de suas vidas.

No sábado, às 20h, haverá um reprise de “Cabra marcado para morrer” e no domingo, às 18h, será reprisado “Edifício Master” e às 20h, “Jogo de Cena”.

Mais informações no site do Instituto CPFL Cultura. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Mostra “Coutinho essencial”
Curadoria: Amir Labaki
Local: Auditório Umuarama
De 17 a 23 de março
Capacidade: 162 lugares
Entrada gratuita, por ordem de chegada, uma hora antes de cada sessão
Informações: cpfl cultura (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br