Médico afirma em Campinas que Brasil usa medicamento indiscriminadamente

O médico Ricardo César Caraffa, especialista em medicina preventiva, afirmou que existe uma banalização nos processos de administração de remédios no Brasil.

Ricardo César Caraffa
Ricardo César Caraffa

Segundo ele, os medicamentos estão sendo ofertados a pacientes de forma indiscriminada, sem critérios científicos definidos, num procedimento que resulta no que chamou de “epidemia de transtornos”.

Ricardo Caraffa participou nesta segunda-feira (11/11), em audiência na Câmara Municipal de Campinas e afirmou que a medicalização é a indicação de fármaco para tratar de um problema cuja etiologia não se conhece e muitas vezes, é proveniente de outra ordem – seja psicológica ou social. “Diferente do ato de medicar, quando você administra um fármaco para tratar de uma determinada enfermidade com base em critérios precisos, já conhecidos e bem estabelecidos. Por conta disso, crianças estão sendo levadas ao consultório porque não estão indo bem na escola”, diz.

Segundo o médico, hoje temos diagnósticos de déficit de atenção ou hiperatividade, por exemplo, como nunca se viu na história. É cada vez maior o consumo de vitaminas, anti-oxidantes e outros tipos de medicamento, o que tem provocado um aumento significativo no número de doenças. “A partir daí, a pessoa passa a ser paciente e, assim, consumidora de todo tipo de droga”, alerta.

Para o especialista, a medicalização é uma visão reducionista do problema, já que as famílias – e muitos profissionais – não procuram saber as razões de determinado comportamento. “Ignora-se, assim, de forma rasa, a complexidade dos processos subjetivos do ser humano e da educação. Esse fenômeno é conhecido como medicalização da educação. Através dele, a gente reduz questões escolares; sociais a problemas médicos e biológicos. Questões coletivas são transformadas em individuais. Reduz-se, assim, questões amplas e complexas como é a educação – e que deveria ser analisadas por diversas campos do conhecimento como a sociologia, história a antropologia – e concentra-se o problema no campo da medicina e, dentro dela, numa visão ainda mais simplista: a biologicista”.

Segundo ele, o Brasil vive uma “epidemia de diagnóstico”. “Muitos profissionais acreditam que uma pilula pode resolver os conflitos naturais da vida”, denuncia.

O médico participou da audiência a convite do vereador Pedro Tourinho (PT), autor do projeto que instituiu em Campinas o Dia Municipal de Luta contra a Medicalização da Educação e da Sociedade, lembrado todo dia 11 de novembro. (Carta Campinas com informações de divulgação)

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