A autoregulamentação do sistema financeiro não é capaz de gerar uma mudança no desenvolvimento econômico de forma a torná-lo sustentável, ou seja, ser capaz de conciliar crescimento econômico com preservação dos recursos naturais. Esse é o resultado da pesquisa de Maria de Fátima Cavalcante Tosini, realizada no Instituto de Economia da Unicamp. Somente um Estado regulador do sistema financeiro pode fazer com que o grande capital presente nos bancos privados sejam investidos com preocupação e viés socioambiental.

De acordo com o relatório de 2011 do Unep (United Nations Environment Programme), a escala de financiamento necessária para a transição até uma economia verde é de U$ 1,3 trilhão por ano, o equivalente a 2% do PIB mundial. “Estima-se que 80% deste capital viriam das instituições financeiras privadas – mas como levá-las a financiar a transição?”, afirmou a autora da pesquisa para o Jornal da Unicamp. De acordo com a pesquisadora, nas últimas quatro décadas em que houve uma hegemonia do mercado financeiro sobre as regras do setor, os problemas ambientais só pioraram.
Para chegar à conclusão sobre o fracasso da autorregulação e que o capital do setor financeiro foi incapaz de se mover em direção à sustentabilidade ambiental, a economista realizou uma extensa pesquisa no âmbito nacional e internacional. Foram recolhidas informações de 16 instituições financeiras no Brasil, com pesquisa de campo em nove delas: Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Citibank, Rabobank, BNDES, Caixa, Banco do Brasil e a Agência de Fomento de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP). E também pesquisa sobre o setor financeiro internacional.
“As pesquisas indicam que os países mais bem-sucedidos são aqueles que têm os aspectos ambientais regulados pelo Estado, com a adoção de políticas de comando e controle – ‘isso pode, isso não pode’ – e de incentivos econômicos. Conclui-se que é preciso regular não apenas o sistema financeiro; é preciso uma regulação coerente com a do setor produtivo. Cria-se assim um ambiente institucional favorável, no qual a autorregulação, que teve um papel importante no processo de conscientização da problemática ambiental, torna-se um complemento importante”, afirmou a pesquisadora ao órgão da Unicamp. (Rede CartaCampinas)