
Para legitimar a conservação dos privilégios e o abismo social, deputados da extrema direita dizem que o “brasileiro é conservador” e defendem o Estado mínimo para a população mais pobre. Mas a realidade é bem diferente, segundo pesquisa inédita divulgada nesta quarta-feira, 5 de novembro. O que é conservador no Brasil é o Congresso Nacional que mantém o monstruoso esquema de R$ 40 bilhões em emendas parlamentares para se perpetuar no poder e impedir que novas ideias renovem a política. Os brasileiros querem um Estado forte e com políticas sociais.
A pesquisa inédita ‘Um Desafio Pendente’, feita pela Fundação Friedrich Ebert Stiftung no Brasil (FES Brasil) entrevistou 2.024 jovens, na faixa etária de 15 a 35 anos, utilizando metodologia de amostragem online com painéis web. O resultado mostrou que o brasileiro é avassaladoramente progressista e deve ficar mais com o tempo, visto que a pesquisa entrevistou a faixa mais jovem da população.
A pesquisa aponta a importância de temas sociais e direitos para os entrevistados:
86% defendem a prioridade de oferta de educação e saúde pelo Estado;
85% destacam a proteção ao meio ambiente;
75% defendem o direito da autonomia dos povos indígenas e as comunidades étnicas sobre seus territórios;
71% defendem a questão da regulamentação das plataformas digitais;
60% acreditam que deve haver um imposto adicional para os ricos, a fim de redistribuir a riqueza.
Além disso, as mulheres jovens brasileiras são mais progressistas que os homens, que declararam posicionamentos menos progressistas à pesquisa. Apesar da divergência, o estudo aponta que jovens dos dois gêneros convergem sobre a necessidade de políticas públicas e a redução das desigualdades no país. Dentre as mulheres, 65% destacaram a importância de políticas de saúde, educação e combate à pobreza.
Posição política
No caso do Brasil, um ponto destacado pela fundação responsável pela pesquisa é que a dos entrevistados que se posiciona à direita (38%), enquanto 44% declaram ser de centro, e 18%, de esquerda. As mulheres se posicionaram mais à esquerda (20%), quatro pontos percentuais a mais do que os homens (16%).
“Tem um posicionamento mais à direita, mas a visão desses jovens não é necessariamente conservadora, nem defende todo o manual de extrema direita. Eu diria que a pesquisa consegue fazer a gente tensionar um pouco esse lugar do jovem na política, ou como ele enxerga a política”, disse Habermann
“Ainda que um pouco avesso à política, esse jovem está acompanhando e entende o papel do Estado como importante, e a necessidade de políticas de educação, emprego, segurança pública”.
Para Habermann, o percentual de 44% mais ao centro representa uma juventude que se percebe cansada com o tema da política e não representada, ou com falta de conhecimento político.
“Ao mesmo tempo, a gente consegue questionar esse posicionamento mais à direita ou à esquerda com os valores que a juventude coloca”.
Ele exemplifica que predominam as posições progressistas quanto à igualdade e direitos: 66% apoiam a liberdade de orientação sexual e identidade de gênero, 58% aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo e 59% concordam que pessoas transgênero devem ter acesso a cuidados de saúde relacionados à afirmação de gênero.
Já em relação ao aborto, prevalece a posição mais conservadora. Apesar disso, pelos um terço, 33% dos pesquisados, apoiam a legalização do aborto, enquanto 51% se declaram contrários, e 16% não souberam responder. Parece que todo discurso conservador se baseia nesse único tema.
Mas se a pergunta fosse “a mulher deve ir para a cadeia, ser presa, por prática de aborto?”, resultado seria outro. E essa é a questão principal da legalização. E uma pesquisa já mostrou que 84% dos brasileiros são contra a prisão da mulher nessa situação.
Democracia contra a extrema direita que tentou um golpe de estado em 8 de janeiro
A maioria da juventude (66%) considera a democracia a melhor forma de governo e 49% acreditem que uma democracia pode funcionar sem partidos.
Já 58% dos entrevistados manifestaram preferir um líder fortes, que resolve melhor os problemas, do que os partidos ou as instituições. Líderes fortes, mas democratas, visto que somente 29% disseram preferir um governo autoritário.
A questão da raça é um fator determinante: jovens negros expressam maior desconfiança na polícia e no sistema judiciário, refletindo a desigualdade racial histórica e o impacto da violência institucional.
O progressismo dos pesquisados também fica evidente quando para 61% dos jovens os problemas que mais preocupam o Brasil são a pobreza, o desemprego e a falta de acesso a direitos, além do consumo de drogas, corrupção e o crime organizado, temas que, para a juventude brasileira, deveriam ser abordados pelas políticas públicas no país.
Para 55% dos jovens, cabe ao Estado garantir políticas de emprego, seguido de políticas sociais (46%) e políticas para a segurança cidadã (27%). “Eles querem políticas de bem-estar social e políticas para segurança cidadã, como proposta do governo federal, de vereadores, de deputados estaduais”. (Com informações da Agência Brasil)
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