Cia Teatro dos Ventos reflete sobre o crescimento da extrema direita no Brasil na peça ‘O Sonho Americano’

(foto: joão caldas/divulgação)

Em São Paulo – Foi a partir de reflexões sobre o crescimento do pensamento fascista ao redor do mundo e da extrema direita no Brasil que nasceu o espetáculo “O Sonho Americano”, que a Cia Teatro dos Ventos apresenta até o dia 30 de março no Teatro Studio Heleny Guariba, em São Paulo.

Escrita e dirigida por Luiz Carlos Checchia, a peça é ambientada no início dos anos 1970, no auge do endurecimento da ditadura, e estabelece conexões entre o regime militar e a ascensão do bolsonarismo. Na história, Beatriz, uma jovem de classe média baixa, sonha em ir para os Estados Unidos para escapar de uma vida sem perspectivas. Ela disputa uma vaga em Harvard, mas seus planos podem sofrer um revés com a visita de seu primo Bento, que entra para a luta armada.

Para construir o texto, o dramaturgo se inspirou na maneira como os estadunidenses constroem as suas narrativas, principalmente quando apostam em um registro mais realista. “Não me restringi ao teatro. Li e reli produções de Eugene O’Neill, Arthur Miller, Tennessee Williams, Tony Kushner, John Steinbeck, Flannery O’Connor e Ernest Hemingway. Também assisti a muitos filmes dos anos 40, 50 e 60, especialmente os de Billy Wilder. Alguns me marcaram muito, como ‘Farrapo Humano’ e ‘Entre Deus e o Pecado’”, conta Checchia.

Ao mesmo tempo, diz, a obra flerta com o realismo mágico do escritor argentino Júlio Cortázar. Durante a montagem, acontecem algumas situações absurdas, como se fossem devaneios. A intenção do dramaturgo é usar elementos fantásticos para acentuar as contradições do mundo.

“Podemos dizer que ‘O Sonho Americano’ é dividido em dois momentos. Primeiro, há um clima bastante afetivo entre os integrantes da família, primos e tia. Mas, depois, quando Beatriz descobre que conseguiu a bolsa para sua pós-graduação, tudo se torna sombrio e denso, já que ela fica preocupada que a presença de um subversivo na sua casa possa atrapalhar seus planos”, adianta Checchia.

Em cena, estão Camila Costa Melo, Cristina Bordin, Flávio Passos, Gabriel Santana e Ruben Pignatari, interpretando, segundo o autor e diretor, personagens complexos, sem mocinhos e vilões.

No ano passado, Checchia defendeu o doutorado “O discurso do capitão: a emergência do bolsonarismo e sua guerra cultural”. Por essas investigações, a peça estabelece conexões entre o período da ditadura militar e o Brasil de hoje, e como o pensamento de extrema direita pode impactar tão profundamente as relações familiares. (Com informações de divulgação)

Serviço

Data: até 30 de março
Horários: 20h aos sábados e 19h aos domingos (não haverá espetáculos nos dias 1º e 2/3)
Local: Teatro Studio Heleny Guariba
Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 184, República, São Paulo-SP
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia), à venda pelo link ou pelo Sympla

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