Um dos desafios das democracias capitalistas é controlar um monstro psíquico que elas próprias criam e que é germinado dentro da sua estrutura e engrenagem. Esse monstro, e aqui é chamado de monstro, porque ele busca se colocar acima de qualquer controle social e político da coletividade.
É comum dizer que o poder corrompe. Mas o enriquecimento financeiro excessivo também corrompe não só as organizações, as estruturas, mas também a consciência do ser humano.
O que há em comum entre Elon Musk, Marçal e os assassinos do Porsche é uma condição psíquica em que o sujeito se sente, por sua condição financeira excessiva, acima do regramento social e superior na convivência social, ele vive uma excitação de poder. Tudo deve estar projetado para o seu benefício próprio e de seu grupo corruptor. O sujeito convive em sociedade, mas a sociedade deve servi-lo, visto que ele se considera numa condição superior devido a sua condição financeira. E isso explica de certa forma como o fascismo tenta se lastrear na monarquia.
Eles não são doentes, não devem ser tratados como incapazes, ainda que exerçam via consciência social uma espécie de psicopatia para subjugar a sociedade. O tratamento talvez seja somente o isolamento ou o encarceramento. É certo que isso não acomete todos milionários, mas há casos repetidos e que afloram em condições instáveis da própria sociedade, como uma doença oportunista. E a condição para a doença oportunista é o fascismo contemporâneo.
Essas consciências questionam: como pode uma republiqueta como o Brasil querer me impor limites? Como pode um pé rapado entregador de comida agredir o meu retrovisor do Porsche? Como podem estabelecer regras eleitorais para mim, se estou acima das regras e posso arrebentá-las seja no comportamento ou financeiramente?
Eles, por sua condição financeira, desenvolvem consciências estratégicas para se sobrepor à sociedade, uma espécie de Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), com comportamentos agressivos, desafiadores, inconsequentes e hostis contra uma coletividade específica. Não contra todas as coletividades, tudo é estrategicamente bem pensado para galgar o deleite do poder e da riqueza financeira.
E o problema para as democracias capitalistas é que esses sujeitos estão aderidos ao próprio sistema de desigualdade com todo suporte técnico-jurídico e financeiro capaz de interferir, combater e corromper o sistema. Para controlá-los não basta uma cadeirada coletiva, é preciso talvez o controle socioeconômico da ganância. Algumas doses de socialismo.