Ícone do site CartaCampinas

Emissoras de TV no Brasil divulgam ‘banho de fake news’ sobre discurso de Nicolas Maduro

(foto avn)

As emissoras de TV no Brasil agem como um cartel na divulgação de fake news e atribuem a Nicolas Maduro, presidente da Venezuela, uma possível ação que ele atribuiu aos seus opositores. Não é preciso gostar de Maduro para não mentir ou induzir ao erro. Maduro afirmou que a oposição faria um ‘banho de sangue’. E as emissoras brasileiras inverteram e induziram o entendimento de que Maduro faria um ‘banho de sangue’, caso não fosse eleito. Isso é um banho de fake news. Acompanhe a real:

Em vídeo publicado na TV Diálogos do Sul Global, analista política Vanessa Martina-Silva ressalta importância de compreender o contexto da fala de Maduro e não se deixar enganar

Por Guilherme Ribeiro, no Diálogos do Sul Global

CNN, Folha, Metrópoles… estão mentindo descaradamente”, afirma a analista política Vanessa Martina-Silva sobre as matérias recentemente publicadas no Brasil sobre uma declaração dada por Nicolás Maduro durante um comício em Caracas em 17 de julho.

Na ocasião, o líder venezuelano usou os termos “guerra civil” e “banho de sangue”.

Em vídeo publicado nesta terça-feira (23) no canal da Diálogos do Sul Global no YouTube, Martina-Silva denuncia como a grande mídia brasileira descontextualizou a fala, que tem um total de 1 hora e 21 minutos, para associar o chavismo e o atual presidente da Venezuela e candidato à reeleição à ideia de um regime ditatorial e sanguinário.

Aqui, a declaração completa de Maduro.

Abaixo, o vídeo de Vanessa Martina-Silva na íntegra.

“Precisamos analisar as informações para não sermos enganados pelo que a grande mídia está divulgando”, segue a jornalista, que está na capital venezuelana para cobrir as eleições presidenciais que acontecem do próximo domingo, 28 de julho.

Para elucidar a questão, Martina-Silva expõe o trecho do pronunciamento de Maduro, no qual o presidente afirma:

“O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se vocês não querem que a Venezuela caia numa guerra civil ou num banho de sangue produto dos fascistas, temos que garantir o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”.

Conforme explica a editora da Diálogos do Sul Global, Maduro fez referência a episódios do passado recente da Venezuela, em 2014 e 2017, quando opositores do chavista organizaram motins que deixaram dezenas de mortos.

Os protestos de 2014, por exemplo, vieram após as eleições legislativas de 2013, quando Maduro venceu por menos de 1% dos votos.

“O que aconteceu: a oposição não reconheceu os resultados, foi pras ruas, houve protestos violentos chamados Garimbas, mais de 100 pessoas morreram”, lembra Martina-Silva.

Na época, ruas foram bloqueadas com arame farpado e houve casos de motociclistas degolados. “É a isso que Maduro está se referindo: se a vitória não for contundente, vai ser como em 2014, um banho de sangue”, explica a jornalista.

Comentário de Lula sobre fala de Maduro

Vanessa Martina-Silva também comenta a declaração de Lula sobre a fala de Maduro.

O presidente do Brasil se disse “assustado” e afirmou que “quem perde as eleições, toma um banho de voto” e que “Maduro tem que aprender: quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora”.

A jornalista aponta que as palavras de Lula são corretas se analisadas de forma literal. Porém, com uma observação mais atenta, é possível apontar que levam em conta as informações disponíveis na internet e divulgadas pela grande mídia, e não o panorama da política e da história venezuelanas.

“Espero que Lula tenha se equivocado. Isso é muito triste, porque o Presidente da República precisa ter responsabilidade, ainda mais no Brasil”, observa a repórter.

E acrescenta: “Maduro tem estado em dois ou três estados por dia. Se as eleições fossem uma fraude, ele poderia fazer campanha tranquilo em Caracas, e não estar viajando de forma frenética como está”.

Divulgar para derrotar a manipulação

“As frases não podem ser tiradas de contexto. Existe texto, contexto, subtexto, história. Nada está isolado no mundo”, reforça Vanessa Martina-Silva no vídeo elucidativo.

Ela pede àqueles que compreenderam a explicação e o contexto da fala de Nicolás Maduro que compartilhem para que mais pessoas fiquem a par da realidade dos fatos e não caiam nas alegações feitas pela grande mídia brasileira.

“Acompanhem a nossa cobertura aqui na Venezuela, teremos nos próximos dias bastante conteúdo”, finaliza.

A propósito, se alguém tem alguma dúvida sobre o que Maduro disse no comício, veja a íntegra da fala dele, sem cortes. (vídeo)

*Guilherme Ribeiro é jornalista graduado pela Unesp, estudante de Banco de Dados pela Fatec e colaborador na Revista Diálogos do Sul. (Do Viomundo)

Sair da versão mobile