A criminalização das drogas, a chamada ‘guerra às drogas’, é fundamental para aumentar e explorar ao máximo os trabalhadores no sistema capitalista. Por isso, os maiores defensores da guerra às drogas são integrantes da extrema direita, que também defendem o fim da proteção social aos trabalhadores e a liberdade para que a polícia mate suspeitos de tráfico. Isso tem muita lógica e coerência.
Para quem nasce e cresce em comunidades pobres, são poucas as opções na vida. Baixa qualidade da educação, baixo nível de vínculos com setores mais ricos da sociedade e deficiência de todos os serviços do Estado.
A única opção é trabalho pesado, trabalho informal ou formal com salário mínimo durante uma vida inteira. Passar por períodos de desemprego é o mais comum. O destino, salvo raras exceções, é uma vida miserável e sem alternativa até a velhice. Imagina um jovem descobrindo o seu destino irremediável diante da porta do tráfico aberta.
Todos sabem que a guerra às drogas não funcionou, não funciona e não vai funcionar. Matamos 22 mil pessoas para proteger 50 vidas que querem se drogar (qual o sentido disso?).
Mas a ideia é defendida com unhas e dentes pela extrema direita e pela direita. A guerra e os gastos aumentaram e a situação só piorou nas últimas décadas. O Brasil reduziu o consumo de cigarros sem dar nenhum tiro, mas há quem lucre com a violência da guerra às drogas. Ou seja, é possível controlar o consumo de drogas sem a violência policia.
Não por acaso, a extrema direita também defende menor regulação do trabalho, menos direitos para os trabalhadores, menos fiscalização do trabalho etc. Assim, o jovem nascido nas comunidades pobres terá a oportunidade de um trabalho pesado, com salário de fome durante a vida toda. E precisa obedecer, aceitar. Por isso, a extrema direita quer escolas militares nas periferias. Para catequizar a obediência dos mais pobres diante do sistema, para trabalharem como condenados durante a vida toda. É o projeto da ‘escravidão consentida’ muito presente nos ideólogos da direita.
Com o tráfico de drogas, o jovem vê uma oportunidade de não se submeter ao que seus avós e pais se submeteram: uma vida miserável e sem futuro de crescimento. É certo que ele poderá morrer ou ser preso, mas parece que para alguns vale a pena correr esse risco e viver com maior reconhecimento comunitário e recursos financeiros, ainda que provavelmente tenha uma vida de risco ou breve.
Assim, faz bastante sentido que a mesma extrema direita defenda que as polícias matem esses jovens, ligados ou não ao tráfico, sem qualquer julgamento ou sem qualquer prova de culpabilidade. A ação da polícia matando jovens nas comunidades pobres tem um efeito pedagógico para aqueles que não querem se submeter a um trabalho aviltante durante toda a vida: “Ou trabalha como pobre conformado ou leva bala na cabeça”. Essa é a mensagem.
Assim, os jovens são obrigados a aprender logo cedo que terão de se submeter as condições impostas de trabalho ou encontrarão uma a punição violenta graças à criminalização as drogas. A morte de cada jovem preto ou pardo nas periferias em ações da polícia contra o tráfico funciona como uma espécie de coação para maximizar a exploração do trabalho.
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