Os pesquisadores Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente e Flávio de Medeiros, da Universidade Federal de Lavras, estimam que a área de produção agrícola com uso de controle biológico contra doença de plantas no Brasil deve ser superior a 70 milhões de hectares. Eles escreveram um artigo em que buscam compreender como o Brasil se tornou o maior produtor e consumidor de produtos de biocontrole. Em menos de 20 anos, o número de produtos biológicos registrados no Brasil passou de apenas um, em 2005, para 482 registrados em fevereiro de 2023.
Esse crescimento aconteceu mesmo diante da investida do governo anterior de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL), que liberou produtos químicos altamente tóxicos, alguns totalmente proibidos em outros países, para uso na agricultura brasileira. O Brasil teve aumento de casos de contaminação por agrotóxicos.
Para os pesquisadores, o Brasil tem um histórico de uso de biocontroles. “O uso do fungo Metarhizium anisopliae para controle de cigarrinha em cana-de-açúcar e estirpes fracas do vírus da tristeza dos citros para o controle desta doença na década de 1960, e de Baculovirus para o controle de lagarta da soja na década de 1970, são exemplos importantes. Na mesma década, o controle da broca-da-cana-de-açúcar por meio do uso da vespinha Cotesia flavipes se tornou uma estratégia de manejo padrão em todo o país. O sucesso dessas estratégias de biocontrole fomentadas pelas pesquisas estimulou investimentos em estudos tanto de biocontrole de pragas quanto de doenças de plantas nas décadas seguintes. No entanto, o mesmo sucesso não foi obtido com o biocontrole de plantas daninhas”, anotam.
Atualmente, dizem, para cada doença de planta relevante, como por exemplo a ferrugem asiática da soja, a ferrugem do cafeeiro e o mofo-branco, já existe pelo menos um produto de biocontrole registrado. “As maiores áreas sob controle biológico com bioprodutos registrados em 2022 foram soja (20 milhões de ha), milho (9,8 milhões de ha), cana-de-açúcar (6,6 milhões de ha), café (0,4 milhão de ha), outras culturas (4,1 milhões de ha) (Limberger, 2022-dados da Spark)”.
Wagner Bettiol e Flávio de Medeiros ainda afirmam que para que o controle biológico continue a crescer no Brasil é preciso investir em 4 pontos: 1. Desenvolver bioherbicidas; 2. Realizar o controle da ferrugem asiática da soja e da folha do café, bem como do oídio em várias culturas exclusivamente com agentes de controle biológico e, eventualmente, em combinação com outras abordagens ecológicas, como cultivares resistentes e práticas de manejo de culturas; 3. Selecionar novos agentes de biocontrole adaptados ao clima tropical, bem como adaptados e capazes de lidar com as mudanças climáticas; e 4. treinar os envolvidos nas cadeias produtivas em controle biológico. (Veja artigo completo AQUI)