Vai se f*@# com sua toga, arrombado!
.Por Rafael Martarello.
Em continuidade a série de textos para divulgar o rap, a obra que venho reavivar é a música Endereçado à Sociedade do rapper Eduardo Taddeo que compõe o álbum A Fantástica Fábrica de Cadáver.
A letra, como marca do Eduardo Taddeo, traz um combo de informações e contundentes críticas. Outra marca do rapper, presente na letra, é a expressão aberta de revolta e o alerta às consequências da manutenção da opressão ao revoltado.
O rap inicia dizendo “Só aceito o veredicto do juiz pra minha gente, se Deus em pessoa garantir seus antecedentes”. Pessoalmente, eu não consigo passar por este verso e não lembrar do Presidente Lula. Esse verso também é fundamental para questionar, ao estilo cético de Francisco I da França, a legitimidade e honestidade do sistema policial-judicial-carcerário brasileiro que encarceraram nos cômodos do inferno 61 mil novas pessoas entre maio de 2020 e maio de 2021.
Atualmente, está em voga a defesa do poder judiciário, esquece-se que este é força mais reacionária dentro de um regime político. É um poder que não emana do povo, que não é representativo, e que não passa pelo controle popular ou pela possibilidade de destituir juízes, logo é a face mais antidemocrática e medieval da nossa organização societal.
Esquece-se que o judiciário é o Sérgio Moro, é o Alexandre de Moraes, é a Joana Ribeiro Zimmer, é o Wilson Witzel, é o Brettas, é o trio do TRF-4. Como é muito noticiado, são também juízes e desembargadores que cometem assédio sexual, que vendem sentenças, que desviam dinheiro público, que condenam sem provas, que só permitem a defesa acessar as provas para o Tribunal do Júri momentos antes do julgamento.
A população em geral não sabe, mas a punição, leia-se prêmio, para juiz que comete algum ato ilícito, é a aposentadoria compulsória com manutenção da remuneração. A população também não sabe que no ingresso na magistratura ocorre por parâmetros pouco isentos e imparciais, com a completa abertura da possibilidade de indicação. Parâmetro esse que se repete em cargos chaves do sistema repressivo como promotores e delegados, mas deixo a crítica aberta a todos os outros concursos.
Embora, em um primeiro momento, parece uma fantasia ou um aumento das colocações da música, o refrão da música denota total clareza do rapper a respeito do entrelaçamento do sistema de dominação,
“Mesmo com juiz querendo minha carne enjaulada
Continuo expondo sangue da guerra não declarada!
Mesmo com a polícia me querendo na cova rasa
Continuo expondo sangue da guerra não declarada!
Mesmo com playboy querendo minha mente alcoolizada
Continuo expondo sangue da guerra não declarada!
Mesmo com político querendo minha voz silenciada
Continuo expondo sangue da guerra não declarada!”
Outra consideração notável é a defesa do rap, visto como música violenta, em geral, uma acusação que sempre perseguiu Eduardo Taddeo. Na visão do rapper, violenta é a elite que rouba merenda, que prefere alimentar cachorro do que criança, que faz criança morar na rua. Ao contrário, a periculosidade do rap está relacionada com a postura revolucionária, nas palavras do rapper:
“Sou perigo porque sei que operação policial,
Com saldo de trinta mortes é extermínio social.
Sou perigo porque meus heróis combatiam a segregação,
Enfrentando o jato d’água e pastor alemão“
De forma geral, a letra cita o crime como causa econômica, cita a desigualdade permanente imposta pelos países imperialistas, condena a exploração do trabalhador por um mísero salário, condena a enganação religiosa e o genocídio do povo periférico, e por fim, o rapper ainda faz uma exaltação à Marx “realmente nos enquadramos na luta de classes, relatada nas obras de Karl Marx“.
Finalizo com um dos melhores versos dedicados a opressão da burguesia, seu braço armado e seu órgão punidor: “luta significa agressão mútua, não povo dizimado em silêncio por filhos da puta!”.
Confira a música!