Só a antropofagia e a utopia se unem. É necessária uma antropofagia econômica em um país tão devoradamente desigual. A antropofagia é a nossa filosofia, nossa reinvenção e será a nossa economia.
É preciso devorar o marxismo, degluti-lo para que novas formas econômicas e filosóficas possam se estabelecer em um país estruturalmente desigual, violento, racista. “É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à ideia de Deus”, nos disse Oswald.
É preciso devorar o marxismo na economia, não só na política e suas representatividades atrofiadas em 200 anos. É preciso fazer a antropofagia dos modos de produção.
Só nos interessa a contradição da produção, a insolubilidade de gerentes e operadores. Aqui o marxismo é sufocado e não consegue renascer. Na operação das máquinas. É preciso comer as máquinas da produção. A máquina que devora o planeta.
To make or not to make, to do ou let to do, estas são as questões. Quem vai produzir, não sob a chibata, mas com a própria consciência, com os próprios fantasmas?
“Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem”, insiste Oswald.
É preciso fazer antropofagia do marxismo contra as elites vegetais e representativas, contra a paralisação centenária dos ganhos utópicos.
Chega de catequeses. Chegas de pastores marxistas ditando os dogmas do livro sagrado.
Chega de marxismo representativo enjaulado em parlamentos burgueses. Chega de democracia com grades legais. “A nossa independência ainda não foi proclamada”.
A antropofagia não gera um único marxismo, mas trezentos. Somos trezentos e cinquenta marxismos, plurais e diversos.