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Diversidade de corpos, estéticas e linguagens marcam a 12ª edição da Bienal Sesc de Dança

Pluralidade de corpos e estéticas da dança contemporânea, artistas das várias regiões do Brasil e atrações internacionais. Em cena, linguagens que pontuam as ameaças às florestas e aos povos indígenas, os efeitos do racismo estrutural, a intolerância à população LGBTQIA+ e o estigma sobre a sexualidade de pessoas com deficiência, homenagens a Ismael Ivo e Lia Rodrigues. Esses são alguns dos componentes da 12ª edição da Bienal Sesc de Dança, uma realização do Sesc São Paulo com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Campinas e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A programação é gratuita e acontece de 2 a 10 de outubro no perfil do Instagram do Sesc Ao Vivo (@SescAoVivo), no canal do YouTube do Sesc São Paulo (Youtube.com/sescsp) e Plataforma Sesc Digital (sesc.digital).  

Matéria Escura, Cena 11 (Foto: Cristiano Prim)

Durante uma semana, o público pode conferir uma diversidade de linguagens com mais de 20 apresentações artísticas (espetáculos ao vivo e gravados), mostra de videodanças, mostra de cinema, mesas de conversas, aulas abertas, aulas magistrais e ainda workshops com artistas portugueses em diálogo com brasileiros. A curadoria reuniu um grupo transversal de programadores do Sesc SP que se debruçou nas discussões que a dança tem lançado e enfrentado nestes quase dois anos com o corpo confinado nos espaços e nas telas. 

“A Bienal Sesc de Dança chega à sua 12a edição e segue pela via na qual obra e público ainda se veem mediados por câmeras e telas, dando seguimento aos protocolos sanitários necessários nos dias atuais”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. E complementa: “Contexto que atravessa nossos corpos há mais de um ano e meio, a atual pandemia traz contingências que constantemente fazem surgir novos modos e novas dinâmicas nos terrenos da criação estética e sua fruição, assim como da própria ação cultural e educativa. Ainda assim, mesmo com a incerteza como tônica, tal perspectiva não foi capaz de refrear algo que nos caracteriza como seres munidos de linguagem: a expressão”.

Despacho Deferido, Jaqueline Elesbão (Foto: Liz Santana)

A iminência do desconfinamento foi uma das principais questões que permearam o pensamento curatorial, e essa discussão se reverbera na ocupação de diferentes espaços das Unidades do Sesc Campinas, Pompeia, Vila Mariana, Guarulhos e 24 de Maio. Os artistas foram convidados para criarem e adaptarem trabalhos levando em consideração a relação dos corpos com as arquiteturas e apresentação da dança ainda mediada pela tela.  

A equipe curatorial buscou uma transversalidade na programação entre o corpo e o pensamento. Logo na abertura, o escritor e sociólogo Muniz Sodré ministra a aula magistral Dança e Corporeidade, que reflete sobre o corpo humano enquanto compreensão primordial do mundo e as inúmeras possibilidades criativas da dança.

Imalẹ̀ Inú Ìyágba, Adnã Ionara (Foto: Giovana Romaro)

O coreógrafo e bailarino paulistano Ismael Ivo, vítima da Covid-19, será homenageado com o lançamento do filme “Ismael Vivo”, produzido pela TV Cultura, além da exibição de outras obras coreografadas pelo artista. Os 30 anos da Lia Rodrigues Companhia de Danças também serão homenageados com sete vídeos cadernos idealizados como uma coleção em torno do universo poético, político e artístico da Companhia. É uma colagem de momentos de ensaio, apresentações, inspirações, imagens, fotografias e depoimentos dos artistas. Aquilo que Somos Feitos, Formas Breves, Pindorama, Para que o Céu não Caia e Fúria são dedicados ao repertório do coletivo. Já o Caderno Covid 19 e o Caderno Maré refletem os últimos tempos. O projeto surgiu a partir de um convite do Teatro HAU, Hebbel am Ufer, de Berlim (Alemanha), para que a Companhia produzisse material sobre seu trabalho para ser divulgado de maneira on-line.

Uma das mais importantes companhias de dança contemporânea do Brasil, o Grupo Cena 11 (Santa Catarina) abre a Bienal com o espetáculo Matéria Escura. A peça coreográfica estava agendada para estrear na Alemanha, em abril do ano passado, com o adiamento o grupo teve que reinventar seu modo de trabalhar, e por consequência a própria peça coreográfica. Matéria Escura acontece de forma simultânea, digital e fisicamente, com transmissão e edição em tempo real. É a primeira vez que o grupo, inquieto por natureza com a tecnologia do movimento, está às voltas com a linguagem de programação e softwares, forjando um ecossistema que quebra linearidades. De Burkina Faso, radicado na França, Salia Sanou abre a programação internacional com Multiple-s. O artista usa a figura “cara a cara” para expressar o confronto, a complementaridade e a alteridade, convidando a coreógrafa franco-senegalesa Germaine Acogny, a escritora canadense Nancy Huston e o músico francês David Babian, o Babx.

Entre as estreias nacionais, marcam presença espetáculos com temáticas voltadas para o universo afrodiaspórico. Jaqueline Elesbão (Salvador) traz Despacho Deferido, onde a bailarina e ativista une capoeira, projeção, tradições culturais afro-brasileiras para escancarar o racismo estrutural e denunciar o sexismo. A premissa do feminismo negro impulsiona Na Fresta da Certeza, o Vermelho Escuro, de Luciane Ramos-Silva (São Paulo). IKU, do Núcleo Ajeum (São Paulo) faz uma reflexão sobre as mortes em tempos de pandemia e das vidas negras. O coletivo está sediado na periferia da zona sul de São Paulo, entre as regiões do Jardim São Luis, Campo Limpo e Capão Redondo. Adnã Ionara (Campinas, São Paulo) estuda as relações entre música e dança e a afrodiáspora em Imalè Inú Ìyágba. Em Delirar o Racial, a dupla Davi Pontes e Wallace Ferreira (Rio de Janeiro) lidam com uma série de ações que envolvem a incerteza, a desordem e o provisório para pensar uma ética fora do tempo para vidas negras.

Delirar o Racial – Davi Pontes e Wallace Ferreira (Foto: Matheus Freitas)

João Paulo Lima (Fortaleza) investiga o corpo e a pessoa com deficiência, ele mesmo é amputado de um membro inferior. Em dose dupla na Bienal, o artista fala do fetiche por pessoas amputadas em Devotees. Em seu outro trabalho, N’Otro Corpo, foca em uma dança que veio “empoderar” e questionar a hegemonização do corpo. Alexandre Américo (Natal) reflete sobre a condição de isolamento voluntário e positivo em contraste com o advento do chamado distanciamento social imposto pela pandemia no solo Goldfish. Do andar ociosamente, sem rumo nem sentido certo, Beatriz Sano e Eduardo Fukushima (São Paulo) criaram O que Mancha.

Goldfish, Alexandre Américo (Foto: Brunno Martins)
O Que Mancha – Beatriz Sano e Eduardo Fukushima (Foto: Paula Ramos)

Renan Martins & Frankão, brasileiros radicados em Portugal, apresentam Viaduto, baseado em festas de rua, principalmente em espaços que não são necessariamente para este objetivo. Na montagem, os artistas exprimem suas origens brasileiras, pois têm como referência o Baile Charme do Viaduto de Madureira e o extinto Viaduto da Perimetral.

Viaduto, Renan Martins & Frankão (Foto: Jose Caldeira 8)

Por meio de uma plasticidade coreográfica, a Ninety9 Art Company (Coreia do Sul) expressa o han, a quintessência da sensibilidade coreana que significa ressentimento ou tristeza em Abismo. A jovem criadora Jang Hye-rim revisita as tradições e, por meio de sutilezas, usa a dança como um envio de eco à alma. Em 131 OUT, Sara Marasso (Portugal) e Stefano Risso (Itália) fazem um convite para olhar de forma diferente o espaço exterior, os espaços das cidades e as relações humanas. A coreografia coloca em cena um bailarino, um músico e seu contrabaixo.

Abismo, Ninety 9 Art Company (Foto: Abyss – 99 Art Company 9)

Ainda entre os internacionais, Joana Castro (Portugal) está à frente da performance/instalação Darktraces que lida com a morte, transformação e regeneração, um ciclo que termina e começa outro, onde figuras se vão construindo a partir da destruição de outras, corpos que se (des)multiplicam em outros corpos e danças.

A parceria latino-americana entre Fausto Ribeiro e Lucía Sismondi – Istmo Nómade (Brasil/Uruguai) deu origem a NO HACER NADA pulverizar, um solo sobre a situação da espera e os efeitos dela, uma percepção que ficou ainda mais aguda com a pandemia e com a inspiração no escritor argentino Jorge Luis Borges.

NO HACER NADA pulverizar – Fausto Ribeiro e Lucía Sismondi – Istmo Nómade (Foto: Stephanie Gonzalez)

A mostra de videodanças apresenta obras de artistas jovens da dança contemporânea produzidas para as mídias “da palma da mão”, que usam ferramentas de videochamada, videoclipe, e até mídias sociais como o TikTok. Explorando essa linguagem, haverá o laboratório Danças Para Todas As Telas: Partilhas com curadoria formada por Isis Gasparini, Rodrigo Gontijo e Vanessa Hassegawa. A atividade propõe desdobramentos dos projetos selecionados em diálogo com as obras que compõem a mostra de videodança. Serão três encontros e as inscrições podem ser feitas no link. Ao longo dos encontros, serão discutidas possibilidades para desenvolver tais projetos a partir da exploração prática do movimento dançado e da orientação das diversas formas de registros poéticos mediados pelo audiovisual. A proposta é que os participantes tragam recortes de seus processos criativos para uma partilha coletiva.

131 OUT – Sara Marasso _ Stefano Risso (Foto: Pedro Sena Nunes)

A mostra de filmes Ó, meu corpo! Uma coleção de filmes incorporados, com curadoria da pesquisadora Amaranta César, apresenta uma seleção de trabalhos que aborda a presença do corpo no cinema brasileiro contemporâneo. Atentos aos novos formatos, dois podcasts serão produzidos e lançados na Bienal, Uma Rádio na Paisagem, de Gustavo Ciríaco, e Mover(-se): Sete Peças Para Deslocar-se de Dentro pra Fora, produzido e desenvolvido pelo Coletivo Teatro Dodecafônico. 

A causa LGBTQIA+ é um dos cernes da programação e está inserida em Conversa Pra Boy Dormir, união do Coletivo Mexa e GRUA (São Paulo), que aborda questionamentos de gênero e identidade com uma performance que se infiltra no espaço urbano. Uýra Sodoma (Manaus) é uma entidade indígena criada por Emerson Pontes, biólogo, educador e artista visual multimídia. Sua performance mostra uma arte LGBTQIA+, de resistência em defesa da flora, da fauna e do povo amazônico.

Conversa pra Boy Dormir – Mexa + GRUA (Foto: Leandro Moraes)

O público infantil também tem opções na programação, Clarice Lima (São Paulo) traz Bichos Soltos em Casa, onde quatro bailarinas com um figurino/fantasia/criatura/fantástica movimentam-se de forma dinâmica questionando a relação entre o homem, a natureza e o ambiente doméstico. Já Elisabete Finger (São Paulo) apresenta Buraco, que tem como objetivo abrir um espaço para uma aventura sensorial e sensível para os pequenos ao explorar as possibilidades de ser e mover um corpo em contato/colisão com outras matérias.

Buraco – Elisabete Finger (Foto: Renato Mangolin)

O diretor americano Peter Sellars encerra a programação com Este Corpo é Tão impermanente…, que traz no elenco a cantora do sul da Índia Ganavya Doraiswamy, o dançarino de improvisação Michael Schumacher e o calígrafo Wang Dongling. As obras de Sellars exploram questões que conectam o contemporâneo e o atemporal, com uma compreensão do poder da arte como meio de ação social e expressão de ideias.

Confira a programação completa no site bienaldedanca.sescsp.org.br.

Goldfish, Alexandre Américo (Foto: Brunno Martins 5)

BIENAL SESC DE DANÇA

De 2 a 10 de outubro

Grátis. 100% on-line

Informações: bienaldedanca.sescsp.org.br

Laboratório Danças para Todas as Telas: Partilhas
Dia 8/10, sexta, das 19h às 22h.
Dias 9 e 10/10, sábado e domingo, das 10h às 13h.
Grátis. 16 anos.
Vagas limitadas. Atividade na plataforma Zoom, através do envio de link, até o dia da atividade, apenas para os selecionados.
Seleção: Para se candidatar à inscrição, o participante deve enviar uma carta de intenção até o dia 28/9 contendo: o argumento em até 4 linhas, link com o teaser de até 60 segundos e minibiografia. A carta deve ser enviada para formativasbienal.campinas@sescsp.org.br com o título “Dança para todas as telas”

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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