Os EUA estão enfrentando as consequências da devastadora epidemia de remédios vendidos em farmácia derivados de opioides e que matou mais de 500.000 pessoas no país desde 1999. O tema está ganhando destaque com o documentário do cineasta vencedor do Oscar Alex Gibney. Em o “O Crime do Século”, Gibney mostra os métodos da indústria farmacêutica na promoção e venda de drogas poderosas.
“Percebi que o grande problema aqui era que estávamos vendo isso como uma crise, como um desastre natural, como uma enchente ou um furacão, ao invés de uma série de crimes. Você teve esses incentivos terríveis, onde o incentivo não é curar o paciente. O incentivo é apenas ganhar o máximo de dinheiro possível”, disse em entrevista ao canal Democracy Now.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças afirmam que as mortes por overdose de drogas nos EUA dispararam para um recorde de 93.000 no ano passado – um aumento de quase 30%. As drogas viciaram, debilitaram e mataram centenas de milhares de norte-americanos (Veja estudo do CDC) desde 1999 como a falta de controle sobre as grandes farmacêuticas, famintas por lucros, avançando todos os sinais e alarmes.
A primeira parte do documentário investiga como a Purdue Pharma, em 1996, colocou no mercado um remédio chamado OxyContin e o empurrou como fast food – de uma forma que era tão irresponsável do ponto de vista médico que era moralmente (e talvez legalmente) indistinguível do tráfico de drogas de rua. Enquanto os EUA gastam milhões em uma guerra às drogas para prender pobres, milionários vendem drogas legalmente com incentivo para o consumo.
O OxyContin não foi o primeiro opiáceo idêntico à heroína a ser comercializado como narcótico para o alívio da dor. Mas cada comprimido era gravado com um selante que permitia que a droga fosse liberada com o tempo na corrente sanguínea, e os executivos da Purdue usaram esse fato para fingir que a droga era infinitamente mais segura – menos sujeita ao abuso.
O documentário também relata que o funcionário da agência federal FDA (Food and Drug Administration) Curtis Wright permitiu que os funcionários da Purdue escrevessem literalmente a aprovação da droga para ele (em um ano, ele foi contratado por Purdue com um salário de US$ 375.000. É o livre mercado atuando com sua ‘mão invisível’ na regulação dos medicamentos. O Brasil copiou o modelo de controle da FDA e tem no Brasil a Anvisa.
O documentário deixa claro que a crise de opioides é mais do que uma tragédia humana que custou meio milhão de vidas. O diretor diz que esse crime é parte do que os EUA se tornaram. “Somos uma nação de viciados, movidos por correntes alternadas e desagradáveis de prazer e desespero; uma nação de prevaricação corporativa; de médicos que deliberadamente destroem o credo de ‘não causar danos’; de agências regulatórias que não funcionam mais como foram projetadas; de políticos que permitem que leis sejam escritas para eles. ‘O Crime do Século’ é uma saga de vícios que poderia ser intitulada ‘O que fizemos pela ganância”