Pela primeira vez, Valéria Dutra Rodrigues (50) concluiu a leitura de uma obra literária e de uma maneira muito especial: em companhia de um grupo de pessoas que se reuniu virtualmente durante a pandemia para ler Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus. Juntos, eles participaram da 1ª edição do projeto Roda Lerato – uma iniciativa da editora Livrearte, de Campinas (SP), que tem como objetivo disseminar o acesso a livros essenciais da literatura brasileira.

“É uma ciranda virtual em que qualquer pessoa pode chegar para ler, ouvir e se deixar transformar pela arte literária. Se a pessoa quiser entrar apenas para ouvir, tudo bem. Nosso desejo é que cada um se conecte com a literatura da maneira que for mais confortável para si.”, explicam os fundadores da editora Pamela Raizia e Edgar W. Santos.

Agora, a editora conduz a 2ª edição do projeto com a leitura coletiva de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Os encontros são realizados sempre às quartas-feiras das 19h às 20h pela plataforma Zoom. Os interessados em participar, devem preencher um formulário de contato (disponível aqui) para receber o link de acesso. A roda está sempre aberta para receber novos participantes.

De maneira livre, qualquer pessoa pode iniciar a leitura em voz alta e quando desejar parar, passa a palavra para que outra siga com a leitura. Ao final, a roda reserva um tempo para os participantes compartilharem, resumidamente, o que ficou da leitura, o que levam da experiência. A Roda Lerato não se propõe a discutir a obra literária. É um momento dedicado à experiência da leitura. As reflexões que reverberam nos leitores após o encontro costumam ser compartilhadas em um grupo de WhastApp. 

Diadorim na minissérie “Grande Sertão: Veredas” (1985)

Quem eventualmente perder algum encontro ao vivo, pode depois conferir a gravação que fica disponível no canal do Youtube da Livrearte

Em tempos de distanciamento social por conta da Covid 19, as rodas de leitura da Livrearte se tornaram um rico espaço de compartilhamento e afeto entre pessoas até então desconhecidas e de diferentes cidades, estados e até mesmo países.

A pesquisadora da área de literatura, Francismar Ramírez Barreto (42), por exemplo, vive em Caracas, na Venezuela. Ela conheceu a Roda Lerato por meio das redes sociais que recentemente passaram a operar com força em seu país. Ela conta que  decidiu participar das rodas porque ama ler e aprender. “Ler em grupo é participar de uma espécie de comunidade. Eu sentia falta de vozes novas”, comenta a pesquisadora que morou por sete anos em Brasília (DF) e integra o Grupo de Estudos Osmanianos da UnB (Universidade de Brasília).

“Quando a situação política de um país leva a sociedade a se desagregar, as iniciativas que conduzem à união são vitais para sobreviver. Eu não estou no Brasil neste momento. Os leitores da Roda não estão na Venezuela, mas toda quarta-feira renovamos a esperança (lendo) e isso é importante neste tempo.”, observa.

De Campinas, a professora aposentada Tânia Cristina da Costa (54) aproximou-se da Roda Lerato por intermédio de uma amiga. Ela descreve a experiência como única e surpreendente. “Primeiro pelas pessoas que tenho tido o privilégio e a honra de conhecer e interagir, num encontro de palavras, olhares, vozes, almas. A leitura propriamente, de modo conjunto e compartilhado, é uma experiência que estimula alcançar o que, sós, talvez não fosse alcançado, nem trilhado, pois vamos juntos e juntas, nos escorando e nos amparando pelos caminhos da leitura.”, explica a professora.

Ela destaca também o aspecto de reunir pessoas de diferentes locais e experiências. O grupo que lê Grande Sertão: Veredas tem pessoas em Campinas (SP), Vinhedo (SP), Araraquara (SP), Anápolis (GO), Caracas (Venezuela) e Vitória da Conquista (BA).

Os minutos finais da roda são dedicados a cada um dizer uma palavra que lhe foi significativa, ou algum momento que mais tocou. Já imersa e inspirada pelo universo de palavras do repertório de Roda, ela descreve: “É momento de uma ‘grandidade’ que enriquece a leitura ao mesmo tempo que suscita a busca pelo significado de palavras, lugares, expressões, e toda sorte de  sutilezas daquilo que foi lido.Não tenho comparativo para isso.”, afirma Tânia.

Rodas para adolescentes

Além da Roda Lerato, a Livrearte possui outro projeto de estímulo à leitura dedicado ao público adolescente: o projeto Cora – um clube literário com curadoria especial, dividida em duas faixas etárias (Cora Ayo para o público de 12 a 14 anos  e Cora Kianga para jovens de 15 a 18 anos). 

Ao participar do clube, os adolescentes recebem mensalmente um livro por mês (literatura nacional e/ou mundial), um mimo, participam de um roda literária semanal e contam com um chat interativo pelo Telegram, com acompanhamento da Livrearte.

Eventualmente, autores são convidados a interagir com os jovens leitores do clube. “A leitura vem para impulsionar o olhar e a alma desse e dessa jovem, trazendo inspirações, questionamentos, admiração, inquietações, sonhos e muitos outros sentimentos que agregam valor às suas escolhas e ao seu modo de ser e estar no mundo.”, explica Pâmela Raizia.

Roda Lerato – roda de leitura coletiva online

Livro: Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa

Quando: Toda quarta-feira das 19h às 20h

Onde: Plataforma Zoom

Evento gratuito

Classificação indicativa: +16

Mais informações: https://www.livrearte.com.br

(Carta Campinas com informações de divulgação)