.Por Gabriel San Martin.
Desde 2014, o artista indo-britânico Anish Kapoor tem sido o centro de uma grande polêmica ligada à compra da cor mais escura do mundo. Pouco depois de a empresa Surrey NanoSystems produzir o Vantablack, material sintético mais escuro do planeta, Kapoor decidiu comprar os direitos de uso da cor e impedir qualquer outro artista de utilizá-la. Isso causou um grande alvoroço no mundo da arte. Artistas, como o pintor e ativista britânico Stuart Semple, passaram a comprar outras cores – como “o rosa mais rosa” e “o branco mais branco” – e proibir exclusivamente que Anish Kapoor as usasse. Agora, parece ser novamente a vez de uma disputa pelo “branco mais branco”.
Em 2020, Semple patenteou a cor White 2.0, até então o branco mais branco da Terra, e proibiu seu uso por Kapoor. Neste ano, pesquisadores da Universidade de Purdue, Estados Unidos, desenvolveram um material que reflete 98% da luz de sua superfície e desvia o calor infravermelho. De acordo com os cientistas, esse número é decorrente da alta concentração de sulfato de bário, um composto químico de coloração branca. Essa alta capacidade de reflexão proporcionou-lhe o caráter de tinta mais clara que já existiu. Enquanto a nova cor mais clara reflete 98,1% da luz do Sol, a segunda mais clara, de Semple, reflete 95,5%.
A grande surpresa, dessa vez, foi que os principais interessados em adquirir uma pintura com essa tinta não foram os artistas, mas, sim, os museus. Segundo o pesquisador e professor Xiulin Ruan, da Universidade de Purdue, museus já entraram em contato interessados em expor a cor mais clara do mundo. Alguns demonstraram entusiasmo em apresentar a nova cor junto ao preto mais escuro, de Kapoor.
A disputa que vinha sendo travada entre Anish Kapoor e Stuart Semple sobre o uso de pigmentos superlativos, parece que agora será também dos museus. Qual instituição vai expor primeiro “o branco mais branco”? Resta-nos esperar para ver. E tudo indica que, em breve, teremos uma nova polêmica em curso.
Registro de Stuart Semple sobre a cor White 2.0, por ele patenteada em 2020. Na imagem, é assinalada a proibição de que um criminoso de cor utilize ou compre o produto. Finalmente, é exposto que, com “criminoso de cor”, Stuart se refere a Anish Kapoor ou qualquer pessoa associada a ele.
Gabriel San Martin – É estudante da graduação em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisador em estética e teoria da arte e escreve sobre artes visuais