Contos folclóricos africanos, textos fundadores das culturas japonesa e árabe, novelas escritas por judeus em alemão, poloneses em inglês, vivências de uma imigrante chinesa nos Estados Unidos, a opressão atávica dos pobres e nativos da América Latina; o conjunto demonstra os percalços dos “estranhos no ninho” e narrativas de mulheres escritoras que não devem ser esquecidas. Essas são algumas das histórias reunidas no projeto Literatura Livre (sescsp.org.br/literaturalivre), que o Sesc São Paulo lança a partir do dia 22 de dezembro.
A iniciativa consiste numa coleção digital de obras originárias de povos que contribuíram para a formação da sociedade brasileira, seus costumes e seus laços afetivos; e, principalmente, visa despertar a atenção dos brasileiros para as diferenças culturais que enriquecem nossa experiência como cidadãos. Ao todo são 14 e-books disponíveis para download gratuito nos formatos ePub, PDF e Kindle (compatíveis com todos os dispositivos, do computador aos celulares, tablets e leitores digitais).
Cada volume é sempre bilíngue: além da tradução inédita do texto integral para o português, o leitor tem acesso ao texto em domínio público, em seu idioma original. A produção ficou a cargo do Instituto Mojo de Comunicação Intercultural, com tradutores especializados para cada título e ilustrações inéditas criadas por André Ducci, ilustrador curitibano que colabora com publicações do Brasil e do exterior.
“Buscamos reunir textos interessantes e leves, mas também de importância acadêmica, pois o objetivo é que o público não apenas tenha acesso, mas possa conhecer, identificar ou redescobrir raízes características desses povos que se estendem até a contemporaneidade e constituem a nossa sociedade atual”, diz Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. “Existe uma lacuna entre o direito de acesso à obra e as mãos do leitor: a tradução. Embora esses autores e suas obras estejam em domínio público, os originais estão em inglês, alemão, árabe, japonês, e ainda resta o obstáculo da tradução livre a ser vencido. O projeto surge desse contexto”, conta Ricardo Giassetti, presidente do Instituto Mojo de Comunicação Intercultural, produtor do Literatura Livre.
Os títulos selecionados dialogam com leitores de todas as idades – crianças, jovens e adultos poderão se interessar, por exemplo, pelas desventuras de Wenzel Strapinski, um alfaiate desempregado e faminto que é confundido com um nobre e cai nas graças dos habitantes da cidade de Goldach. Suíça, Alemanha e Polônia são as nações que se confundem como inspiração para essa história apresentada em As roupas fazem as pessoas, registrada pelo escritor Gottfried Keller (1819-1890) e desenvolvida como uma narrativa sobre a natureza da sociedade europeia no começo do século 19, sua cegueira preconceituosa e sua leviandade diante das aparências.
Além de As roupas fazem as pessoas (1874), compõem o projeto os títulos Contos de crianças chinesas e Sra. Fragância Primaveril (1912), de Sui Sin Far; Contos folclóricos africanos – Vol.1 e Contos folclóricos africanos – Vol.2 (1901-1012), de Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau; Contos sardos (1894), de Grazia Deledda; Coração das trevas (1899), de Joseph Conrad; Crônicas do Japão (720), de Ō-no-Yassumaro e príncipe Toneri; El Zarco (1901), de Ignacio Manuel Altamiro; Histórias do tio Karel (1914), de Sanni Metelerkamp; O Leviatã (1938), de Joseph Roth; Os miseráveis (868), de Aljâhiz; Pássaros sem ninho (1889), de Clorinda Matto de Turner; e Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift.
A série começa com seis obras, lançadas em dezembro; em janeiro e fevereiro, novos títulos serão adicionados. Ao final, o site sescsp.org.br/literaturalivre se constituirá com uma biblioteca permanente dos 14 volumes.
Literatura Livre (sescsp.org.br/literaturalivre)
Primeiro lançamento: 22 de dezembro
Biblioteca digital com 14 volumes digitais bilíngues, lançados mensalmente, disponíveis para download no site sescsp.org.br/literaturalivre em formatos compatíveis com todos os leitores digitais.