.Por Marcelo Mattos.

“Se o dia nasce, renasce o samba / Se o dia morre, revive o samba”. (Filosofia do Samba. Candeia)

O termo samba tem origem kimbundo, uma das línguas falada em Angola, também referenciada como loanda, mbundu, dongo, n’dongo.  Por obra de um mistério ancestral e trama histórica, o primeiro registro musical do samba “Pelo Telefone” em 1916 é, como sabemos, do compositor Ernesto dos Santos, o Donga, alcunha derivativa dessa mesma língua bantu angolana.

(foto felipe torres – dp – ccl)

Inicialmente, a expressão “samba”, surgida em 1838, até o final do século XIX não fazia referência musical que conhecemos hoje, mas a diferentes aspectos dos festejos rurais, diversão, danças, como a umbigada e os rituais de fertilidade advindos do “semba d’angola”. 

Somente no início do século XX começam os registros frequentes na literatura jornalística carioca do “Samba” como manifestação ambientada no espaço urbano e já mestiçado na cidade, como representação de uma multiplicidade musical de estilos e subgêneros, como o lundu, maxixe, chula-raiada e choro, por exemplo.   

O Samba não é somente o mais criativo dos gêneros musicais brasileiros, mas o mais importante pela originalidade, força da sua linguagem harmônica e melódica, mesclando elementos herdados na sua ancestralidade africana e da sua diversidade rítmica transpirante, integrando o elemento humano na sua temporalidade mítica que, ouso dizer, o projetam como o mais rico fenômeno musical universal. 

Nascido das lágrimas comuns, correntes, senzalas e tambores ancestrais, encarnado nas essências das rezas e oferendas, o Samba é síncope e compasso, chama que toma o corpo todo em oração própria, sopro e frêmito, feito nos batuques, no chão batido das escolas de samba, irmandades, morros, ruas, quintais, inscrito nas comunidades negras excluídas da participação social e dos processos produtivos e políticos.

O Dia Nacional do Samba foi criado no dia 02 de dezembro de 1962 no encerramento do Primeiro Congresso Nacional do Samba, no Rio de Janeiro, sob a inspiração do etnólogo Edison Carneiro. O documento expressava um esforço de medidas para preservar as características tradicionais do samba sem, entretanto, lhe retirar a sua espontaneidade e a evolução temporal.

Samba é, pois, fruto de ricas tradições afrobrasileiras, cuja preservação, como bem imaterial do patrimônio cultural é imperativa e um dever de consciência, sobretudo num momento de perseguição aos terreiros, às religiões de matizes africanas e à brutal violência racial estimulada por um Estado totalitário.

O Samba ressurge e instaura como forma de expressão e construção de uma identidade, com impulso criativo de unidade, congraçamento e resistência cultural e política.