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Torquato Neto revive

.Por Marcelo Mattos.

“O poeta não se faz com versos”, ele maliciosamente trama um itinerário de riscos e armadilhas, sem o medo inventivo do perigo, arremessando num instante a pedra libertária que explodirá a vidraça da linguagem ainda no ontem.

(foto reprodução)

Torquato Neto, escritor, jornalista, profeta, demiurgo e poeta, sobretudo, pela força semiárida dos seus versos, cáustica, ensolarada e nordestina.  Nasceu em Teresina/PI, em 09 de novembro de 1944, mudou-se para Salvador muito jovem onde cursou o Colégio Marista em 1960; conheceu Gil, Caetano, Bethânia e Gal. Cena pronta para o ideário, foi assistente de Barra Vento, de Glauber e, em 1962, já está em pleno Rio de Janeiro para ingressar no curso de jornalismo. Logo começa uma carreira de jornalista, trabalhando como crítico musical, passando a escrever poemas e letra de música.

O reencontro com Gil rende a parceria de Louvação, gravada por Elis e Jair Rodrigues em 1966, no mesmo ano em que conhece Edu Lobo, seu novo parceiro musical. No meio da malha desse tempo indissolúvel, redemoinho de efervescência cultural, surge o Solar da Fossa na vida irradiante desses personagens.

O Solar era um velho casarão do fim do século 18, que funcionou entre 1964 e 1971 como pensão e abrigo de figuras como Caetano, Gil, Torquato, Paulinho da Viola, Tim Maia, Zé Kéti, atores, cineastas e Fernando Pamplona que criou o seu lendário nome. Teve importância referencial para a moderna cultura brasileira, além de ser o berço da criação do Tropicalismo e, talvez por isso, impulsionador de tantos movimentos e inventividade geracional.

Em 1967, Caetano lança o LP Domingo, juntamente com Gal Costa, com três parcerias de Torquato Neto, ano em que casa-se com  Ana Maria e  tiveram, em 1970, o filho Thiago.

Com a promulgação do AI-5 em 1968, na sufocante ditadura militar, busca o exílio forçado juntamente com outros artistas, vivendo na Europa até fins de 1970, entre Londres e Paris.

De volta ao Brasil, participou de diversas publicações alternativas, escrevendo para grandes jornais, revistas e manteve, de agosto de 1971 a fevereiro de 1972, a mais inovadora e genial coluna Geléia Geral, no diário Última Hora.

Numa madrugada quente de 10 de novembro de 1972, no Rio de Janeiro, se suicidou, deixando dois livros de poemas inéditos: “Pesinho pra dentro, pesinho pra fora” e “O fato e a coisa”. Em 1973, era publicada a extraordinária coletânea “Os últimos dias de paupéria”, com textos jornalísticos, poesia e fragmentos de diários de Torquato, organizada por Ana Maria Duarte e Waly Salomão.

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