“Camping familiar”: Turista de Campinas é agredida por funcionário/morador em Camping da Barra do Una, Peruíbe, SP.
.Por Carolina Violante Peres.
(Pedagoga, Mestre e professora de Filosofia)
Uma mulher comum, trabalhadora honesta, professora, desgastada pelo stress da Covid-19 e de uma vida plena de batalhas difíceis, ansiosa para relaxar de todas as tensões da Metrópoles, planeja passar uns dias descansando no litoral. Ela decide ir para a Barra do Una, linda praia, situada em uma das áreas de preservação ambiental com maior biodiversidade do país: a região da Juréia. A mulher em questão entra em contato com o dono de um camping e pergunta se é um lugar tranquilo. O empresário então responde que se trata de um “camping familiar”. A mulher fecha negócio, junta seus poucos trocados sofridos, prepara todos os apetrechos para a viagem e parte, rumo ao sonho feliz de lazer num paraíso natural.
Os conceitos comportam múltiplas interpretações, isso é certo! O conceito de “praia”, por exemplo: para alguns, a ida à praia é sinônimo de “curtição”, de festança desvairada, e se uma pessoa quiser descansar, relaxar e dormir, então ela não deve ir à praia, mas sim ficar em casa! Mas para outros, como para a mulher da nossa história (a narradora dela!), praia é sinônimo de descanso, paz, conexão com os ritmos da natureza, relaxamento profundo, fortalecimento do corpo físico e do espírito. Tem gente ignorante que acha que só a sua interpretação pessoal é válida, e que inclusive critica aqueles que vão para a praia para descansar, dizendo que deveriam ficar casa, pois praia é “lugar de zoar” (fala de uma amiga do dono do camping, a qual também chamou a mulher de nossa história de “safada” e “aproveitadora”).
Voltemos ao “camping familiar”… O que você, caro leitor, sentiria ou pensaria lendo essa expressão ao consultar um anúncio de alojamento em uma cidade turística e praiana? Um camping familiar em uma praia mais deserta, seria um espaço silencioso e sossegado? Seria um lugar onde as pessoas dormem cedo, não fazem bagunça, não ficam escutando ou tocando música alta até quatro horas da madrugada? Seria um lugar para dormir bem e acordar bem-disposto para curtir a praia (e praia, você sabe caro leitor, é um lugar que deixa a gente cansado, apesar de feliz e satisfeito, né!)?
Bom, para você, leitor tranquilo, o camping familiar é um lugar de sossego. Mas nem todo mundo tem essa visão do que seja “familiar”. Por exemplo, o funcionário da PM que atende a mulher na Delegacia – depois dela viver o inferno no que deveria ser o paraíso -, encara o “familiar” como sendo característica de um lugar sem drogas ou sexo explícito. Outras encaram o “familiar” como um lugar onde só pessoas amigas vão, e um lugar que é gerenciado e habitado por uma família.
A mulher de nossa história encarou o conceito de “familiar” de modo quase legal, ou seja, como espaço onde as leis são cumpridas, leis como a do silêncio após as 22 hrs da noite, a do respeito à integridade da pessoa, leis de cidadania, convivência. Mas agora vos pergunto, caros leitores: como um empresário, dono de camping, deveria interpretar essa expressão? A resposta óbvia é: do modo como a lei determina! Todo dono de camping deveria estar ciente disto, certo? É, mas as coisas não são bem assim. Vamos aos fatos!
No dia 27 de setembro de 2020, a professora Carolina Violante Peres, de Campinas, foi agredida fisicamente e verbalmente no camping Três Coqueiros, localizado na Barra do Una, Juréia. Carolina não conhecia o camping, mas negociou por internet com o proprietário, o senhor Marcelo Rodrigues, morador e empresário da Barra do Una. Marcelo informou Carolina de que ela poderia ir, mas que o camping era familiar. Carolina disse que era tudo que ela queria, um ambiente familiar, onde pudesse descansar do stress da cidade e da pandemia.
A primeira noite de Carolina tinha sido calma, e ela de fato se sentiu no paraíso. Porém, no seu segundo dia de camping, quando os clientes e amigos do proprietário chegaram no estabelecimento, as coisas mudaram bastante: campistas chegando depois das 23 hrs e fazendo churrasco com música, falando alto, e um luau promovido pelo próprio dono do camping, Marcelo Rodrigues, o qual se estendeu até quatro horas da madrugada, com umas vinte pessoas cantando alto em coro, falando em tom de voz super elevado, caminhando pelo camping conversando. Carolina passou horas com dor de cabeça, sem conseguir dormir devido ao barulho, chorando nervosa e sem saber o que fazer. Sim, a festa era bonita, mas Carolina não estava na praia para festas, mas para se fortalecer e descansar! E o dono do camping havia prometido o ambiente ideal para isto: um ambiente “familiar”! Enfim, o luau só terminou porque Carolina decidiu pedir, aos prantos e tremendo, que tudo acabasse. Já eram quatro horas da manhã e o galo, que certamente havia dormido, já estava cantando.
No dia seguinte Carolina, que acordou muito tarde e perdeu toda a sua programação de passeios para o dia, desmontou seu acampamento e foi conversar com Marcelo sobre o ocorrido. Ela pediu que fosse abatido o valor de 30 reais de sua segunda noite, na medida em que a propaganda feita pelo Marcelo sobre o camping era enganosa e que ela havia não apenas sofrido por não conseguir dormir com o barulho promovido pelo próprio Marcelo, como também teria muito trabalho para desmontar e remontar o camping, além de ter perdido os passeios do dia devido ao ocorrido. Marcelo se negou a ressarcir a mulher, mas no fim, com despeito, disse que ela poderia ir embora sem pagar nada. Ela insistiu em pagar a primeira diária, mas ele se negou a receber. Seu companheiro de trabalho, Márcio, que também mora no camping e atende os clientes, concordou com ele sobre isto.
Carolina então se dirigiu ao carro para ir embora, mas Márcio a acompanhou e no caminho começou a amaldiçoar Carolina, a dizer que a vida dela seria maldita porque ela não quis pagar e porque ela não quis emprestar vinte reais para ele (estranho um funcionário e morador de camping pedir dinheiro para uma cliente; ele parecia ter problemas com bebida).
Carolina disse que maldição não pegava nela, e saiu de perto de Márcio, se virando de costas para ele. Foi então que ela sentiu um forte baque no ombro direito. Márcio havia espancado ela com um copo de vidro vazio, estilhaçando o copo contra o seu corpo. Carolina começou a chorar e olhou para ele dizendo: “Por que você fez isso! Você me bateu!”. Ela percebeu então ele vindo em sua direção com intenção de espancá-la. Ele também a ameaçava, dizendo que quebraria o carro dela todinho. Detalhe: Carolina havia presenciado Márcio espancando um senhor idoso que mendiga por lá, no dia anterior, 26 de setembro.
Na sequência dos acontecimentos, Carolina correu gritando pelo dono do camping: “Marcelo! Marcelo! O Márcio quebrou um copo em mim !”. Marcelo veio em sua direção, mas não parou, apenas passou apressado por ela, indo para longe. Muitos amigos dele estavam presentes e consideraram Carolina como uma louca ou arruaceira, porque ela gritou mais vezes que havia sido espancada. Ela estava atordoada, e não acreditava no que estava acontecendo com ela naquele momento! Carolina correu para o carro para ir embora o mais rápido possível. Uma amiga de Marcelo que estava acampando por lá, foi até o carro dela e ficou na janela xingando ela de safada e aproveitadora. Essa mulher falou para Carolina que se ela quisesse dormir, ela deveria ficar em casa, e que praia era “lugar de zoeira”. Carolina percebeu que não adiantaria falar nada com aquela mulher ignorante, que pensa que só a interpretação dela do conceito de “praia” é válida, e foi embora, aos prantos.
Nenhum ser humano deveria ser submetido a tamanha humilhação e violência, muito menos em seu raro momento de lazer. A falta de profissionalismo e de conhecimento dos termos legais do pessoal do camping Três Coqueiros, da Barra do Una, Peruíbe, é algo imperdoável. Carolina perdeu sua noite de sono, foi espancada e humilhada, e passou sua noite na Delegacia de Peruíbe e no UPA. Fez boletim de ocorrência e “bonequinho”. No dia seguinte, 28 de setembro, Carolina foi até a ouvidoria da Prefeitura de Peruíbe e fez um protocolo de denúncia. Este será encaminhado à secretaria de Turismo, a qual conversará com o proprietário do camping, Marcelo Rodrigues, para averiguar a versão dele dos fatos. Carolina também procurou jornais locais e a TV. Enviou para a TV um vídeo dela relatando os fatos, cópias do BO e do laudo médico, um vídeo dela chorando dentro da barraca as quatro da manhã e uma foto do ombro luxado por causa da pancada dada nela por Márcio com um copo de vidro.
O camping, além de não seguir as regras de campings familiares, fez propaganda enganosa a uma consumidora e a submeteu a humilhação e lesão corporal. O proprietário, Marcelo Rodrigues, foi completamente omisso no caso da agressão física praticada por Márcio, seu companheiro de trabalho e morador do camping, e ainda alegou para Carolina, em mensagem privada, que ela é quem seria a errada da história, afinal, ela havia saído do camping sem pagar. Porém, ele mesmo disse para Carolina que ela não precisaria pagar nada, mesmo ela tendo insistido em pagar o que ela achava devido, que era a primeira diária! Existe aí uma contradição, e Marcelo vai tentar acusa-la de ser caloteira, certamente.
O camping Três Coqueiros não segue os protocolos de saúde postos para o momento crítico de pandemia que o mundo está vivendo. Lá ninguém usa máscara, não existe álcool em gel, e ocorrem aglomerações de mais de trinta pessoas, todas sem máscara. O camping também não respeita a lei do silêncio, aquela que diz que depois das 22 horas não é permitido som alto ou incomodar outras pessoas com barulho. O proprietário se mostrou uma pessoa desconhecedora da lei e despreparada para gerenciar seu negócio e para lidar com incidentes envolvendo seus clientes (no caso o incidente gravíssimo de uma cliente ter um copo quebrado contra o ombro por um funcionário/morador do camping).
Carolina, professora há 12 anos, mestre em Filosofia, pedagoga, estudada, decidiu não deixar todo este absurdo impune. Ela decidiu ser um exemplo de tudo aquilo que ela ensina em suas aulas de Filosofia na rede pública do Estado de São Paulo, e lutar por seus direitos. Todo brasileiro deveria seguir este exemplo, e conquistar um tratamento digno, cidadão, humano e justo, em qualquer situação ou lugar. Temos direitos, mas eles nada são se não os pusermos em prática. Nosso povo não tem tradição de luta e de conhecimento de seus direitos, e vive sob a sombra do medo, medo de reclamar, de protestar, de lutar. Trata-se de um medo, julgamos, histórico, herdado do terror vivido nos períodos de escravidão em nosso país, e também do terror da violência policial que hoje assola as camadas mais simples da população.
Só para finalizar, queremos dizer que se as pessoas têm interpretações pessoais de conceitos, essas interpretações não têm valor nenhum quando se trata de comércio, de negócios, de mercado, de relações cidadãs, de Constituição e de Código do Consumidor. Carolina espera que os senhores Marcelo Rodrigues e Márcio sejam mais profissionais, e conheçam mais os sentidos legais, oficiais dos conceitos. A definição de “ambiente familiar”, por exemplo, deveria ser a primeira a ser estudada por eles! Você levaria vossa família a um ambiente desrespeitoso e onde ela estaria sujeita a violência física e verbal como o Camping Três Coqueiros da Barra do Una, Peruíbe? Pensamos que não!
Carolina aguardará agora os encaminhamentos da justiça e do poder público, esperando que este comportamento não volte a se repetir com outros clientes do camping Três Coqueiros.
Ela espera que seu artigo seja lido, que seu caso seja exposto na televisão, e que outras pessoas se inspirem em seu exemplo e corram atrás de fazer a justiça vingar. Lute, seja também um exemplo e ensine o nosso povo a combater as injustiças que os acometem todos os dias neste país violento, corrupto, machista, homofóbico e desigual que é o Brasil.
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