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Projeto que publica cartas entre poetas de Campinas terá recursos de acessibilidade

Nesta semana, o Sesc Campinas inicia a segunda etapa do projeto “Cartas em torno da Sobrevivência da Poesia (ou da Poesia da Sobrevivência)” na qual escritores e escritoras que vivem em Campinas trocam correspondências sobre a condição do poeta no contexto sociocultural atual e local.

(Foto: Rafa Carvalho)

O lançamento da segunda etapa do projeto traz também a possibilidade de expansão do alcance do conteúdo literário produzido localmente para o público de pessoas cegas e com deficiências visuais.

A partir desta segunda, todo o conteúdo escrito e imagens do site
apoesiasobrevive.wordpress.com estão disponíveis em tocadores de áudio por meio do recurso da audiodescrição. Além disso, outros ajustes feitos para que o sítio do projeto pudesse incluir o público específico na discussão literária proposta foram feitos a partir de uma consultoria com o engenheiro de softwares Jean Braz, que é cego e também se dedica às questões da acessibilidade em projetos culturais e tecnológicos.

A leitura das 30 cartas dos poetas locais em voz alta e a audiodescrição das
imagens publicadas em cada uma das páginas no projeto está sendo feita pela narradora e audiodescritora Bell Machado, que possui experiências com as técnicas e recursos de acessibilidade cultural principalmente voltados para as linguagens artísticas do cinema, das artes pictóricas e cênicas. Neste projeto, a audiodescritora expande sua atuação para o ramo da literatura.

Com a iniciativa, o Sesc Campinas aposta em agregar o interesse de pessoas com deficiência visual, aproveitando a migração de grande parte de sua ação cultural e educativa local para as plataformas online devido à impossibilidade da realização de encontros presenciais por conta da prevenção à transmissão da Covid-19.

“É um trabalho diferente, inovador e para mim super interessante”, diz o próprio Jean Braz, que possui cegueira congênita, confirmando a relevância das iniciativas e do alcance da literatura e das outras formas de arte normalmente associadas à visão para públicos que não a possui. “Tanto eu como outras pessoas com deficiência visual nos interessamos por cultura e arte como todo mundo, porém muitas vezes esses conteúdos são disponibilizados e feitos acessíveis de uma maneira que não os torna interessantes. A opção de usarmos o recurso da audiodescrição para um projeto como esse, que publica cartas literárias online, torna seu conteúdo muito mais atraente para nós do que ele seria se fôssemos acessá-lo apenas com um software leitor de tela. Também outros ajustes simples feitos na plataforma fazem toda a diferença para que a nossa navegação fique mais intuitiva e mais fácil”.

Bell Machado, contratada pelo Sesc para realizar a narração das cartas e gravação dos áudios, além de também prestar consultoria para a acessibilidade do projeto, explica as vantagens da audiodescrição em relação aos softwares e recursos automáticos de acessibilidade disponíveis nas plataformas. “No que tange a este encantador projeto das trocas de cartas, devemos nos lembrar que as palavras trazem imagens e quando as cartas são narradas por uma voz humana, é possível trazer também a forma poética de palavra. A voz da narração é um elemento condutor da emoção, tem um papel simbólico que contribui para a formação dos elementos visuais na mente das pessoas com deficiência visual e, por isso,
aumenta a fruição da obra”, explica.

Uma das maneiras de encontrar e identificar as programações culturais acessíveis para pessoas cegas e com deficiências visuais na Internet é utilizar as hashtags #audiodescrição , #pracegover , #paratodosverem nos mecanismos de busca das plataformas das redes sociais como facebook, youtube, instagram e outros.

#aPoesiaSobrevive

Até o dia 26/9, três escritores e três escritoras que vivem em Campinas, têm suas cartas publicadas pelo projeto “Cartas em torno da Sobrevivência da Poesia”. Na etapa atual, que teve início nesta semana, os poetas se provocam e compartilham em cartas físicas trocadas entre eles (e disponibilizadas ao público leitor no sítio do projeto) questões profundas sobre a produção da literatura diante do contexto de isolamento na quarentena e das características próprias da cidade de Campinas, em busca de uma reflexão coletiva sobre a cena literária local e as dificuldades individuais impostas pelo atual contexto sócio-cultural.

Na primeira etapa, chamada “Cartas de Apresentação” foram publicadas seis cartas destinadas a interlocutores diversos que permitiram ao público conhecer os diferentes universos e motivos literários de cada um dos poetas participantes do projeto.

Para a realização do projeto, que pretende gerar um registro de um momento específico, contribuindo para o fortalecimento de redes literárias na região, foram convidados três escritores e três escritoras, considerando o parâmetro da diversidade de circuitos e cenas literárias frequentados por cada um.

Os poetas participantes são Rafa Carvalho, Fabíola Rodrigues, Carlindo Fausto Antonio, Katia Marchese, César Povero e Daíse Lima. A partir de universos diferentes, esses autores e autoras foram selecionados pelo Sesc também por terem a literatura não só como um “hobbie”, mas como uma atividade à qual se dedicam inclusive profissionalmente, tendo publicado livros individualmente por diferentes editoras e textos em antologias coletivas, ou se dedicando à militância pela ação cultural e de pesquisa a partir da literatura.

O projeto ainda resgata e estimula a preservação da prática de escrita de cartas físicas que é cada vez mais substituída pela troca de mensagens rápidas ou emails. A escritora Fabíola Rodrigues, que participa do projeto, destaca a importância da materialidade das cartas, considerando também a proposta da escrita à mão como um desafio: “Acho a ideia belíssima, preciosa mesmo, sobretudo se considerarmos a ideia do tempo lento, do tempo que prescinde do tempo, da escritura como experiência, como duração, como expressão estética do Kairós, esse tempo que está dentro de nós mesmos. A materialidade das cartas possibilita, ainda, de uma perspectiva de seus impactos estéticos, brincar com as cores, texturas e aromas do papel e da tinta”.

Até dia 26 de setembro, a cada dois dias, o Sesc publica uma das cartas no site apoesiasobrevive.wordpress.com, onde a qualquer momento será possível ler todo o histórico da troca de correspondências.

Ao final do projeto, o Sesc Campinas pretende lançar uma publicação online
compilando todos os textos das cartas e imagens das cartas físicas escritas pelos poetas participantes e trocadas entre eles.

Local: apoesiasobrevive.wordpress.com
Projeto Cartas em Torno da Sobrevivência da Poesia
Programação: até 26/9

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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