A São Paulo Companhia de Dança (SPCD) e a Santa Marcelina Cultura, com direção artística-pedagógica de Paulo Zuben, apresentam o projeto Cantares e Dançares, um diálogo audiovisual entre bailarinos da Companhia e cantores líricos. A iniciativa integra a programação de música de câmara do Theatro São Pedro.

Unidos pelo vídeo, os artistas cantam e dançam interpretações muito particulares de composições do final do século XIV e a primeira metade do século XX que refletem sobre as origens da cultura brasileira, fazendo uma ponte entre erudito e popular. O resultado são duas criações inéditas, de inspirações distintas, concebidas durante o período de isolamento social. Imaginária Serenata e Matrizes estreiam respectivamente nos dias 21 e 22 de agosto, às 18h, simultaneamente nos canais do YouTube da SPCD e do Theatro.

Daniel Reca nas gravações de Imagiária Serenata │ Thamiris Prata e Joca Antunes nas gravações de Matrizes │ (Fotos: Marcos Alonso)

Ambas as obras foram criadas durante o período de distanciamento social, levando em consideração as possibilidades permitidas deste momento. A produção dos vídeos seguiu todos os protocolos sanitários estabelecidos, respeitando as dinâmicas pessoais e logísticas.

As obras têm como mote partituras assinadas por nomes como Heitor Villa-Lobos (1887-1959), Edmundo Villani-Côrtes, Alberto Nepomuceno (1864-1920), Camargo Guarnieri (1907-1993), Cláudio Santoro (1919-1989), Francisco Mignone (1897-1986), Carlos Alberto Pinto Fonseca (19332006) e Lorenzo Fernandéz (1897-1948), apresentadas no formato de música de câmara. Ao piano, no palco de um Theatro São Pedro vazio, Ricardo Ballestero conduz os cantores líricos Albert Andrade, Ana Carolina Coutinho, Carla Cottini, Érika Muniz e Marcela Rahal, participantes direto de suas casas, no Brasil e na Alemanha, além dos bailarinos da SPCD, que exploram espaços também esvaziados da Oficina Cultural Oswald de Andrade, sede da Companhia, com a coreografia de Igor Vieira. 

Imaginária Serenata parte da herança lusitana presente na cultura brasileira, carregada de uma forte característica romântica e idealista. Com delicadeza, as canções e os movimentos evocam a imagem de janelas e balcões das casas portuguesas. É o cenário perfeito para uma serenata – uma ligação única entre uma pessoa e outra –, que desperta suspiros ora apaixonados, ora saudosos, sob a luz do luar. No vídeo, janelas, corredores e escadas servem de palco para representar espaços de encontros possíveis após longos períodos de solidão e introspecção. Aqui o isolamento é visto sob um ângulo otimista, de redescoberta daquilo que é de fato importante na vida: os amores, a essência de cada um e as chegadas e partidas que falam diretamente ao coração.

Já Matrizes evidencia as influências da cultura africana no Brasil a partir de composições que, em uma perspectiva modernista do início do século XX, buscavam consolidar uma ideia de nação. Sob sombras e luzes, transparências e veladuras, os bailarinos são embalados por canções com fortes traços afrobrasileiros e também do universo indígena e caipira, criando releituras para obras já interpretadas por cantores populares. Matrizes se conecta às questões do homem diante da sociedade, como o preconceito e a discriminação, situações sociais mais prementes em nosso tempo.

Ambos os filmes apresentam um olhar contemporâneo para a dança, que dialoga com os sentimentos e as sensações presentes na essência de cada uma das músicas. As melodias e o movimento dos corpos se complementam, enaltecendo a realidade cultural do Brasil e conferindo novos sentidos às composições originais.

“A parceria entre a São Paulo Companhia de Dança e a Santa Marcelina Cultura vem de longa data e é sempre muito interessante pois nós inventamos novas maneiras de produzir arte. Agora, em especial, porque os espaços são distintos; cada pessoa em um local do mundo e, ao mesmo tempo, todos juntos. Imaginária Serenata Matrizes são obras que nos permitem sentir, experimentar e perceber essas músicas incríveis que falam tanto do Brasil e nos tocam profundamente. São vídeos que exploram possibilidades dentro das intimidades e das distâncias das amplitudes. Filmar na Oficina Cultural Oswald de Andrade vazia nos permitiu explorar e reconhecer a beleza deste prédio histórico”, explica a diretora artística e executiva da Companhia, Inês Bogéa.

“O repertório musical selecionado para este projeto está ligado à noção nacionalista da música brasileira, não sendo delimitado especificamente por períodos de tempo. Em Cantes e Dançares, procuramos revelar que estas composições podem ser vistas em uma perspectiva mais contemporânea e, neste sentido, a parceria com a São Paulo Companhia de Dança é essencial para trazer uma leitura mais atualizada, resignificando o que estas canções queriam dizer e o que elas ainda podem dizer nos dias de hoje. Então, para além da origem do repertório e o significado de cada composição em particular sobre o período em que foram criadas, essa perspectiva da dança traz novos elementos para a recepção e a apreciação do repertório”, conta o diretor musical do Cantares e Dançares, Ricardo Ballestero.

“Este é mais um projeto de vários realizados entre a Santa Marcelina Cultura e a São Paulo Companhia de Dança. E, em especial, foi uma descoberta de como fazer arte em tempos de isolamento social, de como criar projetos artisticamente interessantes e esteticamente emocionantes. Para além do resultado, acredito que o processo da criação nestes tempos se destaca como fonte de inspiração para novos projetos em tempos normais, deixando um legado relevante. Foi um processo muito rico que, acredito, vai impactar o modo de fazer arte das próximas décadas, pois os desafios do momento atual incitam discussões e percepções para o fazer arte. Neste momento em que a criação artística se amplia para dentro das casas de cada pessoa, o papel da arte se torna ainda mais relevante, provocando reflexões para que possamos sair melhores deste momento e enaltecendo a cultura nacional, uma vez que a internet como canal de comunicação, permite esse novo horizonte. Por isto, em Imaginária Serenata e Matrizes, trabalhamos com repertório brasileiro, valorizando a arte criada no Brasil”, declara o gestor artístico da Santa Marcelina Cultura, Ricardo Apezzato.

O projeto Cantares e Dançares integra a programação dos selos criados pela São Paulo Companhia de Dança e o Theatro São Pedro para o compartilhamento de conteúdos durante a pandemia: #SPCDdigital e #TheatroSãoPedroEmCasa. Após a estreia nas redes sociais, Imaginária Serenata Matrizes também serão exibidos na TV Cultura.

Lançamento do projeto Cantares e Dançares, por São Paulo Companhia de Dança e Theatro São Pedro/Santa Marcelina Cultura  

Datas: Imaginária Serenata– 21 de agosto de 2020

          Matrizes – 22 de agosto de 2020

Horários: sexta e sábado, às 18h

Espaços de exibição:

Canal da SPCD no YouTube – https://www.youtube.com/AudiovisualSPCD

Canal do Theatro São Pedro no YouTube – https://www.youtube.com/TheatroSãoPedroTSP

Ficha técnica das obras:

Imaginária Serenata

Coreografia: Igor Vieira

MúsicasViola Quebrada (letra de Mário de Andrade – 1893-1945), Seresta nº 9, Canção de Amor e Melodia Sentimental, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959); Imaginária Serenata, de Edmundo Villani-Côrtes, com letra de Cecília Meirelles (1901-1964); Cantilena, de Alberto Nepomuceno (1864-1920), com letra de Coelho Netto (1864-1934); Quando Embalada, de Camargo Guarnieri (1907-1993); Luar do Meu Bem, de Cláudio Santoro (1919-1989), com letra de Vinícius de Moraes (1913-1980), todas executadas ao piano por Ricardo Ballestero

Figurino: Balletto e Acervo da SPCD

Fotografia e Iluminação: Nicolas Marchi e Charles Lima

Câmera: Charles Lima, Carlos Yamamoto e Marcos Alonso

Assistente de Câmera: Gustavo Bernardes

Cantores: Albert Andrade, Ana Carolina Coutinho, Carla Cottini e Marcela Rahal

Bailarinos: Ana Roberta Teixeira, Artemis Bastos, Beatriz Paulino, Daniel Reca, João Gabriel Inocêncio, Kaique Barbosa, Luciana Davi, Nielson Souza e Otávio Portela

Canções de inspiração lusitana guiam esta criação coreográfica inédita que exalta o romantismo e o idealismo. Janelas, corredores e escadas esvaziados compõem o cenário de conexão e ligação afetivas entre duas pessoas, seja pelo amor do presente ou pela saudade do que se foi. A solidão e introspecção são aqui retratadas como meio para redescobrir a essência do que importa na vida, tocando a alma e o coração.

Matrizes

Coreografia: Igor Vieira

Músicas Ária Cantilena, trechos de Bachianas Brasileiras nº 5 (letra de Ruth Valadares Corrêa), Nhapopé e Estrela é Lua Nova (letra de Altamirando de Souza (1939)), de Heitor Villa Lobos (1887-1959); Cantiga, de Camargo Guarnieri (1907-1993), com letra de Rossine (1955); Ogum de Nagô, de Carlos Alberto Pinto Fonseca (19332006); Leilão, de Hekel Tavares (1986-1969), com letra de Joracy Camargo (1898-1973); Toada para Você, de Lorenzo Fernández (1897-1948) e texto Mário de Andrade (1893-1945); D. Janaina, de Francisco Mignone (1897-1986) com letra de Manuel Bandeira (1886-1968), todas executadas ao piano por Ricardo Ballestero

Figurino: Acervo da SPCD

Fotografia e Iluminação: Nicolas Marchi e Charles Lima

Câmera: Charles Lima, Carlos Yamamoto e Marcos Alonso

Assistente de Câmera: Gustavo Bernardes

Cantores: Albert Andrade, Carla Cottini, Érika Muniz e Marcela Rahal

Bailarinos: Ana Silva, Joca Antunes, Letícia Forattini, Luan Barcelos, Luiza Yuk, Michelle Molina, Nielson Souza e Thamiris Prata

Composições de origem afrobrasileiras, com elementos indígenas e do interior do Brasil, são a base desta obra que revela questões atuais da sociedade, como o preconceito e a discriminação. Sob sombras e luzes, transparências e veladuras, os bailarinos revisitam obras já interpretadas por cantores populares. A solidão é vista aqui como uma oportunidade para repensar o nosso lugar na sociedade.

(Carta Campinas com informações de divulgação)