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‘Mães perturbadoras, filhos monstruosos’ analisa obras de contista argentina e pensa o ideal de maternidade na sociedade

No próximo dia 3 de julho, um projeto da Unicamp, mais especificamente ligado aos alunos da graduação do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem), lançará cinco e-books de maneira gratuita no site do Instituto: https://www.iel.unicamp.br/br/content/ebook .

Trata-se do projeto da TL224 Publicações, um setor de publicações independentes da graduação do IEL gerido pelos estudantes de graduação (majoritariamente de Estudos Literários) e coordenado pela Profa. Dra. Márcia Abreu.

O projeto da TL224 busca dar oportunidade aos estudantes de entrarem em contato com o mercado de trabalho de editoração de livros; são publicados, anual e costumeiramente, cinco livros: três que eram monografias (TCCs) premiadas pelo IEL e dois romances originais.

A plataforma é de amplo acesso ao público, atraindo estudantes que estejam interessados em leituras e pesquisa na área das letras – os temas científicos são de linguística, linguística aplicada e literatura.

Entre os e-books que serão lançados, há textos narrativos criativos, um livro que reúne dois contos tematizados no sertão brasileiro, e outro sobre o processo de maternidade.

Veja abaixo mais detalhes de um dos livros que compõem o projeto. Em outras matérias, serão divulgadas informações sobre cada um dos demais livros a serem publicados:

(Foto: Facebook TL224 Publicações)

Considerar o amor e o cuidado maternos como intrínsecos ao gênero feminino é noção comum em nossa sociedade. Porém, ao observar os diversos modelos de maternidade ao longo da história é possível desacreditar essa ideia. Até o final do século XVIII, não havia glórias em ser mãe, pois isso era considerado incômodo e vulgar. Até o século XIX, a relação que os pais tinham com seus filhos era marcada pela indiferença e pelo desprezo. Isto é, a construção de uma vocação inerente ao gênero feminino para cuidar dos filhos é recente. Como uma das consequências da construção do “instinto materno”, tem-se a oposição entre “mãe boa” e “mãe ruim” — endossada, em parte, por teorias psicanalíticas no século XX.

Partindo dessa reflexão, Raquel Riera, em Mães perturbadoras, filhos monstruosos: uma leitura de Distância de Resgate, de Samanta Schweblin, promove uma interpretação singular de Distância de resgate, novela de Schweblin, premiada escritora argentina. Por meio de uma narração peculiar, que mais se aproxima do interrogatório, é contada a história de Amanda, uma jovem mãe que viaja para o campo com a sua filha em busca de paz e sossego. Apesar dos incessantes esforços para proteger a menina dos perigos, algo terrível acontece e acaba por colocar em xeque o vínculo entre ambas. Nessa obra, são encenados de maneira nada óbvia diversos conflitos advindos da relação entre mães e filhos, retratando a maternidade como atravessada pela perda e pela dor e atrelando a isso uma imagem diversa de infância. Como demonstrado na análise, quando uma contista produz uma novela, elementos interessantes despontam.

Além disso, segundo Riera, outro elemento torna essa novela interessante. Trata-se do deslocamento promovido pelo fato de Distância de Resgate possuir traços do gênero fantástico, mantendo o apelo para o real. Isso a torna inquietante e produz uma hesitação, que, dessa forma, abre espaço para o questionamento da realidade do leitor.

Com o objetivo de ir a fundo naquilo que seriam as contradições da maternidade a autora aborda, também, um conjunto de contos de Schweblin. Esses diferentes caminhos traçados permitem ao leitor entrar em contato com o tema abordado de maneira complexa e profunda, dentro das delimitações propostas.

Mães perturbadoras, filhos monstruosos, monografia ganhadora do IV Concurso de Monografias do IEL—Unicamp, demonstra, por meio de textos literários contemporâneos, as contradições e dificuldades que perpassam a mulher e a mãe. Ao expor os limites dos ideais maternos que persistiram com o tempo, coloca em questão o papel social que o gênero feminino ocupa atualmente, bem como a necessidade de se construir um novo, em que a mulher não esteja, necessariamente, associada à maternidade.

Raquel Riera, natural de Itajubá, graduou-se em Estudos Literários pela Unicamp e, no ano de 2018, foi a ganhadora do IV Concurso de Monografias do IEL—Unicamp. Atualmente, está cursando Letras na mesma instituição e pretende continuar a pesquisa na área de literatura fantástica na América Latina.

Livro: Mães perturbadoras, filhos monstruosos: uma leitura de Distância de Resgate, de Samanta Schweblin

Autora: Raquel Riera

ISBN: 978-65-87175-04-1

Edição:

Ano: 2020

Páginas: 116

Dimensões: 14 x 21 cm.

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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