.Por Wagner Romão.

A fuga criminosa de Weintraub para Miami coroa a trajetória de um ministro da Educação impensável em um país decente.

Foi contra avanços obtidos nos últimos quinze anos no campo da educação, sobretudo no ensino superior, como as cotas étnico-raciais e sociais e a ampliação das Universidades e Institutos Federais por todo o país.

(foto elza fiuza – ag brasil)

Vilipendiou a memória de Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.

Trouxe para o centro do MEC o olavismo – esta subcultura da violência verbal, da covardia individualista que se aliena frente às injustiças deste país extremamente desigual e do conforto da hegemonia branca racista, machista e homofóbica própria dos piores entre os estadunidenses.

Ameaçou cortar o orçamento de universidades públicas com injúrias, calúnias, maledicências, mentiras.

Cortou milhares e milhares de bolsas da CAPES, inviabilizando carreiras de jovens cientistas.

Semeou ódio contra a educação pública em todos os níveis.

Promoveu mudanças no sistema de distribuição de bolsas de pós-graduação, atingindo de morte os programas mais novos e ainda em fase de implantação, sobretudo no Norte e Nordeste e ligados às Ciências Humanas.

Criou um factoide perigoso – o Future-se – pelo qual, no limite, o Estado se desvencilhará de sua missão constitucional de promover o direito à educação.

Tentou – até agora sem sucesso, pela resistência de educadores, educadoras e estudantes – implantar escolas militarizadas na educação básica em todo o país, desprezando seus e suas profissionais.

Promoveu o pior ENEM da história, com controle ideológico e falhas que custaram a credibilidade do Exame.

Manteve-se no cargo às custas de sua “popularidade” com o que há de mais abjeto na política e na sociedade brasileira, a canalha fascista do ultra-bolsonarismo.

No dia do anúncio de sua demissão, revogou uma importante portaria do MEC com vistas à democratização do exercício da pesquisa científica no país, que propõe cotas étnico-raciais e para pessoas com deficiência nos programas de pós-graduação.

Conseguiu ser desprezado pelo próprio Bolsonaro no constrangedor vídeo do anúncio de sua demissão.

Como se não bastasse tudo isso, utilizou-se de um cargo que conspurcou para viabilizar sua entrada nos EUA, quando publicamente já não mais o ocupava.

Ou seja, continuou manchando o MEC mesmo depois de não ser mais ministro de fato, com o beneplácito do próprio Bolsonaro, que continua infectando os palácios de Brasília.

Fugiu de enfrentar um processo judicial e cometeu crimes em sua fuga. Caberá à Procuradoria Geral da República, à Polícia Federal e ao Supremo Tribunal Federal investigar as circunstâncias do ocorrido, julgá-lo e condená-lo, assim como a seus cúmplices.

Wagner Romão é professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e ex-presidente da ADunicamp.