O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (29) que é preciso discutir novas formas de organização para o mundo do trabalho no pós-pandemia. Ele citou o caso dos entregadores de aplicativo como uma das categorias que foram “deserdadas” pelo Estado brasileiro. Em nome de uma suposta lógica empreendedora, eles não têm nenhum direito. “O companheiro que está numa moto entregando pizza à 1h da manhã, ele não é microempreendedor. Ele é quase um microescravo”, disse o ex-presidente.
“Vamos ter que reagir e fazer uma lei para garantir a regulamentação dessas pessoas que estão deserdadas pelo Estado brasileiro”, apontou. Em conversa com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), nesta segunda, Lula afirmou que, como resultado da pandemia de coronavírus, a sociedade brasileira entendeu que o Estado não pode ser mínimo.
Lula lembrou da frase dita por Paulo Roberto da Silva Lima, líder do movimento dos Entregadores Antifascistas. Segundo Galo, como ele é conhecido, dói ter que trabalhar com fome levando comida nas costas. “Tudo o que conquistamos no século 20, estamos perdendo agora no século 21. É indescritível. Nada que os trabalhadores conquistaram veio de graça. Foi muito sacrifício. Acabaram com os direitos e venderam a ideia de que todo mundo é microempreendedor. Mas agora que as pessoas estão descobrindo”, frisou o ex-presidente. Segundo Dino, “os trabalhadores por aplicativo têm tecnologia do século 21 e direitos do século 18”.
Por melhores condições de trabalho, os entregadores farão uma greve nacional na próxima quarta-feira (1º). Eles prometem paralisar as entregas para forçar as empresas a aumentarem o valor mínimo pago pelas corridas. Além disso, reivindicam outros benefícios, como vale-refeição e seguro contra roubo, acidente e de vida, dentre outros.
Lula e Dino voltaram a cobrar celeridade no pagamento do auxílio emergencial, bem como a sua prorrogação, sem redução do valor. Também defenderam auxílio direto a micro e pequenos empreendedores, não apenas na forma de empréstimo. O governador maranhense defendeu o investimento de recursos públicos direto na conta dessas empresas, que teriam como contrapartida a manutenção do emprego. Ademais, o ex-presidente voltou a defender a necessidade de “rodar dinheiro novo” para suprir as necessidades criadas pela crise.
Lula também disse que os trabalho dos governadores no combate à pandemia tem dado “sinais de esperança ao país”. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro, que deveria coordenar o esforço nacional de enfrentamento, “só dá sinais de desespero”.
O petista afirmou, ainda, que o Brasil tem hoje o governo mais desmoralizado da história, o que afasta investimentos. “Se o Bolsonaro não mudar de comportamento nessa pandemia, nós vamos nos arrastar até 2022 chorando a morte de milhares de vidas que poderiam ter sido salvas.” (Tiago Pereira – RBA)