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Protocolo do governo para uso da cloroquina diz, o tempo todo, que não há evidência de eficácia

Covid-19 x cloroquina: Hora de responsabilidade com a vida

.Por Alexandre Padilha.

Esta semana o Ministério da Saúde anunciou o protocolo com as orientações para o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento medicamentoso de pacientes com sinais e sintomas de Covid-19. Defendo o estudo de todas as alternativas terapêuticas possíveis para tratamento ao Covid-19, incluindo a cloroquina, mas, para isso, que seja incluído o maior número possível de pacientes acompanhados no estudo, para que sejam identificados os eventos adversos precocemente, com real diagnóstico de coronavírus para registro dos resultados do uso da medicação.

(foto gn-eua – cotton puryear)

Estudos científicos apresentados até agora são muito claros de que a cloroquina não é eficaz em pacientes moderados e graves de Covid-19 e aumenta os eventos adversos, como diarreia e arritmia cardíaca.

Não foi comprovado que a cloroquina reduz a mortalidade e a complexidade de infecção em pacientes que fizeram uso em comparação com os que não utilizaram. A ausência de efeitos eficazes é muito clara e os eventos adversos também.

O protocolo anunciado pelo Ministério da Saúde coloca o médico sob pressão para oferecer a medicação muitas vezes sem esse profissional ter exames para monitorar os eventos adversos possíveis para cada paciente, como eletrocardiograma para checar se o paciente tem arritmia cardíaca prévia, exame radiológico para ver se há confirmação de diagnóstico de coronavírus e até a confirmação de diagnóstico por testagem. Ou seja, a medida irá autorizar a distribuição em massa do medicamento, inclusive em pacientes sem diagnóstico de Covid-19.

Além do uso da cloroquina ser tratado como uma briga de torcida pelo governo Bolsonaro, o protocolo em si é uma contradição e reafirma o tempo todo o que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos internacionais: a cloroquina não tem evidência da eficácia e utilização clara para o tratamento a pacientes com coronavírus.

No documento inicial não havia sequer a assinatura de um responsável técnico ou quais foram os critérios para a orientação de uso da medicação sem comprovação da garantia de eficácia cientifica, que apresenta reações adversas claras e possui estudos em uso precoce ainda não definidos.

Na Câmara dos Deputados encaminhei oficialmente ao Ministério da Saúde pedido de informações sobre o protocolo onde questionei, além da falta de critérios e da assinatura do responsável técnico, se foi feita avaliação com monitoramento de pacientes para eventos adversos e registro dos dados, se há recomendação da assinatura de um termo de consentimento para que o paciente e a família possam ter clareza do uso deste tipo de medicação, e a apresentação dos cuidados do sistema de vigilância de eventos adversos.

O Brasil é o epicentro do coronavírus no hemisfério sul e o governo tenta transformar o uso da cloroquina em um jogo de futebol com torcidas rivais, um “FLAxFLU” e eu não entro nesta disputa. Acredito que Bolsonaro faça isso para tirar o foco de outras responsabilidades que ele, enquanto Presidente da República, deve garantir como mais testes diagnósticos, leitos de UTI e mais médicos.

Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal eleito pelo PT-SP. Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad.

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