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Imprensa tenta reagir, mas é cúmplice da morte da democracia brasileira

 Há mais de 30 anos não se ouvia no Brasil um discurso presidencial tão “assustador”, como o de domingo (3), quando o presidente Jair Bolsonaro participou de mais um ato a favor de um golpe com intervenção militar, fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. A afirmação do professor e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, ao avaliar a fala do presidente: “Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite, não tem mais conversa”, ameaçou o presidente.

(foto de vídeo)

Bolsonaro dizia estar “ao lado do povo” e das Forças Armadas. Mais tarde, porém, o Ministério da Defesa desmentiria publicamente um eventual apoio à ruptura democrática. 

Em sua coluna no canal do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Lalo analisa o discurso como um declínio do sistema político vigente. O professor cita o livro dos professores da Universidade de Harvard Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, Como as Democracias Morrem (Ed. Zahar), que se tornou best seller.

“Num determinado trecho eles dizem o seguinte: nós devemos nos preocupar quando políticos rejeitam em palavras ou ações as regras democráticas do jogo. Quando negam a legitimidade de oponentes. Quando o toleram, encorajam a violência. E dão indicações de disposição para restringir liberdades civis de oponentes, inclusive da mídia. Soa familiar isso não?”, ironiza o professor. 

“Eles estão falando de Donald Trump, mas o modelo é seguido à risca pelo sociopata que nos preside”, compara Lalo. “O livro é anterior à tragédia miliciana brasileira, mas há vários trechos que parecem descrever com todas as letras o que está acontecendo hoje aqui”. 

Mídia comercial pavimentou caminho à sepultura

Apesar dos elos entre a morte da democracia estadunidense e a brasileira, o livro derrapa, na análise do professor, ao não perceber a participação da mídia na condução desse processo. Para os autores, a imprensa é descrita quase como um obstáculo aos arroubos autoritários dos governantes em todo mundo. Porém, Lalo lembra que nem sempre foi assim.

Na América Latina, por exemplo, parte dos golpes militares contaram com o apoio das grandes corporações midiáticas. A exemplo do que ocorreu no Brasil, em 1964. Ou ainda, do mais recente golpe jurídico-parlamentar, que depôs a ex-presidenta Dilma Rousseff do seu cargo. Ou até mesmo a construção do mito de que era preciso um “salvador da pátria”.  

Por isso, o amplo repúdio anunciado pelo setor à mais recente declaração de Bolsonaro soa tardio. E mais: está desconectado de uma dose de autocrítica, destaca o professor.

“Continuam dizendo, quase todo dia, que o atual governo desse capitão foi eleito democraticamente, dando a ele uma legitimidade que não tem. Escondem que o atual governo é resultado de um golpe jurídico-parlamentar. E quando precisam criticar o que ele está fazendo, fazem comparações esdrúxulas com governos democráticos e populares, que não têm nada a ver com esse que hoje nos governa. É assim que as democracias morrem. isso não está apenas no nome desse livro que mostrei. É a realidade brasileira de hoje. Construída com a colaboração entusiasmada da mídia comercial”, sintetiza. (Da RBA)

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