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Verve Cineclube estréia a curadoria ‘Tempo, Memória e Cinema’ no MIS

*Programação suspensa devido ao coronavírus, conforme comunicado da Prefeitura Municipal de Campinas:

“O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, anunciou nesta segunda-feira, 16 de março, medidas para conter a disseminação do coronavírus na cidade. Entre as determinações estão o fechamento das escolas públicas e dos equipamentos culturais públicos; […] O objetivo de todas essas medidas […] é reduzir a circulação de pessoas na cidade”.

Um novo Cineclube inicia suas atividades no Museu da Imagem e do Som (MIS), de Campinas, no próximo sábado, 7, às 19h30. Trata-se do Verve Cineclube que estréia a curadoria “Tempo, Memória e Cinema”.

“O Espelho”, de Andrei Tarkovsky

A primeira sessão apresenta ao público o filme “Pai”, de 1966, do diretor húngaro Istvan Szabó.

O Verve Cineclube concretiza um projeto que reúne inquietações em comum. A ocupação do espaço público, o cineclubismo, a estética, a política, a crítica e a teoria do cinema, o debate sobre a cultura.

As sessões ocorrem sempre no primeiro sábado do mês, no MIS-Campinas, que fica na Rua Regente Feijó, 859, Centro. A entrada é gratuita.

O próximo filme da curadoria é “O Espelho”, de 1975, do diretor russo Andrei Tarkovsky.

Veja abaixo a programação completa do cineclube no ano de 2020, que também pode ser vista, juntamente com críticas sobre cinema em geral, no site vervecineclube.com.   

Quando digo “Alice cresce”, quero dizer que ela se torna maior do que era. Mas por isso mesmo ela se torna menor do que é agora. Sem dúvida, não é ao mesmo tempo que ela é maior e menor. Mas é ao mesmo tempo que ela se torna um e outro. (…) O bom senso é a afirmação de que, em todas as coisas, há um sentido determinável; mas o paradoxo é a afirmação dos dois sentidos ao mesmo tempo. (Gilles Deleuze, Lógica do Sentido)

– Apolo, esta cicatriz na sua testa aparece estranha nessa imagem. – Como assim, Dionisio?! Ainda não havia sido marcado. Corte!

“Cronos, o tempo, é inexorável. Uma ausência presente. Uma superfície de passagem. Concentra-se nos corpos, expande-se em relações simbólicas e confere sentido, de modo simultâneo, ao passado, presente e futuro. Opera e é operado pela História. Agente e paciente. Conteúdo e continente de memórias e devir.

A memória conserva-se em si mesma, a História em seus desdobramentos. A memória é, no entanto, codificada, condicionada por funções e posições que se alinham em qualquer período de tempo. Estática, portanto, naquilo que a linguística transfere a outras etapas e ordens dos saberes. Movimentos inconscientes que produzem redes de trocas simbólicas. Sistemas que subsistem nos eventos históricos.

À questão recorrente e falsamente imperativa de “o que é o cinema?” sobrepõe-se a investigação: o que pode o cinema? Pode, tal qual outra arte, reelaborar o tempo, a vida e a história. Pode extrair da literatura, do teatro, das artes performáticas e plásticas não a mímese, a imitação de modelos, a reprodução de sentidos. Pode assumir delas, antes, sua potência criadora; as propriedades particulares que abriram novas linhas de pensamento. Ao cinema, diante do tempo, resta um encontro particular com o real, sempre aberto, em que a imagem não seja um arquétipo imóvel.

Porque a imagem cinematográfica é um corte no tempo, na história, na memória. Mas não um corte qualquer. A imagem cinematográfica é um corte, mas ele próprio um corte móvel.

Cronos, o tempo, convoca Apolo e Dionísio para resolver a contenda: “A cicatriz é minha, não de vocês.” (texto de Danilo Dias de Freitas e Tanael Cesar Cotrim)

Programação

PAI – UM DIÁRIO DE FÉ. (1966) – Março (07/03/2020), 19h30

Direção: István Szabó

Duração: 101 minutos

Sinopse: Takò é um garoto que vive na Budapeste destruída pela Segunda Guerra Mundial. Seu pai morreu ao fim da guerra. Takò cresce envolto de frágeis memórias e das tentativas de construir a imagem de seu pai e de seu país.

O ESPELHO (1975) – Abril (04/04/2020), 19h30

Direção: Andrei Tarkovsky

Duração: 101 minutos

Sinopse: O Espelho apresenta a estilhaçada vida do homem contemporâneo, com suas buscas pelo sentido da existência no tempo. É o mais autobiográfico trabalho de Andrei Tarkovski em que reelabora, em partes, suas memórias permeadas de angústias, traumas e moralidades no garoto Alexéi. O filme é entrelaçado de tempos, encaixados num eixo que leva da experiência infantil na Segunda Guerra Mundial ao presente em decrepitude. O pai do cineasta, o poeta Arseni Tarkovski, lê os próprios poemas em várias partes. Sua mãe também aparece como ela mesma nas lembranças, sonhos e pesadelos de Alexéi.

BAIXIO DAS BESTAS (2006) – Maio (02/05/2020), 19h30

“Baixio das bestas”, de Cláudio Assis

Direção: Cláudio Assis

Duração: 80 minutos

Sinopse: A monocultura da cana de açúcar subsiste na zona da mata pernambucana. As bestas que habitam o baixio, de Heitor a Everardo, são o reflexo acabado do arcaísmo monocultural que insiste no tempo. O Brasil colônia é aqui e agora, ainda. Mesmo aqueles que ainda possuem alguma dignidade – como Mestre Mário e Maninho – não são capazes de se levantar contra a máquina social de moer gente, sobretudo os inocentes.

PROVIDENCE (1977) – Junho (06/06/2020), 19h30

“Providence”, de Alain Resnais

Direção: Alain Resnais

Duração: 102 minutos

Sinopse: Memória, fantasia e crise de criação assolam Clive Langham, um escritor que não sabe se conseguirá terminar seu livro-testamento. A obra imita a vida mental e obsessiva do autor, permeada de rancores, traições e manipulações. Enfim, reencontra a família numa sessão de revelações e desvendamentos.

SÁTÁTANGÓ (1994) – Julho (04/07/2020), 19h30

“Sátátangó”, de Béla Tarr

Direção: Béla Tarr

Duração: 449 minutos

Sinopse: O filme é baseado no romance homônimo de László Krasznahorkai e sua duração é o tempo de leitura do livro, segundo o diretor. As tessituras do tempo, presente, passado e futuro, invadem uma remota vila rural húngara no período de passagem do socialismo real para o capitalismo. A mudança de sistema provoca uma transformação radical nos meios de existência da coletividade, gerando seres alheios ao próprio passado recente.

GLÓRIA (1980) – Agosto (01/08/2020), 19h30

Direção: John Cassavetes

Duração: 123 minutos

Sinopse: Glória, apegada à banalidade de sua vida, conhece o pequeno Phil. Este encontro, a princípio confuso, desenrola-se de forma absolutamente ímpar. Não é que Glória não queira voltar à banalidade de sua vida anterior, mas a plenitude de um instante vale por toda a eternidade.

A GRANDE TESTEMUNHA (Ao Azar Balthazar) (1966) – Setembro (05/09/2020), 19h30

Direção: Robert Bresson

Duração: 95 minutos

Sinopse: O ciclo de vida do burro Balthazar, assim batizado em aspersão, é modelo típico da estética cinematográfica bressoniana. O animal ocupa posições e funções determinadas pelas circunstâncias históricas, pelo uso de que se serve os humanos. No entanto, os dilemas do tempo inscrevem-se no corpo de Bathazar, esculpindo uma memória.

CORAGEM DE TODO DIA (1964) – Outubro (03/10/2020), 19h30

Direção: Evald Schorm

Duração: 87 minutos

Sinopse: Jaroslav Lukas vive uma crise existencial. Atormentado pelas mudanças sociais de seu tempo e pelo alcoolismo, Lukas entra em um labirinto de decadência espiritual e psíquica. O percurso individual de Lukas é também o percurso histórico de seu país, ainda que seus destinos possam bifurcar-se na encruzilhada do tempo.

CARTA PARA JANE (1972) – Novembro (07/11/2020), 19h30

“Carta para Jane”, de Godard

Direção: Jean Luc Godard

Duração: 52 minutos

Sinopse: Realizado para acompanhar as projeções de Tout va bien (1972) em festivais em 1972, esta última colaboração entre Godard e Jean-Pierre Gorin parte de uma fotografia de Jane Fonda publicada em um semanário francês para trabalhar uma modalidade de ensaísmo que seria reinventada em várias ocasiões na carreira posterior de Godard.

BOM DIA (1954) – Dezembro (05/12/2020), 19h30

Direção: Yasujiro Ozu.

Duração: 94 minutos.

Sinopse: Bom dia é uma sátira da vida suburbana japonesa da década de 1960. O conflito entre gerações não é um conflito de tempos em abstrato. A televisão, objeto de impasse familiar, é a cristalização de um novo tempo. Ozu, com sua imobilidade criadora, disseca uma sociedade que tem muito a dizer sobre o banal, mas nada a dizer sobre o que mais importa. Afinal, que tempos são esses?

LOCAL DE EXIBIÇÃO:

MIS-CAMPINAS – Rua Regente Feijó, 859 – Centro – Palácio dos Azulejos, Campinas.

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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