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7ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo espalha espetáculos, oficinas e debates pela cidade

Em São Paulo – A MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo apresenta a programação de espetáculos, atividades reflexivas e pedagógicas de sua sétima edição, que acontece de 5 a 15 de março e se espalha por vários espaços da cidade. Serão doze montagens internacionais com artistas de países como Alemanha, Chile, França, Portugal, Reino Unido, Suíça, entre outros, uma Instalação vídeo-musical e doze nacionais, além de uma ampla grade de oficinas, debates, conversas, lançamentos de livros ao longo dos dez dias de atividades. A abertura, dia 5 de março, será no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, com o espetáculo Multidão, dirigido pela coreógrafa franco-austríaca Gisèle Vienne.

Sopro (Foto: Christophe Raynaud)

Em seu sétimo ano consecutivo, Antonio Araújo (Teatro da Vertigem) e Guilherme Marques (Ecum – Encontro Mundial das Artes Cênicas), idealizadores da MITsp – diretor artístico e diretor geral de produção, respectivamente – mantêm a ideia original de reunir em um festival espetáculos que buscam a experimentação e a investigação da linguagem cênica. Os eixos Mostra de Espetáculos, Ações Pedagógicas, Olhares Críticos e MITbr – Plataforma Brasil seguem privilegiando novos olhares para a cena e diálogos a partir das questões que movimentam o campo artístico.

Produções e artistas em foco

Esta edição, entre os artistas internacionais, o diretor e dramaturgo português Tiago Rodrigues é o Artista em Foco. Um dos nomes em crescente ascensão da cena cultural europeia e vencedor do XV Prêmio Europa Realidades Teatrais em 2018, Rodrigues apresenta dentro da programação da Mostra Sopro e By Heart. O performer, coreógrafo e pesquisador João Fiadeiro é o Pedagogo em Foco, além de trazer o espetáculo O que Fazer Daqui para Trás, fará um Intercâmbio Artístico, atividade dentro do eixo de Ações Pedagógicas.

Outros destaques da Mostra, Contos Imorais – Parte 1: Casa Mãe é uma performance criada e interpretada por Phia Ménard, apresentada inicialmente na Documenta de Kassel. Outro solo, Tenha Cuidado, da indiana Mallika Taneja, trata de um assunto caro ao país da intérprete, a condição das mulheres. Sábado Descontraído, da artista de Ruanda radicada na França Dorothée Munyaneza, reconta a guerra civil que assolou seu país em 1994.

O Pedido, produção do Reino Unido, parceria do diretor Mark Maughan e do dramaturgo Tim Cowbury, com um texto afiado, fala do abismo da comunicação, da burocracia e da injustiça com o processo de imigração. Burgerz, produção inglesa de Travis Alabanza, a partir de um episódio pessoal, coloca em cena a violência contra a população trans. Ainda compõem a programação a produção alemã Farm Fatale, dirigida pelo francês Philippe Quesne; Tu Amarás, da chilena Compañía Bonobo. Gisèle Vienne, além de Multidão, apresenta o solo Babaca, fruto de sua parceria com o escritor americano Dennis Cooper, e interpretado pelo francês Jonathan Capdevielle. ORLANDO é Instalação vídeo-musical dirigida pela suíça Julie Beauvais, que combina imagens projetadas e música ao vivo dentro de um cenário imersivo, pelo qual o público pode circular.

Em seu terceiro ano, a MITbr – Plataforma Brasil se consolida como um importante programa de internacionalização das artes cênicas brasileiras. Para esta edição, a convocatória lançada em agosto de 2019 recebeu 791 inscrições vindas de 20 Estados brasileiros (AL, AM, BA, CE, GO, ES, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PB, PI, PR, RJ, RN, RS, SC e SP), Distrito Federal, além de oito inscrições internacionais vindas da Argentina, Portugal, Espanha, Uruguai, EUA e Suécia.

Com curadoria de Alejandro Ahmed, Francis Wilker e Grace Passô, os doze espetáculos selecionados são convidados a se apresentar para programadores de festivais nacionais e internacionais – um passo importante para a expansão do reconhecimento das artes cênicas brasileira no cenário internacional, fomentando sua circulação e visibilidade.

A MITbr – Plataforma Brasil traz a artista da dança e do teatro  Andreia Pires, da Inquieta Cia, de Fortaleza, é a Artista em Foco da MITbr e apresenta Pra Frente o Pior e Fortaleza 2040. Ela ainda participa de atividades nas Ações Pedagógicas e Olhares Críticos. A artista e pesquisadora Janaina Leite é a Pesquisadora em Foco e mostra seu recente trabalho Stabat Mater, cuja abertura de processo foi apresentada na edição da MITsp 2019. Seu trabalho será parte de debate e conversa na programação do eixo Olhares Críticos.

Ainda compõem a programação os espetáculos Cancioneiro Terminal, do grupo MEXA, Entrelinhas, do Coletivo Ponto Art; violento., de Alexandre de Sé; Gota D’Água {PRETA}, do grupo Gira pro Sol, O Ânus Solar, de Maikon K; Meia Noite, de Orun Santana; Recolon, do Coletivo Mona; tReta, da Original Bomber Crew e ZOO, do grupo Macaquinhos.

Ações Pedagógicas, Olhares Críticos e Eventos Especiais

Como parte da programação em todos os anos, as Ações Pedagógicas e os Olhares Críticos compõem, com igual relevância, o panorama de intercâmbio e aproximação entre o público e artistas de várias nacionalidades, pesquisadores, produtores e críticos. Suas ações procuram levar reflexões e práticas sobre o fazer teatral que vão além dos espaços cênicos.

As Ações Pedagógicas, com curadoria de Maria Fernando Vomero, propõem nesta edição a discussão de novas pedagogias, novos modos de produzir e transmitir conhecimento e outras possibilidades de permitir a emergência de autonomias – isso envolve também a recriação de espaços, com novas interações, novos jeitos de habitar, conviver, circular. Entre as ações já confirmadas, as residências artísticas com o grupo inglês Quarantine e com o diretor e dramaturgo argentino Lisandro Rodriguez, os intercâmbios artísticos com o coreógrafo e pesquisador João Fiadeiro e com a performer guatemalteca Regina Galindo.

Com curadoria de Luciana Romagnolli e Daniele Ávila Small, o eixo Olhares Críticos, a partir de uma série de ações, lança questões para o público sobre os temas que atravessam as artes cênicas – em particular os espetáculos apresentados na programação da Mostra – e a contemporaneidade sob uma perspectiva provocadora e crítica. Entre as atividades já confirmadas estão as Reflexões Estético-Políticas com mesas de conversas sobre o tema “A cultura como direito constitucional e bem comum”, além dos diálogos transversais, entrevistas com Artistas em Foco, publicação de artigos e de críticas diárias.

O Seminário Perspectivas Anticoloniais, com curadoria de Christine Greiner, Andreia Duarte e José Fernando Peixoto de Azevedo, é uma das atividades que faz parte dos Eventos Especiais. O seminário se divide em duas partes: Exercício de Leitura – para lidar com as questões epistemológicas na relação anticolonial -; e os Encontros, que convidam pesquisadores, artistas e ativistas a partir da pergunta: “O que ainda podemos imaginar juntos?”.

Mostra de Espetáculos

MITsp – Espetáculos internacionais 

Ator, diretor e dramaturgo, Tiago Rodrigues é o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, desde 2015. Um dos nomes em crescente ascensão da cena cultural europeia, Rodrigues coloca o teatro como um local de encontro e partilha de ideias. Ganhou destaque por colocar em cena espetáculos que transitam entre a realidade e a fantasia, com grande sofisticação poética e de pensamento. Na Mostra, apresenta Sopro e By Heart, em que essa combinação é apresentada de diferentes formas. Tiago Rodrigues é o Artista Internacional em Foco desta edição da MITsp.

Sopro estreou em 2017 com grande sucesso no Festival d’Avignon, na França. O espetáculo trata da trajetória de Cristina Vidal, que há quase 30 anos trabalha como “ponto” (a pessoa que sopra as falas para atores que se esquecem do texto) no Teatro Nacional D. Maria II. Na trama, clássicos da dramaturgia, de Tchékhov, Racine ou Molière, se misturam a memórias e histórias de Cristina. Uma homenagem ao teatro e seus bastidores. “Com uma ideia original muito bem concretizada, a caminhar, como o ponto, entre a sombra e a luz, e um elenco escolhido a dedo, esta proposta, de grande equilíbrio entre drama e humor, atinge momentos quase poéticos, irretocáveis e raros”, escreveu Gisela Pissarra para a revista semanal Sábado, de Portugal.

Seu outro trabalho presente na programação, By Heart, de 2013, ou De Cor em português, também trata da memória a partir de uma relação pessoal. “É sobre o coração. Sobre contar histórias. Sobre memória. E sobre livros. É o teatro reduzido a uma poderosa essência. É um dos trabalhos mais delicados, simples e complexos que você vai ver. E tudo isso apresentado de forma calorosa, exuberante e com muito humor. By Heart é primoroso”, destacou para o site australiano a crítica Tracey Korsten. Tiago Rodrigues é o criador e o único ator em cena. O espetáculo nasceu da relação de autor com sua avó Cândida, leitora assídua que tinha por hábito decorar trechos de livros. Enquanto se memorizam versos, Rodrigues fala de sua avó, de escritores (William Shakespeare, Boris Pasnernak, Ray Bradbury) e personagens literários.

Com quinze jovens em cena, Multidão é o trabalho da coreógrafa e diretora franco-austríaca Gisèle Vienne que abre a sétima edição da MITsp. Nessa coreografia, os bailarinos vivem uma montanha-russa de emoções durante uma festa de techno.  Com uma seleção musical que reúne artistas de renome na história da dance music, como DJ Rolando, Global Communication e Jeff Mills, vivenciam situações intensas e alcançam estados alterados de seus sentidos. Fazem isso manipulando a velocidade dos movimentos de seus corpos em momentos predominantemente coletivos. É essa dinâmica que chamou atenção da crítica do site inglês The Stage Rachel Elderkin. “Trabalhada com coreografia meticulosa, mas executada sem esforço pela companhia de dançarinos de Vienne, Multidão é uma peça ousada e visualmente atraente, projetada com um toque cinematográfico…Nos 90 minutosmantém essa fisicalidade cinematográfica e a empurra até o limite. Acelerou, pausou ou diminuiu a velocidade, a ação desliza quadro a quadro; cenas de luxúria, promiscuidade, violência e amizade são encerradas na mesma atmosfera carregada e inebriante.”

O solo Babaca, fruto da parceria entre Gisèle Vienne e o escritor americano Dennis Cooper, é uma reconstrução imaginária e sombria dos crimes cometidos pelo serial killer Dean Corll (1939-1973), conhecido como “the candy man” (o homem dos doces). Com a ajuda dos adolescentes David Brooks e Elmer Wayne Henley, ele torturou, estuprou e executou mais de vinte garotos na cidade de Houston, no Texas, em meados dos anos 1970. Em cena, o ventríloquo e ator francês Jonathan Capdevielle mostra o criminoso cumprindo sua sentença de prisão perpétua, onde aprendeu a arte dos fantoches e representa seus crimes com os bonecos. Dessa forma, investiga as noções entre o fantástico e o real e questiona o que acontece quando a fantasia é de fato vivida. Sobre essa questão, Gianni Truzzi, do Seattle Times, colocou: “Nossos sentidos são confundidos pelas visões horríveis e ridículas diante de nós: fantoches de mão em uma mistura de formas humanas e animais, cometendo atos grotescos de violência e sexo.”

Tenha Cuidado, da indiana Mallika Taneja, também parte de um episódio violento de seu país que chocou o mundo. Em 2013, depois do estupro e assassinato brutal de Jyoti Pandey, 23 anos, estudante de medicina pertencente a uma família de classe média baixa, pessoas saíram às ruas em grande número, horrorizadas com a violência do incidente, com medo de quão perto estava de ‘casa’. O incidente mobilizou debates e diálogos sobre segurança, gênero e feminismo no país. Tenha Cuidado tem como pano de fundo esses intensos debates e a contínua violência contra as mulheres na Índia. O monólogo é um guia satírico sobre como as mulheres devem se vestir, uma peça curta que visa desafiar noções de segurança, responsabilidade e responsabilização das vítimas. “A nudez é fundamental para o desempenho de Taneja, mas a nudez não é o ponto…Ela contrapõe a alta obediência de Taneja vestida com a rebelião silenciosa de Taneja nua. Em menos de meia hora, ela faz a declaração mais poderosa e provocativa, política e teatral contra aqueles que dizem que ‘a garota estava pedindo’, contra aqueles que culpam a mulher por todo ato de agressão sexual a ela” (Charmy Harikrishnan para a revista indiana Open the Magazine).

Em Burgerz, Travis Alabanza aborda outra forma de violência, a exploração do assédio que experimentou em público – andando pela rua, em Londres, em plena luz do dia, alguém atirou um hambúrguer em Travis e nenhuma pessoa que passava fez nada. Combinando teatro, culinária e interação com os espectadores, Burgerz faz a pergunta: o que o corpo trans faz para sobreviver e como se tornar um protetor, em vez de espectador? A performance é, ao estilo de Alabanza, inquietante e poderosa. Sobre sua atuação, o jornal The Guardian escreveu: “Embora frágil, Alabanza é atrevida e espirituosa, alimentando o público como uma estrela de cabaré experiente e aproveitando a imprevisibilidade do formato interativo. Suas tiradas geram rugidos de riso, mas o roteiro zangado e inteligente também é ressaltado com a verdadeira dor da exclusão, de estar encaixotado, de estar preso em um mundo onde a violência sexual e racial é predominante e, com muita frequência, tolerada.”

João Fiadeiro, coreógrafo e diretor português, traz para a Mostra O que Fazer Daqui para Trás, além disso participa de um Intercâmbio Artístico voltado a artistas brasileiros. Em O que Fazer Daqui para Trás, o coreógrafo faz uma crítica à urgência e à rotina acelerada. Na peça, os intérpretes entram um a um na cena e se dirigem, ofegantes, ao microfone, único elemento a permanecer constantemente no palco sem nenhum cenário. Entre uma aparição e outra dos performers, o espectador fica esperando o que irá ocupar o vazio deixado por eles. “Em O que Fazer Daqui para Trás há uma regra performativa, inteligente e constante, com implicações decisivas e valiosas. (…) O palco despido, a rarefação de objetos e o recurso a um só princípio coreográfico são indícios de um ‘tempo sem´ – sem dinheiro, sem coisas, sem direitos… – e talvez do equilíbrio esgotante da corrida pela sobrevivência.”, escreveu sobre a atuação Paula Varanda, para a revista Ípsilon.

Outro espetáculo, Farm Fatale, produção alemã do diretor francês Philippe Quesne, também invoca um lugar de abandono. As imagens da vida rural são nostálgicas: os sons da natureza desapareceram e as pessoas se foram. Apenas cinco espantalhos povoam o palco, uma página inicialmente em branco. Esse local desolado se enche e se torna o lugar de um novo começo: os espantalhos são arquivistas do passado em busca de mundos possíveis. Como em trabalhos anteriores, Quesne combina teatro humorístico e artes visuais. Ali tudo pode ganhar visibilidade, incluindo sons ou objetos. “Mais uma vez, o inventivo Philippe Quesne apresenta um espetáculo louco com essa fábula rural com charme infantil, invenções agradáveis, sempre cheias de humor, poesia, bom senso e inteligência. Muito preocupado com as questões ambientais…, o artista exprime o estado de um mundo distópico, onde os agricultores são dominados pela superprodutividade e industrialização de seu comércio. Sonhadores e ativistas, os personagens reinventam um sistema que preserva a natureza.” (Christophe Candoni – sceneweb.fr).

Do Chile, a companhia Bonobo, apresenta Tu amarás, peça que parte de indagações sobre alienígenas que tiveram que se estabelecer na Terra. As discussões acontecem quando um grupo de médicos faz os ajustes finais de sua apresentação para uma convenção internacional sobre preconceitos na medicina. O que é um inimigo? Como é construído? O que o define ou diferencia? Como nos relacionamos com o “outro”? Peça vencedora do prêmio de crítica em 2019 no Tokio Festival World Competition, essas são algumas das questões e tensões que surgem entre os médicos. “No entanto, durante a preparação da exposição, esse grupo de médicos vai se dando conta de como sobrevivem os preconceitos, medos e violência contra essa raça de alienígenas, que foram inicialmente acolhidos com grande simpatia, mas com o correr do tempo se tornou uma questão de controvérsia sobre o desafio de integração que eles significam”, escreveu Rodrigo Quintana Ortega para o El mostrador.

O Pedido, parceria do diretor Mark Maughan e do dramaturgo Tim Cowbury, relata as falhas na comunicação e as injustiças dos sistemas de asilo para refugiados. Na história, Serge, exilado do Congo, se depara com questionamentos burocráticos e interpretações equivocadas. O título remete ao livro O Processo, de Franz Kafka, e discute a nossa falta de escuta do outro. O tom cômico e absurdo reforça a importância do texto, repleto de jogos de palavras. Como colocou Daisy Bowie-Sell para o site What’s on Stage: “O Pedido é uma aula magna sobre os abismos da língua, um tenso, engraçado e, mais do que tudo, inquietante trabalho, que nos lembra como a interpretação, os pontos de vista e nossos sistemas de ´negro e branco´ não dão espaço para pessoas vulneráveis.

Em seu espetáculo, Sábado Descontraído, a ruandense Dorothée Munyaneza reconta a guerra civil que assolou seu país em 1994, levando ao genocídio de 800 mil pessoas, por meio de suas memórias. O nome do espetáculo remete a um programa de rádio local, que embalava toda a população do país, com músicas de várias partes do mundo. As canções daquela época ressurgem na mente e no corpo da artista, trazendo à tona as lembranças de amigos e da família. “Munyaneza fala e canta, eventualmente pulando sobre uma mesa, semelhante às que ela e os amigos costumavam usar como abrigo, e é acompanhada pela bailarina marfinesa Nadia Beugré e pelo compositor francês Alain Mahé. Seus esforços poderiam dar maior teatralidade ao espetáculo, traduzindo eventos reais em som e imagem viscerais. Em vez disso, mostram como a metáfora pode falhar diante de tamanha atrocidade (…) É quase impossível imaginar um som, um passo, um símbolo que consiga representar os horrores que Munyaneza detalha”, escreveu Alexis Soloski, para o The New York Times.

Contos Imorais – Parte 1: Casa Mãe, de Phia Ménard, foi apresentado inicialmente na Documenta de Kassel. Uma performance em que a artista se inspirou na reconstrução de cidades europeias depois da Segunda Guerra Mundial. Em cena, Ménard, vestida de guerreira, constrói sozinha uma casa, com persistência e repetição. “…Toda a beleza desta Casa Mãe, que, portanto, consiste em olhar para a artista fantasiada de guerreira estranha manipular sua decoração sem nunca ter certeza de que ela a cuida ou a manipula (nem se a casa a protege ou a encerra): deixe as imagens e o tempo tocarem. Deixando-nos completamente livres para decidir se essas imagens evocam a destruição-construção da Europa, a do patriarcado ou a maneira pela qual as duas estão ligadas.” (Ève Beauvallet, Libération).  

A produção suíça ORLANDO, dirigido por Julie Beauvais, parte do romance homônimo de Virginia Woolf sobre um personagem andrógino, que transita entre o feminino e o masculino. A obra, que combina vídeos e música ao vivo dentro de um cenário imersivo, investiga gênero e identidade, e questiona quais seriam os Orlandos de hoje, habitantes de um mundo imerso no paradigma pós-binário.

Mostra de Espetáculos

Sopro (2017)

Duração: 1h45 | Recomendação: 12 anos |

Sinopse: Homenagem ao teatro e seus bastidores, o espetáculo é construído a partir das lembranças de Cristina Vidal, que há quase 30 anos trabalha como ponto (a pessoa que sopra as falas para atores que se esquecem do texto) no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Essa personagem das sombras está pela primeira vez sobre o palco, acompanhada por cinco atores. Num cenário que simula um teatro em ruínas, com mato crescendo em meio às tábuas, ela surge com texto em mãos, soprando as falas para o elenco. É por meio deles, os intérpretes, que Vidal reconta a sua trajetória e a história da própria casa de espetáculos. Guardiã de uma atividade em vias de extinção, ela evoca memórias reais e fictícias, mesclando causos das coxias, fantasmas de artistas que por ali passaram e clássicos da dramaturgia, como textos de Tchékhov, Racine e Molière.

Ficha Técnica: texto e encenação: Tiago Rodrigues; com: Beatriz Maia, Cristina Vidal, Isabel Abreu, Marco Mendonça, Romeu Costa e Sara Barros Leitão; elenco original: Beatriz Brás, Cristina Vidal, Isabel Abreu, João Pedro Vaz, Sofia Dias e Vítor Roriz; cenografia e desenho de luz: Thomas Walgrave; figurinos: Aldina Jesus; sonoplastia: Pedro Costa; assistente de encenação: Catarina Rôlo Salgueiro; operação de luz: Daniel Varela; produção executiva: Rita Forjaz; assistência de produção: Joana Costa Santos; produção: Teatro Nacional D. Maria II; coprodução: ExtraPôle Provence-Alpes-Côte d’Azur, Festival d’Avignon, Théâtre de la Bastille, La Criée Théâtre National de Marseille, Le Parvis Scène Nationale Tarbes Pyrénées, Festival Terres de Paroles Seine-Maritime – Normandie, Théâtre Garonne Scène Européenne e Teatro Viriato;  apoio: Onda; agradecimentos: Agnès Troly, Beatriz Maia, Carla Bolito, Carla Galvão, David Pinto, Filipa Matta, João Coelho, Julie Bordez, Magda Bizarro, Marco Mendonça, Mariana Magalhães, Paul Rondin, Romeu Costa, Sara Barros Leitão, Teresa Coutinho, equipe do Festival d’Avignon, equipe técnica do Cloître des Carmes e ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual.

By Heart (De Cor| 2013)

Duração: 1h30 min a 2h| Recomendação: 12 anos |

Sinopse: A história do espetáculo nasceu da relação de Tiago Rodrigues com sua avó Cândida, cozinheira e leitora assídua, que tinha por hábito decorar trechos de livros, muitos deles presenteados pelo neto em suas visitas. By Heart trata do vínculo entre a literatura e a memória, em especial do aspecto afetivo dessa relação. É um teatro que se assume como espaço de transmissão de um conhecimento que não pode ser medido, que não é palpável – como o esconderijo que criamos, em nossos cérebros e corações, para textos proibidos durante regimes autoritários, decorando as obras e garantindo sua sobrevivência ao longo dos tempos. Enquanto se memorizam versos, fala de sua avó quase cega, de personagens literários, escritores e críticos (como William Shakespeare, Boris Pasnernak, Ray Bradbury e George Steiner), além de um programa de TV holandês chamado Beleza e Consolação.

Ficha Técnica: texto, encenação e interpretação: Tiago Rodrigues; com fragmentos e citações de: William Shakespeare, Ray Bradbury, George Steiner e Joseph Brodsky, entre outros; cenografia, adereços e figurino: Magda Bizarro; produção executiva: Rita Forjaz; produção executiva na criação original: Magda Bizarro e Rita Mendes; produção: Teatro Nacional D. Maria II, a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito; coprodução: O Espaço do Tempo, Maria Matos e Teatro Municipal. Espetáculo criado com o apoio do Governo de Portugal | DGArtes.

Multidão (Crowd | 2017)

Crowd (Foto: Mathilde Darel)

Duração: 90 minutos | Recomendação: 12 anos |

Sinopse: Na peça da artista franco-austríaca Gisèle Vienne, quinze jovens vivem uma montanha-russa de emoções durante uma festa de techno. Guiados por uma seleção musical que reúne artistas de renome na história da dance music, como DJ Rolando, Global Communication e Jeff Mills, os dançarinos vivenciam situações intensas e alcançam estados alterados de seus sentidos. Fazem isso manipulando a velocidade dos movimentos de seus corpos em momentos predominantemente coletivos, mas que não excluem as narrativas individuais pelas quais cada um passa naquela noite. Vienne, cujos trabalhos investigam a relação entre o artístico e o religioso – esbarrando em questões complexas do comportamento humano, como o erotismo e a violência –, cria aqui um jogo de ritmos que provoca a impressão de distorção do tempo, remetendo a uma sensação alucinógena, hipnótica.

Ficha técnica: concepção, coreografia e cenografia: Gisèle Vienne; assistência: Anja Röttgerkamp e Nuria Guiu Sagarra; designer de luz: Patrick Riou; dramaturgia: Gisèle Vienne e Denis Cooper; seleção musical: Underground Resistance, KTL, Vapour Space, DJ Rolando, Drexciya, The Martian, Choice, Jeff Mills, Peter Rehberg, Manuel Göttsching, Sun Electric e Global Communication; edição e seleção de playlist: Peter Rehberg; supervisor: Stephen O’Malley; performers: Lucas Bassereau, Philip Berlin, Marine Chesnais, Sylvain Decloitre, Sophie Demeyer, Vincent Dupuy, Massimo Fusco, Rehin Hollant, Georges Labbat, Theo Livesey, Katia Petrowick, Linn Ragnarsson, Jonathan Schatz, Henrietta Wallberg e Tyra Wigg; figurinos: Gisèle Vienne em colaboração com Camille Queval e os performers;  engenheiro de som: Mareike Trillhaas; diretor técnico: Richard Pierre; diretor de palco: Antoine Hordé;  operador de luz: Arnaud Lavisse; agradecimentos: Louise Bentkowski, Dominique Brun, Patric Chiha, Zac Farley, Uta Gebert, Margret Sara Guðjónsdóttir, Isabelle Piechaczyk, Arco Renz, Jean-Paul Vienne e Dorothéa Vienne-Pollak; produção e divulgação: Alma Office, Anne-Lise Gobin, Alix Sarrade, Camille Queval & Andrea Kerr; administração: Etienne Hunsinger & Giovanna Rua; produtor executivo: DACM; coprodução: Nanterre-Amandiers, centre dramatique national/Maillon, Théâtre de Strasbourg – Scène européenne / Wiener Festwochen / manège, scène nationale – reims / Théâtre national de Bretagne / Centre Dramatique National Orléans/Loiret/Centre/La Filature, Scène nationale – Mulhouse / BIT Teatergarasjen, Bergen. Support: CCN2 – Centre Chorégraphique national de Grenoble / CND Centre national de la danse. A companhia Gisèle Vienne é apoiada pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da França – Direção Regional de Assuntos Culturais Grande Leste, pela Região Grande Leste e pela cidade de Estrasburgo. Para turnês internacionais, o grupo tem apoio do Institut Français Paris. Gisèle Vienne é artista associada no Nanterre-Amandiers, centro dramático nacional, e no Théâtre National de Bretagne, dirigido por Arthur Nauzyciel.

Babaca (Jerk |2008)

Duração: 55 minutos | Recomendação: 18 anos |

Sinopse: O solo, fruto da parceria entre o escritor americano Dennis Cooper e a diretora franco-austríaca Gisèle Vienne, é uma reconstrução imaginária, estranha e sombria dos crimes cometidos pelo serial killer Dean Corll (1939-1973), conhecido como “the candy man” (o homem dos doces). Com a ajuda dos adolescentes David Brooks e Elmer Wayne Henley, ele torturou, estuprou e executou mais de vinte garotos na cidade de Houston, no Texas, em meados dos anos 1970. A peça, performada pelo ventríloquo e ator francês Jonathan Capdevielle, mostra David Brooks cumprindo sua sentença de prisão perpétua. Na trama criada por Cooper, ele aprendeu a arte dos fantoches e apresenta no presídio para estudantes de psicologia um show no qual reconstrói os assassinatos utilizando os bonecos. Com violência e humor, Babaca investiga as noções entre o fantástico e o real e questiona o que acontece quando a fantasia é de fato vivida. 

Ficha técnica: de um romance de: Dennis Cooper; direção: Gisèle Vienne; dramaturgia: Dennis Cooper; música: Peter Rehberg (música original) e El Mundo Frio of Corrupted; designer de luz: Patrick Riou;  performado por e criado em colaboração com Jonathan Capdevielle; vozes gravadas: Dennis Cooper e Paul P; stylisme: Stephen O’Malley e Jean-Luc Verna; marionetes: Gisèle Vienne e Dorothéa Vienne Pollak; maquiagem: Jean-Luc Verna e Rebecca Flores; figurinos: Dorothéa Vienne Polak, Marino Marchand e Babeth Martin; professor de ventriloquismo: Michel Dejeneffe, com o time técnico do quartz – scène nationale de Brest; diretor técnico para a criação: Nicolas Minssen; tradutor de texto do inglês para o francês: Emmelene Landon. Ilustrações: Jean-Luc Verna, Courtesy Air de Paris; agradecimentos: l“Atelier de création radiophonique of France Culture, Philippe Langlois and Franck Smith. To Sophie Bissantz for sound effects. Voices and sound effects have been recorded for the Atelier de creation radiophonique. Justin Bartlett, Nayland Blake, Alcinda Carreira-Marin, Florimon, Ludovic Poulet, Anne S – villa Arson, Thomas Scimeca, Yury Smirnov, Scott Treleaven, la galerie Air de Paris, Tim/IRIS et Jean-Paul Vienne; produção e divulgação Anne-Lise Gobin, Alix Sarrade, Camille Queval e Andrea Kerr. Administração: Etienne Hunsinger e Giovanna Rua. Produtor associado: DACM. Com a colaboração: Quartz – Scène nationale de Brest (Gisèle Vienne associate artist from 2007 to 2011). Coprodução: Le Quartz – Scène nationale de Brest, Centre Chorégraphique National de Franche-Comté à Belfort dans le cadre de l’accueil-studio and Centro Parraga-Murcia. Com o apoio do With the support of Conseil Général de l’Isère, Ville de Grenoble e do and the Ménagerie de Verre in the framework of studiolab. A companhia Gisèle Vienne é apoiada pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da França – Direção Regional de Assuntos Culturais Grande Leste, pela Região Grande Leste e pela cidade de Estrasburgo. Para turnês internacionais, o grupo tem apoio do Institut Français. Gisèle Vienne é artista associada no Nanterre-Amandiers, centro dramático nacional, e no Théâtre National de Bretagne, dirigido por Arthur Nauzyciel.

Farm Fatale (2019)

Farm fatale (Foto: Martin Argyroglo)

Duração: 1h30 min | Recomendação: 12 anos |

Sinopse Em Farm Fatale, o diretor Philippe Quesne evoca o imaginário da vida no campo. Mas esse espaço rural, antes idílico, agora surge num futuro distópico, já todo abandonado. Os sons da natureza se dissiparam, os pássaros e insetos desapareceram e as pessoas foram embora. Sobrou apenas um grupo de espantalhos, figuras engenhosas que tentam rememorar o passado e, aos poucos, preencher esse lugar vazio. Eles vão trazendo elementos para o palco desnudo (de início, só uma tela em branco), unem-se num programa de rádio independente, fazem músicas, discutem problemas ambientais e até lançam a questionamentos filosóficos. Mascarados, com a voz deformada e o caminhar endurecido, como se fossem zumbis, esses personagens usam do humor e da ironia na busca de um recomeço, na utopia de um mundo novo e melhor – um mundo sem pessoas.

Ficha técnica: concepção, direção, cenário, figurinos e produção de palco: Philippe Quesne; elenco: Léo Gobin, Stefan Merki, Damian Rebgetz, Julia Riedler e Gaëtan Vourc’h; colaboração cenográfica: Nicole Marianna Wytyczak; colaboração com figurinos: Nora Stocker; iluminação: Pit Schultheiss; dramaturgia: Martin Valdés-Stauber; produção: Münchner Kammerspiele, em coprodução com Nanterre-Amandiers, Centre Dramatique National.

Tenha Cuidado (Be Careful |2014)

Duração: 30 minutos | Recomendação: 14 anos |

Sinopse: Em dezembro de 2012, Nova Deli ficou chocada com o estupro e assassinato brutal de Jyoti Pandey, 23 anos, estudante de medicina pertencente a uma família de classe média baixa. O incidente lançou a cidade em uma série de protestos e demandas. As pessoas saíram às ruas em grande número, horrorizadas com a violência, com medo de quão perto estava de ‘casa’, e mudou o curso do diálogo sobre segurança, gênero e feminismo no país. Tenha Cuidado tem como pano de fundo esses intensos debates e a contínua violência contra as mulheres no país. A peça é um guia satírico sobre como as mulheres devem se vestir, uma peça curta que visa desafiar noções de segurança, responsabilidade e responsabilização das vítimas.

Ficha Técnica: Concepção e performance: Mallika Taneja; turnê e produção: Meghna Singh Bhadauria; divulgação internacional: Judith Martin e Ligne Directe. Esta peça foi criada no Tadpole Repertory em 2013 como parte de seu show NDLS

Burgerz (Burgerz |2016)

Burgerz (Foto: Elise Rose)

Duração: 70 minutos | Recomendação: 14 anos |

Sinopse: Depois que alguém jogou um hambúrguer e gritou uma ofensa transfóbica para Travis Alabanza em plena luz do dia na Ponte de Waterloo, em Londres, e nenhum dos transeuntes se manifestou, ile*, que se define como uma pessoa não binária, começou uma obsessão por hambúrgueres: como são feitos, qual a sua textura e seu cheiro. Este solo interativo é o clímax de sua compulsão. Nele, Alabanza, uma das vozes trans de destaque no Reino Unido, utiliza a plateia para explorar de forma pungente e bem-humorada como os corpos trans sobrevivem e como, ao se recuperarem de um ato de violência, podem conquistar sua própria cumplicidade.

* Os pronomes não binários “ile(s)” (em inglês “they”) substituem os pronomes pessoais “ela(s)” ou “ele(s)”. São termos que não demarcam o gênero, já que pessoas não binárias não se identificam como femininas ou masculinas. 

Ficha Técnica: Direção: Sam Curtis Lindsay; cenário e figurino: Soutra Gilmour; designer associado: Isabella van Braeckel; designer de luz: Lee Curran & Lauren Woodhead; design de som: XANA; movimento: Nando Messias; criado em associação com Ovalhouse & Marlborough Theatre; patrocinado: Supported by Arts Council England, Heritage Lottery Fund & Bishopsgate Institute.

O que Fazer Daqui pra Trás (2015)

Duração: 60 minutos | Recomendação: 12 anos |

Sinopse: Em O que fazer daqui para trás, de João Fiadeiro explora o tempo – sua duração, suspensão ou intervalo – ao “mesmo tempo” que foca a sua atenção naquilo que fica, no que foi esquecido, no resto. E é a prova da ausência de uma presença. Ou melhor, é a presença de uma ausência. É no “resto” que vamos encontrar os traços e os rastos para darmos início à impossível tarefa de reconstruir o mundo, uma e outra vez. O resto é também o que está entre o corpo e “a presença do outro no corpo”, uma fuga permanente para coisas que ainda não são, para o que as coisas podem. “O que fazer daqui para trás” posiciona-se entre a dúvida e a possibilidade. Onde o não-dito é mais importante do que aquilo que se diz, onde a ausência se sobrepõe à presença e onde o drama não vem do teatro mas daquilo que os corpos – dos performers e dos espectadores – podem (e têm e trazem). A sombra indica-nos a presença da luz, o silêncio a presença do som e a ausência a presença do acontecido. Da sombra, do silêncio e da ausência, eis – para quem se pergunta – aquilo que esta peça trata.

Ficha Técnica: concepção e direção: João Fiadeiro; codireção: Carolina Campos; performance e cocriação: Adaline Anobile, Carolina Campos, Márcia Lança, Iván Haidar e Daniel Pizamiglio; desenho de luz: Colin Legran; direção técnica: Leticia Skrycky.

Sábado Descontraído (Samedi Détente | 2014)

Samedi Detente (Foto: Jose Caldeira)

Duração: 1h15 min | Recomendação: 16 anos

Sinopse: Por meio de suas lembranças de infância, a ruandense Dorothée Munyaneza reconta a guerra civil que assolou seu país em 1994, levando ao genocídio de 800 mil pessoas. A artista estava prestes a completar 12 anos quando se viu em meio aos conflitos, e desde então não conseguiu mais ouvir Samedi Détente (algo como Sábado Descontraído, em francês), um programa de rádio que embalava toda a população do país, com músicas de várias partes do mundo. Mas as canções daquela época ainda hoje ressurgem na mente e no corpo da artista, trazendo à tona as lembranças de amigos e da família. No espetáculo, espécie de testemunho cênico, Munyaneza tenta dar conta dos horrores do conflito através dessas memórias afetivas. Narra as histórias de guerra mesclando linguagens do teatro, da dança e da música e trazendo elementos que remetem à jornada de conflitos, como mesas e lonas (que serviam de abrigos contra os tiroteios) e camadas diversas de roupas (seus escudos).

Ficha Técnica: Concepção, coreografia e direção: Dorothée Munyaneza; elenco: Nadia Beugré, Kamal Hamadache e Dorothée Munyaneza; provocador: Mathurin Bolze; desenho de luz: Christian Dubet; cenário: Vincent Gadras; figurino: Tifenn Morvan; direção de palco: Frédérique Melin; direção de som: Camille Frachet; produção: Compagnie Kadidi, Anahi Production; direção de produção: Emmanuel Magis, Anahi; assistente de produção: Leslie Fefeu; coprodução: Théâtre de Nîmes – Scène Conventionnée pour la Danse, Théâtre La Passerelle – Scène Nationale de Gap et des Alpes du Sud, Bois de l’Aune-Aix-en-Provence, Théâtre des Salins – Scène Nationale de Martigues, L’Onde – Théâtre Centre d’Art de Vélizy-Villacoublay, Pôle Sud – CDCN Strasbourg, Théâtre Jacques Prévert – Aulnay-sous-Bois, Le Parvis – Scène Nationale de Tarbes, Théâtre Garonne – Toulouse, Réseau Open Latitudes 2; apoio cultural: European Programme, Théâtre de Liège, Théâtre de la Ville – Paris, BIT Teatergarasjen – Bergen. Com apoio do Théâtre Le Monfort–Paris, do Friche Belle de Mai–Marseille, da Direção Regional de Assuntos Culturais PACA – Ministério da Cultura e Comunicação, do SACD, Association Beaumarchais, Arcadi Île-de-France, ADAMI e Prefeitura de Paris.

Contos Imorais – Parte 1: Casa Mãe (Contes Immoraux – Partie 1: Maison Mère| 2017)

Maison Mere (Foto: Jean-Luc Beaujault)

Duração: 1h30 min | Recomendação: livre |

Sinopse: O espetáculo foi concebido para a 14ª edição da Documenta de Kassel, realizada em 2017 entre as cidades de Kassel, sede da exposição de arte contemporânea, e Atenas. Partindo dos temas levantados pela mostra – a descentralização da arte, os conceitos de centro e periferia, o papel do artista num mundo em conflito –, a francesa Phia Ménard reflete sobre a identidade e os problemas da Europa de hoje, fazendo um paralelo entre as duas cidades: a alemã Kassel, no “rico norte” europeu, e a grega Atenas, imersa em crises. Sobre o palco, vestida como uma deusa grega futurista, a artista se põe a construir uma estrutura de papelão. Ela remonta ao Plano Marshall (que pretendia reerguer a Europa do pós-guerra), fazendo gestos repetitivos e robóticos nesse esforço de criar uma casa para o continente e seus desabrigados, seus refugiados.

Ficha técnica: director: Phia Ménard and Jean-Luc Beaujault; produtora: Cie Non Nova; cenografia: Phia Ménard; performance: Phia Ménard; música e som: Ivan Roussel; diretores de palco: Jean-Luc Beaujault, Pierre blanchet e Rodolphe Thibaud; figurino: Fabrice Ilia Leroy; diretor técnico: Olivier Gicquiaud; codireção, produção e administração: Claire Massonnet; assistente de produção: Clarisse Mérot; relações públicas: Adrien Poulard; coordenador assistente de turnê: Lara Cortesi.

Tu amarás (2018)

Duração: 1h30min | Recomendação: 16 anos |

Sinopse: O que é um inimigo? Como é construído? O que o define ou diferencia? Como nos relacionamos com o “outro”? Essas são algumas das questões e tensões que surgem entre um grupo de médicos chilenos, ao refinarem os últimos detalhes de sua apresentação para uma convenção internacional sobre preconceitos na medicina. Uma questão contingente que se torna cada vez mais complexa devido à recente chegada dos amenites, alienígenas que tiveram que se estabelecer na Terra. Incompreendidos, marginalizados e temidos, esses seres serão a desculpa para refletir sobre o ódio, o amor e a violência implícita em relação ao “outro”

Ficha Técnica: Direção: Pablo Manzi e Andreina Olivari; dramaturgia: Pablo Manzi; elenco: Paulina Giglio, Pablo Manzi, Guilherme Sepúlveda, Carlos Donoso, Gabriel Cañas; desenho integral: Felipe Olivares e Juan Andrés Rivera (Auditores Contadores); criador da música da peça: Camilo Catepillán; produção: Horacio Pérez; coprodução Fundação Teatro a Mil e Espacio Checoslováquia. Desenvolvido em parte durante uma residência no Baryshnikov Arts Center.

O Pedido (The Claim | 2017)

Duração: 1h15min | Recomendação: 12 anos

Sinopse: Primeira parceria entre o diretor Mark Maughan e o dramaturgo Tim Cowbury, o espetáculo explora as falhas e injustiças dos sistemas de asilo para refugiados. A peça parte da história de Serge, exilado do Congo, que se depara com um oficial de imigração britânico. A conversa, de início simpática e acolhedora, logo se mostra um tanto truncada. Apesar de conhecer a língua do refugiado, o agente parece não compreendê-lo nem deixá-lo contar sua história. Os desentendimentos aumentam com a chegada de uma segunda oficial, que não fala o francês de Serge, e a entrevista do imigrante, com questionamentos burocráticos e interpretações equivocadas. Num tom cômico e absurdo, a narrativa investe na força do texto, repleto de jogos de palavras. Assim, questiona a funcionalidade dos organismos de asilo, presos a um sistema kafkiano – o título da peça, por sinal, é uma referência a O Processo, livro de Franz Kafka–, e discute a nossa falta de escuta do outro.

Ficha Técnica: texto: Tim Cowbury; direção: Mark Maughan; elenco: Tonderai Munyevu, Nick Blakeley e Indra Ové; cenografia: Emma Bailey; design de som: Lewis Gibson; design de luz: Joshua Pharo; produção: Lauren Mooney.

ORLANDO (Instalação vídeo-musical | 2017)

Orlando (Foto: Horace Lundd)

Duração: 60min | Recomendação: livre

Sinopse: Romance de Virginia Woolf sobre um personagem andrógino, que flui entre o feminino e o masculino, ORLANDO é o ponto de partida desta vídeo-instalação, que combina imagens projetadas e música ao vivo dentro de um cenário imersivo, pelo qual o público pode circular. O trabalho, dirigido pela suíça Julie Beauvais, investiga os temas tratados no livro, como gênero e identidade, e questiona quais seriam os Orlandos de hoje, habitantes de um mundo imerso no paradigma pós-binário. Sobre as sete telas que contornam a instalação, são projetados lado a lado personagens de Berlim, Kinshasa, Marfa, Londres, Belo Horizonte, Lisboa, Chandolin e Patagônia, todos filmados por Horace Lundd em cenários externos e etéreos, explorando o horizonte de várias regiões do mundo.

*Após a sessão, os artistas fazem uma conversa com o público

Ficha Técnica: Direção artística e coreografia: Julie Beauvais; direção: Julie Beauvais e Horace Lundd; direção de arte, direção de fotografia e vídeos: Horace Lundd; composição musical e sonoro: Christophe Fellay; cenário: Sibylle Kössler e Wynd van der Woude; criado por Michael John Harper, Orakle Ngoy, Winsome Brown, Carolyn Cowan, Nyima, Diego Bagagal, August Schaltenbrand, Natalia Chami, Valentina Bordenave e Frans W.M. Franssens. Produção BadNewsFromTheStars* e Horace Lundd.

Programação MITbr – Plataforma Brasil

Artista da dança e do teatro, Andreia Pires é a Artista em Foco da MITbr.  Atua como professora do Curso Técnico em Dança e como professora substituta dos cursos de bacharelado e licenciatura em Dança da Universidade Federal do Ceará. Além de seu trabalho de investigação solo, com a cearense Inquieta Cia. investe em criações colaborativas e em trabalhos que mobilizem o meio artístico e a sociedade, que tratem da singularidade e da diversidade dos corpos. Na Mostra, apresenta Fortaleza 2040, seu trabalho de pesquisa com alguns artistas, e PRA FRENTE O PIOR, com a Inquieta Cia.

Fortaleza 2040 (2019) | Andréia Pires| CE

Fortaleza 2040 (Foto: Renato Mangolin)

Duração: 45 minutos | Recomendação: 16 anos |

Sinopse: Partindo de estudos sobre a Constituição brasileira, a bailarina Andréia Pires elabora neste espetáculo o que chama de Constituição Coreográfica Criminosa. A artista investiga de que modo o crime pode ser percebido como prática política discursiva, assegurado por certos regimes de poder, e como o corpo, na produção de coreografia, intervém nessa construção. A obra compreende que a questão do crime emerge de uma estrutura de poder e convivência de um determinado grupo de pessoas, de uma matéria que não é metafísica nem antropológica, mas histórica e civilizatória. Com orientação de Alejandro Ahmed, do grupo Cena 11, o trabalho, que leva o nome de um plano de desenvolvimento para a cidade de Fortaleza, mostra um corpo sufocado que se movimenta de forma incessante e contundente junto a um som metálico. A “coreografia criminosa” se posiciona diante de regras de comportamento e de esquemas de ordem e de progresso levantados por meio da censura e do medo.

Ficha Técnica: concepção, direção e performance: Andréia Pires, Geane Albuquerque e Honório Félix; interlocução, iluminação e intervenção sonora: Alejandro Ahmed; produção: Fortaleza 2040; fotos: Renato Mangolin.

PRA FRENTE O PIOR (2016) | Inquieta Cia | CE

Pra frente o pior (Foto: Eden Barbosa)

Duração: 50 minutos | Recomendação: 16 anos |

Sinopse: PRA FRENTE O PIOR traça um percurso vertiginoso sobre o que significa conviver em sociedade, em especial no atual momento sócio-político do Brasil e do mundo. De mãos dadas, os seis intérpretes movimentam-se cada um a seu modo, formando uma massa amorfa, sempre unida, porém desorientada e desconexa. É como se quisessem caminhar adiante e juntos, mesmo que não cheguem a um destino ou não suportem mais o percurso. Uma espécie de fim de festa, um fim de esperança, mas que não causa paralisia, pelo contrário: no desespero, tenta-se sempre reagir, ainda que se esteja apenas cavando o próprio fim. Fruto do diálogo entre a Inquieta Cia. e os artistas Marcelo Evelin e Thereza Rocha, o espetáculo transita entre linguagens (teatro, dança e performance) e parte de estudos sobre a dramaturgia que nasce do corpo, de seus gestos e expressões, e ressoa além dele.

Ficha Técnica: performers: Andréia Pires, Andrei Bessa, Geane Albuquerque, Gyl Giffony, Lucas Galvino, Wellington Fonseca; interlocução: Marcelo Evelin; colaboração dramatúrgica: Thereza Rocha; Som: Uirá dos Reis; cenografia: Inquieta Cia. e Caroline Holanda; figurino: Isac Sobrinho e Mallkon Araújo; iluminação: Inquieta Cia. e Walter Façanha; projeto gráfico: Andrei Bessa; fotos: Chun, Igor Cavalcante Moura, Éden Barbosa, Rômulo Juracy e Thiago Sabino; produção: Inquieta Cia.

O Ânus Solar (2017) | Maikon K | PR

Anus Solar (Foto: Lauro Borges)

Duração: 90 minutos | Recomendação: 18 anos |

Sinopse: Pequeno escrito surrealista do francês Georges Bataille, O  Ânus Solar serve de inspiração para o trabalho de Maikon K, que cria uma espécie de ritual cênico a partir dos temas tratados no livro – como a crítica ao conceito de civilização e às regras sociais, além de um enfrentamento ao modo como lidamos com o prazer e a morte. O artista transita entre blocos performáticos, teatrais e musicais, trazendo à tona a pulsão erótica contida nos tabus e interdições. Durante a performance, discursos e objetos são utilizados e depois descartados: é como se o corpo, na impossibilidade de ser transcendido ou silenciado, se dividisse e se decompusesse em diferentes vozes e imagens. O performer evoca ainda a escrita surrealista e extática do texto de Bataille, combinando gestos e imagens que, postos lado a lado, perdem ou alteram seu significado original.

Ficha Técnica: concepção e performance: Maikon K; interlocução artística: Patrícia Saravy; luz: Fábia Regina; som: Beto Kloster; figurino: Faetusa Tezelli; cenotécnico: André Baliú; orientação sonora: Iria Braga; vídeo: Tathy Yazigi (captação) e Stephany Mattanó (edição); produção: Corpo Rastreado; fotos: Lauro Borges. Este espetáculo foi criado com apoio do Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro 2015.

Cancioneiro Terminal (2019) | Grupo MEXA| SP

Duração: 80 minutos | Recomendação: 12 anos |

Sinopse: O MEXA é um coletivo artístico que trabalha com pessoas à margem. Em Cancioneiro Terminal, o grupo parte da investigação de fotografias e vídeos produzidos sobre si. Os performers se relacionam com as imagens gravadas e se perguntam com quais delas gostariam de contar a história do seu presente. O grupo atua desde 2015 e, ao longo desse tempo, algumas integrantes desapareceram, outras reapareceram, houve quem tentasse se matar, quem se transicionou, teve uma filha, foi presa, foi internada em um hospital, mudou de país, de profissão, de nome. Essas pequenas histórias, juntas, contam a narrativa sempre processual do grupo, que trabalha a partir de suas próprias vivências transformadas em cena. A cada performance, o MEXA reencena e edita em tempo real um novo filme, através de exercícios de tradução e dublagem. Ao fazer isso, os artistas pensam sobre o que significa ser uma imagem, o que fica quando tudo o mais desaparece e como, sendo um corpo coletivo, caminhar juntos.

Ficha Técnica: direção geral: Grupo MEXA; concepção do grupo: Anita Silvia e Dudu Quintanilha; dramaturgia: João Turchi; direção audiovisual: Dudu Quintanilha; banda: Alessandro Lins dos Anjos, Dourado, Barbara Britto e Giulianna Nonato; performers: Daniela Pinheiro, Ivana Siqueira, Tatiane del Campobello, Patrícia Borges, Yasmin Bispo, Luiza Brunah Wunsch, Fabíola Dummont, Muniky Flor, Roberto Lima Miranda, Kristen Oliveira e Anita Silvia, Alessandro Lins dos, Barbara Britto, Dourado, Dudu Quintanilha, Giulianna Nonato, João Turchi, Lu Mugayar; produção: Lu Mugayar; projeto gráfico: Celso Longo; iluminação: Helo Duran.

Entrelinhas (2012) | Coletivo Ponto Art| BA

Entrelinhas (Foto: Ives Padilha)

Duração: 35 minutos | Recomendação: 18 anos |

Sinopse: Num diálogo entre o passado e o presente, o espetáculo discute a violência contra a mulher e evidencia como a voz feminina (em especial a da mulher negra) é historicamente silenciada dentro de uma sociedade machista e de mentalidade escravocrata. A coreógrafa e intérprete Jaqueline Elesbão costura uma narrativa essencialmente visual, quase sem palavras, que apresenta uma série de imagens e referências históricas. Em cena, a artista traz objetos como uma máscara de flandres – usada durante o período de escravidão brasileiro, para impedir que servos ingerissem alimentos e bebidas, e lembrada na imagem da serva Anastácia, submetida a sessões de tortura enquanto o artefato lhe cobria a boca. Alternando-se entre as figuras de vítima e algoz, Elesbão também expõe elementos religiosos e indumentárias femininas, como o sutiã e o salto alto, símbolos de liberdade e amarra do corpo da mulher.

Ficha Técnica: coreógrafa e intérprete: Jaqueline Elesbão; produção: Nai Meneses; sonoplastia: Anderson Gavião; iluminação: Robson Poeta; confecção de figurino: Luiz Santana.

Gota D’Água {PRETA}  (2019) | Jé Oliveira| SP

Gota d’agua (Foto: Evandro Macedo)

Duração: 3h50 min | Recomendação: 14 anos |

Sinopse: A adaptação de Gota d’Água, musical de Chico Buarque e Paulo Pontes, ressalta as questões raciais embutidas na obra de 1975, que transfere a tragédia de Medeia para o subúrbio do Rio de Janeiro. Se o original discute as implicações sociopolíticas do regime militar brasileiro, então vigente, a releitura do diretor Jé Oliveira enegrece e atualiza a obra: traz um elenco majoritariamente negro, evidenciando o contexto social e racial dos personagens (pobres, moradores de um conjunto habitacional), além de salientar alguns aspectos de religiões de matriz africana e a musicalidade negra – com instrumentos de percussão africana e elementos do hip-hop. Joana, a versão brasileira de Medeia, é uma mulher de meia-idade que se vê abandonada pelo marido, o jovem sambista Jasão, e prestes a ser despejada do apartamento em que vive com os dois filhos. Com a metáfora de uma traição conjugal, o espetáculo realça a discussão racial, social e de classes com base no atual momento político do país.

Ficha Técnica: dramaturgia: Chico Buarque e Paulo Pontes; direção-geral, concepção e idealização: Jé Oliveira; elenco: Aysha Nascimento, Dani Nega, Ícaro Rodrigues, Jé Oliveira, Juçara Marçal, Marina Esteves, Mateus Sousa, Rodrigo Mercadante e Salloma Salomão; banda: DJ Tano (pickups e bases), Fernando Alabê (percussão), Gabriel Longhitano (guitarra, violão e cavaco) e Suka Figueiredo (sax); assistência de direção e Figurino: Éder Lopes; direção musical: Jé Oliveira e William Guedes; preparação vocal: William Guedes; concepção musical e seleção de citações: Jé Oliveira; cenário: Julio Dojcsar; montador de cenário: Jé Oliveira; artista gráfico: Murilo Thaveira; light design: Camilo Bonfanti; operação de luz: Camilo Bonfanti e Lucas Gonçalves; técnico de som e operação: Alex Oliveira; assessoria de imprensa: Elcio Silva; coordenação de estudos teóricos: Juçara Marçal, Jé Oliveira, Salloma Salomão e Walter Garcia; produção executiva: Janaína Grasso; produção geral: Jé Oliveira; fotos: Evandro Macedo e Tide Gugliano; vídeo e edição: Marília Lino; realização: Itaú Cultural; Produção: Gira pro Sol Produções.

Meia Noite (2018) | Orun Santana| PE

Meia-Noite (Foto: Livia Neves)

Duração: 60 minutos | Recomendação: livre |

Sinopse: No espetáculo, a capoeira é tratada como elemento criador e motivador do movimento e também como um ponto de partida para se pensar a memória do corpo negro que dança. Para tanto, o bailarino Orun Santana se inspira na vivência com seu pai, o mestre Meia-Noite, cofundador do Centro de Educação e cultura Daruê Malungo, na periferia do Recife, espaço onde o intérprete cresceu e onde desenvolve trabalhos. Em cena, Santana faz um paralelo entre dois universos. Um, pessoal, de sua relação familiar, entre pai e filho, mestre e discípulo. Outro, social e cultural, dos movimentos e do imaginário político-poético do corpo negro na cena. Dessa forma, o intérprete costura imagens e memórias da dança negra, de danças populares do Nordeste e do corpo brincante, assim como aspectos de sua própria ancestralidade.

Ficha Técnica: intérprete-criador e diretor: Orun Santana; consultoria artística: Gabriela Santana; assistente de direção: Domingos Júnior; trilha sonora: Vitor Maia; iluminação: Natalie Revorêdo; cenografia e figurino: Victor Lima; produção: Danilo Carias (Criativo Soluções).

Recolon (2016) | Coletivo Mona| AM

Duração: 45 minutos | Recomendação: 12 anos |

Sinopse: Os impactos ambientais e humanos causados pelas construções de usinas hidrelétricas na bacia do Rio Madeira, em Rondônia, foram o ponto de partida para o artista manauara Leonardo Scantbelruy criar o solo, primeiro trabalho do Coletivo Mona. O performer manipula elementos simbólicos e regionais para investigar o risco da vida na Amazônia, marcadas por ciclos de colonização. Inspirado pelo trabalho do pintor e escultor Olivier de Sagazan e da coreógrafa Elisa Schmidt, o intérprete utiliza uma pasta de mandioca para se desconfigurar gradativamente e investigar por meio de metáforas corporais o estado emocional e psicológico de um corpo atravessado por um choque ambiental que viola inúmeros direitos.

Ficha Técnica: concepção, direção e performance: Leonardo Scantbelruy; interlocução: Gilca Lobo e Elisa Schmidt; assistência de direção: Francisco Rider; iluminação e sonoplastia: Daniel Braz; figurino: Preta Scantbelruy; apoio: Coletivo Mona, Movimento Levante MAO e Coletivo Difusão.

Stabat Mater (2019) |Janaina Leite| SP

Duração: 1h40 min | Recomendação: 18 anos |

Sinopse: O espetáculo, cuja abertura de processo foi apresentada na edição anterior da MITsp, é parte de uma pesquisa mais ampla de Janaina Leite sobre o real no teatro – agora sob a luz do obsceno. A partir do texto teórico Stabat Mater (em latim, estava a mãe), da filósofa e psicanalista Julia Kristeva, a artista e pesquisadora propõe o formato de uma palestra-performance sobre o feminino, remontando à história da Virgem Maria, ao mesmo tempo em que tenta dar conta do apagamento de sua mãe em sua peça anterior, Conversas com Meu Pai. Acompanhada por sua própria mãe e pela figura de Príapo, personagem para o qual se buscou um ator pornô, ela articula de forma radical temas historicamente inconciliáveis como maternidade e sexualidade. Tendo o terror e a pornografia como bases estéticas, Leite investiga as origens de um arranjo histórico entre o feminino e o masculino, que o trabalho tenta desarmar não sem antes correr riscos e enfrentar os mecanismos de gozo e dor que fixam essas posições.

Ficha Técnica: concepção, direção e dramaturgia: Janaina Leite; performance: Janaina Leite, Amália Fontes Leite e Príapo; participações especiais: Príapo amador (Lucas Asseituno) e Príapo profissional (Loupan); dramaturgismo e assistência de direção: Lara Duarte e Ramilla Souza; colaboração dramatúrgica: Lillah Hallah; assistência geral: Luiza Moreira Salles; direção de arte, cenário e figurino: Melina Schleder; iluminação: Paula Hemsi; videoinstalação e edição: Laíza Dantas; sonoplastia e operação de som e vídeo: Lana Scott; operação de luz: Maíra do Nascimento; preparação vocal: Flavia Maria; provocação cênica; Kenia Dias e Maria Amélia Farah; concepção audiovisual e roteiro: Janaina Leite e Lillah Hallah; direção de fotografia: Wilssa Esser; participação em vídeo: Alex Ferraz, Hisak, Jota, Kaka Boy, Mike e Samuray Farias; identidade visual, projeções e mídias sociais: Juliana Piesco; assessoria de imprensa: Frederico Paula – Nossa Senhora da Pauta; fotos e registro em vídeo: André Cherri; direção de produção e circulação: Carla Estefan; gestão de projeto: Metropolitana Gestão Cultural.

tReta (2018) | Original Bomber Crew| PI

Duração: 50 minutos | Recomendação: 16 anos |

Sinopse: As várias “tretas” enfrentadas diariamente por jovens periféricos, refugiados e minorias em geral foram a base de trabalho do grupo Original Bomber Crew. “Tretas” da política, do patriarcado, do colonialismo e da batalha de breaking que geram embates pela sobrevivência. Os breakdancers, músicos, skatistas e artistas visuais, que criaram e performam o espetáculo, dançam próximo ao público, acompanhados de uma sonoridade metálica, densa e urbana. A violência do Brasil e a realidade de corpos considerados descartáveis mundo afora são expressas nos movimentos com elementos do breaking e do hip-hop. A peça é um conflito, uma explosão, um ato premeditado para envolver o outro.

Ficha Técnica: concepção: Allexandre Santos e Cesar Costa; direção: Allexandre Santos; criação e performance: Allexandre Santos, Cesar Costa, Javé Montuchô, Malcom Jefferson, Maurício Pokemon e Phillip Marinho; concepção musical: César Costa e Javé Montuchô; coordenação técnica e desenho de luz: Javé Montuchô; fotografia: Maurício Pokemon; assistência administrativa: Humilde Alves; direção de produção: Regina Veloso/CAMPO Arte Contemporânea; agradecimentos: Artur, Cleydinha, Neném, Fedó, Jell, Pangu, Pangulim, WG, Gui Fontineles e Marcelo Evelin.  Obra elaborada em Teresina (PI) durante residências de pesquisa e criação na Casa de Hip Hop (2017 e 2018), Espaço Balde (2018) e CAMPO Arte Contemporânea (2017 e 2018).

violento. (2017) | Preto Amparo, Alexandre de Sena, Grazi Medrado, Pablo Bernardo| MG

Violento (Foto: Pablo Bernardo)

Duração: 50 minutos | Recomendação: 16 anos |

Sinopse: O solo de Preto Amparo propõe a descolonização do olhar sobre o corpo negro – isto é, uma mudança sobre essa leitura que, historicamente, ratifica violências. O espetáculo se apropria dessas violências como artifício estético e criativo para rasurá-las, perfurá-las e reconfigurá-las. Utilizando elementos como uma viatura policial de brinquedo, um saco de café e um pacote de pipoca, as cenas se desenham pelo percurso de um jovem negro na sociedade, atingido por abordagens policiais, pelo genocídio em curso e pela hipersexualização de seu corpo. Isso acrescido de elementos urbanos e ritos de passagens contemporâneos. Propondo um diálogo entre a ancestralidade e a vida do jovem negro urbano, o performer produz uma experiência que busca novas possibilidades de se pensar a estética negra no âmbito cênico, artístico e cultural.

Ficha Técnica: atuação: Preto Amparo; direção: Alexandre De Sena; dramaturgia: Alexandre de Sena e Preto Amparo; produção: Grazi Medrado; registro em foto e vídeo: Pablo Bernardo; iluminação: Preto Amparo; preparação corporal: Wallison Culu/Cia Fusion De Danças Urbanas; assessoria de trilha sonora: Barulhista.

ZOO (2018) | Macaquinhos| SP

Duração: 60 minutos | Recomendação: 18 anos |

Sinopse: Uma festa mal acabada, rastros de intimidade pelo espaço e trechos de uma suruba musical carregam o ambiente. O mais recente trabalho do Macaquinhos é uma instalação performativa que desencanta os zoológicos humanos realizados em países colonizadores da Europa durante o século 20. O coletivo continua sua pesquisa que fricciona corpo, política e os limites de linguagens estéticas contemporâneas e utiliza como provocação a pergunta “O que há de Norte em cada um de nós?”. Convidado a criar o trabalho pelo Künstlerhaus Mousonturm e pelo Festival I*mpossible Bodies, na Alemanha, o grupo propõe uma experiência de ressaca colonial compartilhada entre performers e visitantes. É um ambiente sensorial carregado de cheiros e sons, um lugar para expectativas que questiona o que é doméstico e o que é espetacular.

Ficha Técnica: criação, direção e performance: Andrez Lean Ghizze, Caio, Danib.a.r.r.a, Feliz, Kupalua, Luiz Gustavo, Marine Sigaut e Rosangela Sulidade; colaboração artística: Carol Mendonça, Elisa Liepsch e Kontouriotis; produção executiva: Corpo Rastreado; coprodução: Künstlerhaus Mousonturm Frankfurt; apoio: Programa de Residência Artística Obras em Construção, Casa das Caldeiras, Residência Artística Instituto Terra Luminous, Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo e Frankfurt LAB. Agradecimentos: Alessandra Domingues, Guilherme Godoy, François Pisapia, José Fernando Peixoto, Marcelo Evelin, Teresa Moura Neves, Yuri Tripodi e todxs xs participantes do Experimento Milgrau.

Ações Pedagógicas | Destaques

Performer, coreógrafo e pesquisador, João Fiadeiro integra a geração de coreógrafos lusitanos que emergiu no final dos anos 1980 e deu origem à chamada Nova Dança Portuguesa. Suas peças navegam entre disciplinas (performance, dança e teatro), contextos (teatros, museus ou site specific) e formatos (coreografias, eventos ou conferências). Entre 1990 e 2019, foi o diretor artístico do Atelier RE.AL. Nos anos 1990, Fiadeiro desenvolveu e sistematizou a sua própria pesquisa sobre improvisação e composição, chamada Composição em Tempo Real, método com o qual ganhou projeção internacional. João Fiadeiro é o Pedagogo em Foco da Mitsp e fará um Intercâmbio Artístico e também participa de uma Conversa Performática.

INTERCÂMBIOS ARTÍSTICOS

1 – João Fiadeiro (Portugal) – Como não saber juntos: que fazer daqui para trás _in situ

Como explorar o corpo em perigo, os lugares de colisão e as fronteiras do colapso? Como esse corpo reage? Que narrativas emergem dos fragmentos de convívio e de presença? O artista português e pedagogo em foco João Fiadeiro propõe, como se fosse um processo de desmontagem de seu espetáculo O Que Fazer Daqui para Trás, uma intensa investigação performativa sobre o tempo presente e o espaço material, em que diferentes níveis de encontro serão experimentados. Haverá dois grupos de participantes: 16 pessoas já familiarizadas com as artes da cena e 10 pedagogos-observadores, que serão responsáveis pela tessitura narrativa (dramatúrgica, discursiva ou cênica) do processo. No quinto* dia da atividade, o grupo apresentará um experimento cênico.

+ CONVERSA PERFORMÁTICA

O QUE EU SOU NÃO FUI SOZINHO

COM João Fiadeiro (Portugal) e Maria Fernanda Vomero (Brasil)

Trata-se de uma conversa a dois, num formato que se assemelha ao talk-show, pontualmente interrompida por desvios que impedem a sua progressão e adiam sua conclusão. Esses desvios (esses shows), que se fazem e desfazem à medida que a conversa (a talk) se desenrola, geram novos espaços de percepção e relação com o fio condutor do acontecimento, obrigando o espectador a “ir e vir” entre o sentido da conversa e a direção da performance.

2 – Regina Galindo (Guatemala) – O Grande Retorno: nenhum passo atrás

Estar juntas e juntos para discutir urgências, refletir sobre as consequências de bloquear o fluxo natural das caminhadas e das conquistas, lidar com a imposição de um retrocesso. Proibida a passagem: voltem um passo, dois passos, muitos passos para trás. Isso tudo no delicado balanço entre teoria e prática, entre mente e corpo, entre diferentes sensibilidades e modos de habitar o mundo e de lidar com a realidade. O objetivo da atividade é funcionar como uma incubadora de projetos, sob orientação de Regina Galindo: com base no tema “o retrocesso”, os participantes vão debater ideias, gerar pensamentos e abrir possibilidades criativas para que cada um possa realizar seus próprios projetos performativos (cênicos, escritos, visuais etc.). Não haverá trabalho físico coletivo. No primeiro dia, o grupo visitará em caminhada conjunta o Memorial da Resistência de São Paulo.

RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS

1 – Residência Artística – Quarantine (Reino Unido) – Olho no olho: quem consegue ser visível na São Paulo de hoje?

        Diante dos desafios gerados pela complexidade social de uma megalópole como São Paulo, com mais de 20 milhões de habitantes, os experientes e conhecidos artistas do coletivo Quarantine, com 21 anos de trabalho no Reino Unido, estarão em residência artística na MITsp 2020, partilhando suas práticas com artistas locais. A residência resultará numa instalação/exibição performativa com a participação de cerca de 25 não-artistas – pessoas comuns – representativos dos grupos sociais invisibilizados, aqueles cujas vozes tendemos a excluir da chamada arena cultural progressista. Em especial, os indivíduos que se encontram em um espectro ideológico muito distante ou diferente do nosso, e talvez até entre si. A residência Olho no olho: quem consegue ser visível na São Paulo de hoje? criará as circunstâncias para o diálogo e o envolvimento com vozes dissidentes – aproximando-se daquilo que a teórica política belga Chantal Mouffe denomina de “pluralismo agonístico” –, ao reunir pessoas que usualmente não se encontrariam, e desenvolverá uma metodologia para a dissidência, que enfatize potencialmente os aspectos positivos de certas formas de conflito político. A residência pretende estabelecer, assim, um espaço no qual performers, espectadores e demais presentes possam temporariamente confrontar questões propostas pelo grupo.

2 – Residência Artística – Lisandro Rodriguez (Argentina) – Laboratório de Criação e Experimentação Cênica: Teatro urgente – encontro agonizante

        Inspirado na obra do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho – em especial, em seus filmes Jogo de Cena e O Fim e O Princípio –, o laboratório pretende oferecer um espaço de abertura, aprendizado, questionamento, troca e reflexão, buscando a desconstrução constante dos princípios de representação naturalizados para que encenador e participantes encontrem uma linguagem cênica única, poética e pessoal. Dois grupos serão formados, um matutino e outro vespertino, e ambos trabalharão com temas e abordagens semelhantes. Serão realizados dez encontros por grupo, com apresentação conjunta de um experimento cênico no último dia à tarde. Nesses encontros, Lisandro Rodriguez vai trabalhar com questões relacionadas à prática do estar/atuar, a fim de desestabilizar as zonas habituais de interpretação e a ideia mesma de representação. Com base em elementos mínimos e num olhar íntimo e singular para o mundo, os participantes investigarão como construir o espaço cênico e habitá-lo desde outras premissas. Esse laboratório será um período de experimentação e preparação para o espetáculo que Lisandro Rodriguez criará, em conjunto com a MITsp, para a edição de 2021. O requisito mínimo é que os participantes tenham, ao menos, formação básica em teatro e mínima experiência artística.

LABORATÓRIOS DE EXPERIMENTAÇÃO

Como desestabilizar a suposta normalidade que, na verdade, apenas cristalizava mecanismos excludentes e a imposição de formas de vida hegemônicas? Em três atividades independentes, mas interligadas pela provocação de arriscar propostas e formatos, artistas latino-americanas – com apoio de artistas brasileiros de diferentes linguagens – propõem experiências intensivas de criação relacionadas a temas candentes da realidade do continente.
 

LABEXP1

VOZES DESOBEDIENTES – com Lia Garcia [La Novia Sirena] (México) e Meno del Picchia (Brasil)

A performer e slammer trans* Lia Garcia [La Novia Sirena] e o músico Meno del Picchia trabalharão nesse laboratório o quebre da voz e seus fragmentos. A produção vocal das dissidências ganhará o centro do espaço desde o grito, o lamento, o choro e o eco que emana das histórias de resistência. A voz como vocabulário das resistências trans, como matéria de produção afetiva e como memória da dor coletiva. Em cada dia da atividade, será enfocado um conceito diferente:

Dia 1: A ferida – A voz do corpo ferido; o alfabeto das feridas como vestígio da cidade contextualizada.

Dia 2: A cicatriz – O vestígio da ferida (“aqui doeu, aqui curei”); a cicatriz como marca-pegada e como memória cuerpa-afetiva para tecer as resistências e as alianças entre nossas lutas.

Dia 3: A trans*/deformação – A voz como ponta de lança para imaginar novas cuerpas, novos mundos e novas formas de falar nossa dor.

 + Performance

Cicatriz – com Lia Garcia [La Novia Sirena] (MÉXICO)

A ação dispara as seguintes perguntas: qual é a história que conta nossa dor? Como se faz política desde a dor coletiva? As vidas trans* nos doem? Diante do estado de emergência no qual nos encontramos, nós – vidas trans* – nos rebelamos, aparecemos com nossas cuerpas no espaço público e denunciamos todas as violências que mutilam nossa memória.

+ Documentário

Enquanto falávamos sobre performatividades políticas eu ocasionalmente furtava vozes e rostos – uma crítica audiovisual das ações pedagógicas da MITsp

De: Matheus Parizi (Brasil)

 + Roda de conversa

Trans*Pedagogias do Afeto Diante das Políticas de Morte – com Lia Garcia [La Novia Sirena] (México) – Mediação:  Maria Fernanda Vomero (Brasil) 

Nesse diálogo performático, Lia vai partilhar como tem tecido, ao longo de uma década, seu projeto de pedagogia afetiva desde a cuerpa trans* no contexto de México, estabelecendo pontes com a situação do Brasil, como dois pontos de emergência nos quais assassinam a mais pessoas trans* em todo o mundo. Indagações que serão compartilhadas, cuerpa a cuerpa: os afetos são uma aposta política de trans*formação social? Quais poderiam ser as resistências trans* diante das políticas de morte? A experiência trans é uma experiência coletiva?

LABEXP2

MEMÓRIAS INSURGENTES – com Paula González Seguel (Chile) e Eduardo Chatagnier Perez (Brasil)

A encenadora e ativista chilena Paula González e o videomaker brasileiro Eduardo Perez propõem um laboratório de experimentação autobiográfica, no qual os participantes terão a possibilidade de investigar – por meio de entrevistas e do registro de depoimentos com moradores de uma ocupação – memórias, feridas e dores enraizadas em seus corpos. Isso a fim de buscar uma raiz, uma conexão com a terra, com seus ancestrais e as diversas problemáticas sociais e políticas, históricas e contingentes que atravessam seu território (o corporal e o geográfico), concebendo a arte como uma ferramenta profunda de transformação político-social do indivíduo e de seu contexto. O vídeo entra como uma tentativa de capturar o efêmero e transformar o relato em registro palpável e direto.

+ Roda de conversa

Memórias, Raízes e Teatro Mapuche no Chile de Hoje – com Paula González Seguel (Chile) – Mediação: Maria Fernanda Vomero (Brasil)

Como bisneta da machi Rosa Marileo Inglés, autoridade ancestral do povo mapuche, Paula dedica-se ao resgate da memória, da oralidade, da linguagem, da cosmovisão e da cultura do povo mapuche e da defesa dos direitos humanos indígenas por meio das artes cênicas, da música e do cinema com o trabalho da companhia KIMVN Teatro, criada em 2008, da qual é fundadora e diretora artística. Nesse diálogo, Paula partilhará os desafios de fazer arte no convulsionado Chile atual, cujos casos de violações de direitos humanos têm aumentado de modo assustador, em especial os abusos contra o povo mapuche. 

LABEXP3

PRESENÇAS INCÔMODAS: ONDE ESTÁ A REBELDIA? – com Maria Galindo (Bolívia) e Fany Magalhães (Brasil)

O laboratório visa provocar os participantes a repensar o processo criativo para além da institucionalidade da arte e dentro do imenso campo da política. A cada dia, a boliviana Maria Galindo (Mujeres Creando) conduzirá uma sessão teórica e uma parte prática, com apoio da performer e artista visual Fany Magalhães. Serão trabalhados os seguintes conteúdos:

Dia 1 – Voz em primeira pessoa (testemunho; mudez; intermediação)

Dia 2 – Ocupação do espaço público (a rua; o museu; o sistema de arte; a política)

Dia 3 – Que é hoje o político? (construção de metáforas; análise do universo simbólico: quantas camadas têm os símbolos?; deslocamento simbólico; construção de linguagens)

No segmento experimental, haverá tempo tanto para exercícios concretos quanto para preparar objetos criativos que serão expostos performativamente por cada participante no quarto dia da atividade, depois da performance A Jaula Invisível, de Maria Galindo.

MASTERCLASS

Escrever com o cenário – com Philippe Quesne (França)

O encenador francês Philippe Quesne, ao usar um tipo de pesquisa mecânica, cria um laboratório técnico de teatro que modifica as convenções do gênero de maneira inteligente e gera um universo de forma ambígua no qual sonhos e matéria, sons e palavras, fumaça e luz, solidão e grupo se misturam. Tudo converge para validar aquilo que não pode ser dominado, criando – junto com a evidente diversão e risadas – uma sensação de mal-estar, uma necessidade de fazer perguntas e distorcer nossa visão do mundo. Ao trabalhar com o realismo da presença cênica, os atores transbordam o que chama de estágio morto, adaptando-se ao espaço com o desapego e a concentração de alguém preso em seu próprio universo particular. Estranho e perturbador, o trabalho de Quesne, em sua aparente facilidade no movimento e no sequenciamento, destaca as preocupações sobre nossa organização social, nossa capacidade de ser humanas e humanos. A conferência será a oportunidade de descobrir o trabalho do encenador francês e a importância do espaço e definir seu processo de criação por meio de discussões e observação de imagens.

Olhares Críticos

Pesquisadora em Foco dos Olhares Críticos da 7ª edição da MITsp, Janaina Leite é atriz, dramaturga, diretora e pesquisadora de teatro de São Paulo. Integrante do Grupo XIX de Teatro desde a sua fundação e Doutoranda pela USP, desenvolve uma pesquisa prático-teórica sobre O feminino abjeto na (ob)cena contemporânea, é autora do livro Autoescrituras performativas – Do diário à cena e está na programação da MITbr – Plataforma Brasil com Stabat Mater, sua criação mais recente.

Desmontagem de Stabat Mater

Prática comum no teatro latino-americano, a desmotagem é uma desconstrução mais ou menos encenada do processo criativo de um espetáculo. Uma análise crítica, feita por dentro, que expõe questões relativas à criação, desde as bases conceituais do projeto aos dispositivos que materializam as ideias em uma encenação. Após a desmontagem, Janaina Leite vai conversar com o público e as demais convidadas.

O corpo da mulher, suas representações e a coragem da verdade

Conversa a partir da obra de Janaina Leite, entrecruzando perspectivas da psicanálise, filosofia, religião e arte, com:

Ivone Gebara (SP), freira católica, filósofa e teóloga feminista

Vera Iaconelli(SP), psicanalista, colunista da Folha de São Paulo

Priscila Piazentini Vieira (Curitiba), professora de filosofia da UFPR, especialista em Michel Foucault

Laís Machado (Salvador), alarinjó da Plataforma Araká e crítica de teatro

RESIDÊNCIA PRÁTICA DA CRÍTICA

Durante a Mostra, nove críticos-pesquisadores de diferentes estados brasileiros se reúnem e publicam diariamente críticas dos espetáculos e artigos sobre a programação, como os seminários e as ações pedagógicas. É um momento importante para a crítica nacional estar num mesmo espaço-tempo, pois seu papel de identificar, questionar nossos hábitos de compreensão e à luz de interpretações culturais rever as produções, coloca o debate sobre o papel das artes no Brasil e no mundo para além dos espaços cênicos.

O grupo vai fazer dois debates sobre os espetáculos, nos dois domingos da mostra.

Participantes: Clóvis Domingos (BH), Daniel Toledo (BH), Guilherme Diniz (BH), Laís Machado (SA), Michele Rolim (coordenação) (PO), Nathalia Catarina (SP), Renan Ji (RJ), Rodrigo Nascimento (SP) e Wellington Júnior (RJ).

REFLEXÕES ESTÉTICO-POLÍTICAS

Tema: A cultura como direito constitucional e bem comum

Quatro debates, com participantes a confirmar

Políticas públicas para cultura: confrontações ideológicas. Conversa com representantes de diferentes campos e posicionamentos políticos sobre a responsabilidade do poder público na garantia constitucional do acesso à cultura, à vista das diferenças ideológicas e das concepções moralizantes que embasam mecanismos de censura e exclusão.

Contradições no debate da cultura como bem comum.  Conversa com artistas brasileiros de diferentes regiões do país, a partir de uma perspectiva interseccional, sobre práticas da cultura como bem comum no contexto capitalista de estruturação social que naturaliza diferenças de classe, etnia e gênero, definindo complexas partilhas de privilégios e exclusões no campo da arte. Abertura com fala da pesquisadora baiana Carla Akotirene, autora do livro O que é interseccionalidade? (2018).

Democracia em foco: mecanismos de censura. Conversa com juristas da cidade de São Paulo sobre os complexos mecanismos de censura, atravessados por crenças e valores ideológicos de uma sociedade capitalista de formação cristã, patriarcal e colonial, em um contexto de uso da cultura como forma de instituir um regime de exceção, contrário à ordem constitucional de uma sociedade democrática pautada pela garantia das liberdades individuais, dentre as quais, a liberdade de expressão.

 Curadoria na encruzilhada. Conversa com curadoras e curadores das diferentes frentes da MITsp acerca dos desafios e impasses do exercício da curadoria, considerando atravessamentos interseccionais entre categorias de etnia, gênero e classe, diante das relações de poder e das formas de silenciamento e exclusão institucionalizadas.

PROGRAMAÇÃO COM ARTISTAS EM FOCO

Entrevista pública com Tiago Rodrigues

Entrevista pública com Andreia Pires

DIÁLOGOS TRANSVERSAIS

Comentários críticos realizados com pensadores de outras áreas de saber, logo após uma apresentação de um espetáculo, no próprio teatro e em diálogo com o público.

By Heart, de Tiago Rodrigues – Com Jera Guarani, líderança indígena do povo Guarani Mbya, professora de língua e cultura guarani.

O que fazer daqui pra trás, de João Fiadeiro – Com George Matsas, professor do Instituto de Física teórica da UNESP.

Stabat Mater, de Janaina Leite – Com Eliane Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira da USP, tradutora de História do olho, de Georges Bataille (2013) e organizadora da primeira Antologia da poesia erótica brasileira (2015), entre outras publicações.

Pra frente o pior, de Andreia Pires – Com Maria Homem, psicanalista, pesquisadora e professora de Psicanálise, Cinema, Literatura e Comunicação da USP.

MASTER CLASS

“Contra o teatro político”

Palestra com o pesquisador francês Olivier Neveaux, autor do livro Contre le théâtre politique (Paris, 2019) e de Politiques du spectateur. Les enjeux Du théâtre politique aujourd’hui (Paris, 2013), e professor de história e estética do teatro na ENS de Lyon.

PENSAMENTO EM PROCESSO

Conversa com os criadores após uma apresentação de cada espetáculo, no próprio teatro e em diálogo com o público.

  1. Maison Mére
  2. Burguerz
  3. Meia-noite
  4. Entrelinhas

LANÇAMENTO DE LIVROS

Forças de um corpo vazado, de Ana Kfouri. 7Letras e PUC-Rio.

As artes do cover – Performance para além da cópia e do original, de Henrique Saidel. Editora Circuito e POP LAB – Estudos em Filosofia Pop.

Anatomia de uma decisão, de João Fiadeiro

Ovelha Dolly e Zoológico a céu aberto, de Fernando Carvalho. Editora Javali.

Mais informações pelo SITE oficial da 7ªMITsp. (Carta Campinas com informações de divulgação)

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