.Por Verônica Lazzeroni Del Cet.

A perda de um filho – sendo ele ainda recém-nascido – provoca uma angústia muito grande entre as famílias enlutadas. Porém, a falta de apoio a toda a rede familiar, diante desse evento, é também preocupante. Pensando em direcionar a atenção e cuidados, exclusivamente às mães enlutadas, no Brasil, que o projeto ‘Amada Helena’ inicia seus trabalhos.

Semana de luto parental (foto marcio ferraz – divulgação – ongah)

“Fomos uma das primeiras instituições a atender exclusivamente mães enlutadas no país, buscando informações e ajuda inicialmente no exterior e depois de profissionais do Brasil”, explica a fundadora do projeto, Tatiana Maffini.

Ela – que perdeu sua filha, Helena, ainda recém-nascida – sentia na pele e se identificava com o sofrimento das mães enlutadas. “Quando perdi a Helena, percebi que precisava fazer alguma coisa. Durante as 12h que fiquei apenas vendo ela na UTI começou esse sentimento. Uns seis meses após ela falecer, comecei a escrever em um blog tudo o que sentia, como me sentia e a conscientizar a sociedade sobre a falta de leitos de UTI neonatal”, conta Tatiana.

A identificação de outras mães com a dor de Tatiana foi instantânea e idealizadora do projeto recebia pedidos de ajuda e de orientação dos pais enlutados. “Mães de todo o Brasil começaram a se identificar comigo, pedindo ainda que as ajudasse, dizendo estarem perdidas e sem saber a quem recorrer”, completa ela.

Assim, as atividades do projeto ‘Amada Helena’ passaram a oferecer atendimento aos pais enlutados, por meio de informações e apoio. Além disso, Tatiana explica que as atividades ofertadas para esses pais são diversas e todas elas buscam prestar atendimento ao grupo. “Eles podem participar do acolhimento individual com alguma das psicólogas voluntárias, do grupo psicoterapêutico, das oficinas, do espaço da leitura, podem ainda ler nossos materiais sobre o processo de luto, disponibilizados online ou na sede (em Porto Alegre -RS)”, diz ela.

(foto vanessa mibrach – divulgação – ongah)

Ainda é possível a participação em projetos, como exposições culturais, caminhadas, palestras em faculdades ou em eventos. Dentre os eventos que o projeto realizou e ainda realiza, todos eles contam com participação de profissionais da saúde e da área educacional. Através de palestras em escolas ou em hospitais, ‘Amada Helena’ promove o conhecimento sobre o luto parental, além de levar informação para as faculdades, fóruns e encontros de saúde, tudo para atingir estudantes e profissionais da área que podem ainda conhecer muito pouco sobre o assunto.

O projeto – que conta somente com a atuação de voluntários – recebe ajuda tanto em eventos abertos como através do recebimento de materiais específicos, como itens para venda em brechós ou tampinhas. Além disso, terceiros podem ajudar por meio de depósito em conta bancária. “Há voluntários, e apenas voluntários, trabalhando na ONG”, explica Tatiana.

A fundadora da Amada Helena também ressalta que todos os que desejam prestar seu trabalho voluntário precisam antes conhecer a instituição e os projetos, para só depois escolherem onde pretendem atuar.

Há sempre muita coisa que ainda pode para ser feita, mas ‘Amada Helena’ permanece e insiste em cumprir o diferencial que, segundo a entrevistada, torna o projeto tão especial. “O grande diferencial é o amor e o carinho que colocamos sempre e em cada detalhe, as pessoas sempre nos dizem que dá para sentir. Além disso, não há julgamentos ou reprovações, pois o que oferecemos é respeito, carinho, acolhimento, informações de maneira responsável, um lugar seguro para compartilhamentos e troca de experiências”, conta Tatiana.

O projeto promove um espaço de conforto e apoio para pais que lidam com o luto de forma diferente e particular. “O que oferecemos e que mais faz a diferença é um espaço para falar, para ouvir, para aprender, para compartilhar, para observar, para processar o luto de seu jeito e à seu tempo, para fazer qualquer uma dessas coisas ou nenhuma, até mesmo fazer outras coisas que nem sabemos ainda, mas que faz sentido para aquele pai ou aquela mãe em específico”, diz a entrevistada.

‘Amada Helena’ não apenas reivindica um espaço de conforto aos pais enlutados, mas também busca naturalizar a forma como o luto parental é visto e tratado na sociedade. “Ao contrário de hoje, onde há mais abertura para a expressão do luto de pais e mães, no início do nosso trabalho era bem difícil. Há quase oito anos, quando iniciamos nosso trabalho, não havia muitos movimentos que acolhessem ou apoiassem pais enlutados. Os materiais informativos eram poucos e nosso conteúdo era quase todo traduzido do inglês”, explica Tatiana que ainda complementa: “Desde 2016 descobrimos trabalhos como o do LELu (psicoterapia para pais enlutados) de São Paulo, da Rede API (Apoio a Perdas Irreparáveis), de Belo Horizonte e tantos outros, como o movimento Do luto à luta, do Rio, que ajudamos enviando nosso estatuto, pensado e desenvolvido especialmente para se trabalhar com o luto parental, assim como tantos outros que têm iniciado há aproximadamente três anos”.

Em 2018, todos os movimentos e trabalhos acerca do tema uniram-se para a criação do grupo “Humanização do luto parental Brasil”. “Nesse grupo, juntos desenvolvemos ações, eventos coordenados, ajudamos na fundação de outros grupos de apoio, criando e modificando leis, e isso que fez e continua dando força à essa causa”, conta a entrevistada.

E, é através de muito conhecimento e eventos, que o ‘Amada Helena’ vai ensinando acerca do luto parental, até quebrar estigmas criados em nossa sociedade e que ainda perpetuam a falta de informações. “Uma das maiores dificuldades, se não a maior, é o tabu resultado da falta de informação sobre luto. Por se tratar de um assunto doloroso, triste, sobretudo por ser resultante da morte de filho que inverte a ordem natural da vida, ele é pouco falado e muitos estigmas e frases prontas são passadas de geração em geração”, diz Tatiana Maffini. “São muitos pré-conceitos a serem derrubados, e a informação sem dúvida é a chave dessa transformação.”, finaliza a entrevistada.

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