No próximo sábado, dia 14/12, a partir das 14h, será aberta na Galeria de Artes do Goma – Arte e Cultura, em Barão Geraldo, a exposição “Devir-escuro”, de Caio Boteghim.

Boteghim trabalha em seu estúdio atelier (Foto: Raphael Wohnrath) 

Caio Boteghim (1988) é artista plástico e professor. Com formação em artes pela PUC-Campinas (2011), possui uma trajetória de mais de dez anos na qual já participou de diversas exposições coletivas e eventos de grande porte tal qual a Bienal de Gravura. Trabalha principalmente com pintura em óleo, guache e aquarela. Também se destaca por seu trabalho com gravura. 

Um escuro que está 

Em um quarto escuro começamos a andar com uma lanterna em mãos. Jogamos o foco em alguns lugares, vemos algumas coisas e descobrimos um inseto, vivo como nunca. Estava ele ali, muito antes de o percebermos. Saímos do quarto e quando voltamos ele se foi, mas percebemos que alguém deixou um sapato, quase no mesmo lugar. Apesar de agora estarmos familiarizados, não importa quantas vezes voltamos a esse quarto com a lanterna: ele está sempre diferente e a lanterna também. Essa analogia remete à nossa experiência de vida. Mesmo a cidade em que nascemos, quantas vezes ela foi um lugar totalmente diferente? Vamos a uma apresentação de música em uma praça, quando voltamos, ela com certeza não é mais a mesma. Já tentou imaginar uma conversa com você mesmo a dez anos atrás?

Por mais que pensemos conhecer a nós e ao mundo, nossa experiência é coberta por uma penumbra, um manto escuro de desconhecimento. Ou ao menos, podemos almejar na melhor das hipóteses que assim o seja, um devir-escuro que permite uma multiplicidade de sentidos para as situações que encontramos.

O movimento de fazer do escuro uma experiência permite o nomadismo ao pensamento, tanto em seu sentido mais abstrato como perceptivo/corporal. Não o fosse assim, de que imanências o desejo poderia se alimentar? Até uma viagem sem fim por vários lugares do mundo poderia ser só mais uma uma jornada sem fim por vários lugares-cenários do mundo. Triste seria se lugares fossem apenas cenários. Há de se pensar que o devir-escuro também compreende dimensões de realidade que, mesmo tendo pouco acesso, modificam nossa percepção, tal qual o universo, as estrelas e planetas ou a toca de um tatu cavada próxima de nossa casa. Talvez nunca a veremos e nem ao tatu, mas a presença de algo a se revelar permanece.

Essa sensação está presente em toda a obra de Caio Boteghim. Envolta por mistério e muita expressividade, sua poética oferece uma sensibilidade única sobre o mundo reconhecível. Há um nível de atenção, de concentração, de precisão exímia nas figuras que apresenta também manifesta por sua habilidade técnica, porém, sempre há algo intencionalmente deixado em devir, prestes a se revelar. O devir-escuro causa estranhamento, dúvida e, principalmente, o prazer pela curiosidade.

Sua série mais recente sobre bois e vacas, presentes nessa exposição, faz deles criaturas novas a que estamos sendo apresentados pela primeira vez e, no entanto, não há uma nova leitura sobre elas, mas uma ênfase em sua indiferença com nossa presença. A lanterna do artista aponta sempre para os mundos de que ainda não fazemos parte e nem por isso precisam de nós para existir: nos faz questionar sobre um escuro que não é bom ou mau, mas um escuro que é, um escuro que está… ainda bem! (Mathias Reis, 9 de dezembro de 2019)

Exposição ‘Devir-escuro’, de Caio Boteghim

Abertura sábado dia 14/12 a partir das 14h. Visitação até dia 22/12, de terça a domingo das 14H às 22h. Galeria de Artes, Goma – Arte e Cultura: Av. Santa Isabel, 518 – Barão Geraldo, Campinas. Evento gratuito. Após às 22h consulte a programação do Goma Arte e Cultura na página oficial do Facebook.  

Curadoria e arte gráfica: Mathias Reis

(Carta Campinas com informações de divulgação)