Exposição ‘Vestígios’, de Lia Maurer, pensa as inscrições do tempo na imagem

Será aberta na próxima sexta-feira, dia 27/09 a partir das 19h, na Galeria de Artes do Goma – Arte e Cultura, em Barão Geraldo, a exposição “Vestígios”, de Lia Maurer.

(Foto: Divulgação)

Lia Maurer (Paulínia, 1995) é artista visual e formanda em Artes Visuais na PUC-Campinas. Já expôs suas obras em espaços como a academia Anima e o Ciesp. Ganhou 6 prêmios relacionados à sua arte, sendo cinco nacionais e um deles internacional, ficando em segundo lugar no concurso de fotografia do SOS Racismo Madrid. Desenvolveu o projeto de iniciação científica “Modos de ver o tempo: Inscrições na Fotografia” com orientação de Paula Almozara, na qual investiga processos e técnicas sobre a inscrição do tempo na imagem.  Nessa mostra, sua pesquisa desdobra-se sobre imagens que tornam visíveis os rastros do movimento. Ainda que borrões, estes enunciam relações da artista com escalas e proporções do espaço urbano. 

A materialidade da imagem fotográfica em Lia Maurer

(Foto: Divulgação)

“Poucas vezes conseguimos racionalizar as forças pelas quais somos atravessados. Tempo, espaço, luz e gravidade são percebidos simultaneamente pelo corpo. Essas intensidades físicas são evidências pouco abertas a interpretação, pois, não fosse assim, não haveria pontes, prédios e satélites que se sustentassem. Esse pensamento levado à temporalidade também pode ser irrefutável por datação material-formal. Sabemos que a terra surgiu a aproximadamente 4,56 bilhões de anos atrás, junto a isso, temos também evidencias das forças que atuaram em sua formação. Conscientes ou não das forças geofísicas, somam-se a elas outras forças que carregam os sentidos que damos a nossas relações sociais, ambientais, interespécie e que compõe a produção de nossa subjetividade, essas sim, interpretáveis. Para fazer uma fotografia é necessária intimidade com ambos os sentidos de forças. A câmera não tem a sensibilidade dos nossos olhos, então, logo de início, o fotógrafo olha para a luz a partir das lentes de seus olhos e câmera ao mesmo tempo.

Dizia Vilém Flusser que no momento do registro o fotógrafo tem a tarefa de condensar três dimensões (tempo, espaço e luz) em apenas um plano bidimensional (altura x largura). Esse movimento de transcodificação, ou tradução, já refuta qualquer referente com a experiência vivida do corpo, torna-se assim, um resíduo de uma experiência eventual do fotógrafo. O presente já se tornou passado e é irreversível, está para sempre perdido. O que então permanece da experiência? O que fora documentado? A única evidência que podemos pensar nesse sentido seu resíduo material-formal: um filme ou um sensor digital queimado pela luz. As fotografias antigas que nos despertam memórias, não são um movimento de reviver o passado. Apesar de olharmos para elas com essa predisposição, fomos educados visualmente pelo pensamento historicista a entendê-las como fato documental. A cada dia que as vemos estamos interpretando a partir de quem somos no presente. Preservamos nossos afetos e sentimentos para com o passado, mas para acessar a imagem, precisamos utilizar a imaginação para criar uma narrativa ficcional do que aconteceu. É nesse momento, enfim, em que ela se torna potente.

Quando a artista Lia Maurer toma consciência das forças geofísicas e subjetivas que envolvem a sua fotografia ela produz um corpo resíduo, uma materialidade evidente, mas é na imagem que ela passa a tratar de criação. Consciente de que sua ação não tem compromisso com uma memória linear, ela desloca todos os índices de que esta poderia ser sua intenção. Seu enfoque passa a ser então com questões formais artísticas e poéticas tais como cor, composição e movimento, com as quais demonstra muita habilidade. A partir disso, direciona-se a questão estética possibilitando perceber seus trabalhos como observador ativo, ou seja, somos convidados a compor sentidos para suas imagens-vestígio numa experiência presentificada. Nessa exposição, há ainda uma narrativa mais direcionada pela artista sobre seu know-how, na qual temos possibilidade de conhecer seu processo de familiarização com a ação fotográfica composta por cadernos de estudos e dispositivos fotográficos artesanais”.

Texto e Curadoria: Mathias Reis

Arte gráfica: Lia Maurer 

Abertura sexta dia 27/09 a partir das 19h. Visitação até dia 10/10, de terça a domingo das 14h às 22h. Galeria de Artes, Goma – Arte e Cultura: Av. Santa Isabel, 518 – Barão Geraldo, Campinas. Evento gratuito. Após às 22h consulte a programação do Goma Arte e Cultura na página oficial do Facebook.

(Carta Campinas com informações de divulgação)


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