.Por Wilson Gomes.
O Jornal Nacional é, de fato, tão inovador quanto a Globo acha que é. Sob a batuta do intrépido @realwbonner, abandonou o batido “jornalismo investigativo” e o trocou pelo moderno e disruptivo “jornalismo abafativo”.
A prioridade não é desmascarar, fuçar, desconfiar e descobrir, mas encobrir os fatos que insistem em não concordar com as nossas hipóteses.
Assim, se há fatos que que não combinam com a tese que a gente vinha sustentando sobre Moro e a Lava Jato, entra em campo o jornalismo de abafar. Abafar os fatos que, desaforados, resolveram fazer bulllying com a nossa linda teoria. Não no nosso turno de guarda.
As últimas edições do JN são um primor nesse sentido. A Globo praticamente criou o argumento, roteirizou, dirigiu e produziu os dois maiores sucessos de bilheteria política dos últimos anos: a “Saga de Moro, Herói do Brasil” e a “Épica da Lava Jato, a Operação Que Mudou a História do País”.
Depois disso, não importa que os fatos demonstrem que há um escândalo político de enormes proporções em curso, envolvendo Moro e o Ministério Público, a Globo não vai mostrar.
O JN esconde as conversas indecorosas de Moro, Deltan e companhia como gato enterra as fezes: está lá, incomoda ainda, mas Bonner tem certeza de que ninguém está vendo. Rá. E vamos falar do ráqui e do crime cometido contra autoridades públicas do Brasil, que do crime cometido pelas autoridades públicas não carece falar.
Aliás, se Bonner fosse o editor do Washington Post em 1972 não apenas não teríamos o escândalo do Watergate e a desgraça do presidente, como as manchetes seriam “Garganta Profunda comete crime contra Nixon em suposto vazamento” e “FBI mobilizado para prender o hacker que disse que Nixon sabia de tudo”. É constrangedor. (Do Facebook de Wilson Gomes)